Imagine um homem que acredita estar sendo traído pela mulher. Imagine que, quando ela aparece morta, ele é preso e se metamorfoseia. Imagi...
O cinema pelo cinema
É difícil um instrumentista se destacar na música popular: a concorrência desleal com centenas de ótimos e excelentes cantores e cantoras ...
Miles Davis, um visionário
Radicalizando e depurando a proposta sonora do Movimento Armorial, tema abordado em nosso artigo anterior, Ariano Suassuna então abraça o ...
Armorial, um grito de liberdade
Até hoje, muito já se especulou sobre o grande pai da literatura ocidental. Era cego? Foi uma mulher? Era uma única pessoa ou várias? Pouc...
Por que ler 'A Ilíada', de Homero?
Nutro enorme admiração pelo pernambucano Alceu Valença . Para mim, ele é um gênio de nossa música popular. Vem de longa data minha reverên...
Canções com gosto de domingo
No começo, tudo era superstição, lendas e religião. Assim era o mundo antes dos gregos do século VI a.C. Como o milagre se deu permanece a...
O mistério do uso da razão
Sua tecnologia era superior. Seu conhecimento de matemática era mais profundo e abrangente. Os gregos estavam muito aquém dessas civilizações: não sabiam prever eclipses, não tinham a incrível engenhosidade para construir pirâmides, esses colossais monumentos que até hoje intrigam boa parte dos historiadores e arqueólogos.
Muita gente não presta atenção ao inglês William de Ockham – Guilherme para nós —, esse frade franciscano que viveu na Idade Média, entre ...
A navalha afiada de Ockham
Seu pensamento empirista e paroxisticamente moderno para a sua época assume a defesa sem concessões do livre arbítrio, condenando a interferência do Estado ou da Igreja nas ações humanas. Discípulo de Duns Scott
A era moderna da filosofia começou com Descartes, o homem que duvidou de tudo e reduziu nosso conhecimento a uma certeza principal: Cogito...
O que veio depois de Descartes
Depois disso, os empiristas ingleses (Locke, Berkeley e Hume) envolveram-se em processo um tanto destrutivo e arriscado, afirmando que o conhecimento humano
No romance policial, psicológico e filosófico de minha autoria, O Silêncio das Sombras , Petrus Hammer é um investigador que busca soluc...
Um corpo que cai: jogos hitchcockianos
O grande trunfo do mais famoso cineasta sueco de todos os tempos – Ingmar Bergman (1918-2007) – sempre foi o rosto humano. Seus close ups...
Bergman e nossas máscaras
Interessante é que Ridley Scott sempre foi um diretor do tipo “ame ou deixe-o”. É possível gostar, de um modo avassalador, de alguns de se...
Blade Runner: intrigante distopia sobre o destino
Ele definitivamente não está no panteão dos dez ou quinze maiores filósofos da humanidade, mas seu pensamento de inegáveis matizes morais...
A grandeza ainda não reconhecida de Pascal
Quando penso no matemático, teórico político e filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679 — viveu 91 anos!), sempre me ponho a imaginá-lo co...
Hobbes e o homem mau por natureza
Há muitos epítetos que rondaram a carreira do insigne cineasta francês François Truffaut, morto prematuramente aos 52 anos, em 1984, devid...
O olhar genial de Truffaut sobre a infância
pilot_micha Grande compositor popular brasileiro, Chico Buarque se insere em um grupo seleto de nossa música, um panteão onde fi...
Os 50 anos da construção de uma obra-prima
Mas vamos ao que interessa. Clássico irretocável do nosso cancioneiro popular, o disco “Construção”, que neste ano de 2021 completa cinquenta anos de seu lançamento, é o quinto álbum de Chico para a gravadora Philips e traz músicas até hoje cantadas e executas em todos os recantos de nosso país. Feito impressionante é que quase todas as suas faixas foram sucessos, na época de seu lançamento. Mas não foram meros “hits” da ocasião. Devido a sua indefectível qualidade musical e assombrosa lírica, Chico elevou várias músicas deste LP originalíssimo ao patamar de clássicos da música popular brasileira.
