Foi uma cena emocionante: passei por uma meninota; ela me sorriu. Voltei e logo a mãe desgastada, a pele amarrotada, os cabelos descuidados se achegou. Saiu daquele beco que une a Praça Rio Branco à General Osório. Naquele fiapo de ruela a que aludi, entram muitos veículos e pouco de calçada sobra para os transeuntes.
Os brinquedos físicos correram para telinhas, salvo os que teimaram em continuar em seus tradicionais formatos: heróis e heroínas, fadas, etc. Antigamente, as pirralhas treinavam, com mais frequência, ser mães com bebês de louça ou de pano. Ocorre-me uma frase do grande escritor Monteiro Lobato que acho fenomenal: “Existe o tempo da boneca e de ser mãe”.
É um treino salutar do instinto. Muitas acariciam o objeto entre os braços, cuidam quais filhos (as) reais. O lúdico tem essa finalidade. “Como se chama? ” – indaguei o nome dado à bonequinha. Joana. Por que Joana e não outro nome charmoso, hoje pronunciado nas pias batismais e cartórios? A mãe se apressou: “É o da avó dela, minha mãe”.
A garotinha começou a chorar convulsivamente. Esqueci os compromissos, procurei uma ponta de batente, onde ambas estavam sentadas. Fiz-me da família circunstante. Soube que a mulher era mãe solteira, a menina filha de pai desconhecido, a avó ficara em casa, cuidada por vizinhos.
E a mãe, procurando acalmá-la: “O homem não vai mexer com sua bonequinha, meu bem”.
A conversa terminou quando a pobre mulher me confessou que a vó fora vítima de um acidente. As pernas eram moles e balançavam; não falava, entrevada numa cadeira de rodas. Uma boneca velha. Dona Joana. O sorriso floresceu nos lábios da garotinha: “Amo vovó”.