O quintal apinhado de fruteiras era saudade. Mudaram-se para um apartamento diminuto. Nele cabia o mobiliário, apertado, deixando um labirinto que conduzia à sala em “l”, dois quartos e cozinha. Na varanda não cabia, sequer, duas cadeiras de balanço. Somente a rede que não permitia fosse balançada. Abria-se a paisagem: edifícios longos, parecendo colados um ao outro. No pequeno apartamento de bairro mediano o casal idoso, na companhia de dois netos que criavam.
Doodlart
Sem espaço, espalhavam roupas, livros sobre as camas, os olhos sempre colados nas mensagens das maquininhas. Pouco trocavam ideias entre si, muito menos com os velhos. Pareciam mudos. Os pais-avós saíam, voltavam, compravam, iam ao banco.
Moondance
Uma tardinha, o toque do celular. Cansados de exercícios virtuais, haviam adormecido profundamente. Alguém foi ao edifício, chamou os rapazes, eles atenderam de mau humor. Os pais-avós haviam sido assaltados numa rua próxima ao edifício onde moravam. Não se ligaram no lamentável evento. Nem perguntaram se os avós estavam bem. Ficaram impassíveis como dois bonecos. Alheios, fora do ar.