Com produção do grande Roberto Menescal, do não menos importante Mazola e de Toninho, “Construção”, com seus pouco mais de trinta minutos de duração, é, inegavelmente, um dos mais importantes discos da história de nossa música. O contexto político do ano do lançamento do álbum (1971) todos já conhecem: o Brasil vivia sob a égide de um regime militar, em que generais se revezavam no poder em Brasília. Marcadamente influenciado em suas orquestrações por Rogério Duprat, o álbum é um petardo que une os ritmos tradicionais de nosso cancioneiro à crítica social e política, com a notória desenvoltura poética de Chico para burlar a censura da época.
Deus lhe pague e a música-título do álbum — que pode ser ouvida ao lado, com seus famigerados versos alexandrinos com rimas esdrúxulas, ou seja, aquelas rimas que ocorrem entre palavras proparoxítonas -, dão o tom da denúncia dos desmandos do contexto político em que vivíamos. Além delas, há a bela melodia de Valsinha , parceria com o poetinha Vinícius de Moraes, o Samba de Orly , verdadeiro hino de vários brasileiros exilados na época, outra colaboração com Vinícius, com a participação do ás do violão Toquinho.
Filho do historiador e grande intérprete de nossa realidade política, econômica e social Sérgio Buarque de Holanda, Chico confirma neste fabuloso disco que é um grande contador de estórias, um artista que consegue transportar para o terreno da música popular crônicas urbanas, detalhes de nosso dia-a-dia, lamentos amorosos, profundas observações sobre as relações entre homem e mulher, lançando um olhar perscrutador sobre a própria condição humana, com um fino lirismo característico de sua obra: é o que ouvimos e sentimos em clássicos como Olha Maria (este com a participação de Vinícius e o gênio Tom Jobim) e Cotidiano.
Marco de uma época que hoje é motivo de chacota e piadas em redes sociais por gente que nunca estudou História do Brasil, “Construção” é um disco único, obrigatório. Os fabulosos sambas e outros ritmos de seu repertório, eivados de ricas harmonias e melodias, mostram que a nossa música perdeu muito em criatividade e inspiração lírica nas décadas seguintes. Será que a democracia não fez bem a nossos artistas?
Se analisarmos a história da humanidade, descontados todo o otimismo gratuito e a perplexidade diante dos avanços da tecnologia nos último...
Sem a filosofia não seríamos o que somos
Você consegue imaginar uma música que, muitas vezes, parece ser guiada pelos silêncios e pausas entre os acordes e notas, e não propriamen...
Debussy e Jobim: uma ponte impressionista
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Bach: O homem música
(Thiago Andrade Macedo)
Seu nome se confunde com a própria arte à qual se dedicou por toda a vida, desde muito pequeno. Há pouco mais de 330 anos, nasceu, um dos mais prolíficos e talvez o maior compositor da música ocidental: Johann Sebastian Bach. O número exato de suas obras é desconhecido, mas o catálogo BWV assinala mais de mil composições, entre elas inúmeras peças com vários movimentos e para extenso conjunto de executantes.
Além de ter sido um dos organistas mais talentosos da história da música (tinha dedos ágeis e velozes e uma habilidade incomum no uso dos pedais do instrumento), o alemão, nascido numa família luterana de longa tradição musical, também foi um mestre na arte da improvisação, o que seria, mutatis mutandis, o equivalente ao que hoje fazem os músicos de jazz. Como ninguém nunca escreveu improvisações, jamais saberemos como eram essas suas viagens alucinantes.
Bach foi bastante produtivo, e não só no terreno da música: teve vinte filhos (haja vitalidade!) – ao menos tomou conhecimento da existência desses. Entre os mais famosos, podemos citar Wilhelm Friedemann Bach, Carl Philip Emmanuel Bach e Johann Christian Bach, os quais também ajudavam o pai na cópia de suas composições musicais.
A vastidão da obra de Bach fica ainda mais evidente quando se sabe que possivelmente metade dela se perdeu ao longo do tempo. Produziu concertos, suítes, oratórios, cantatas, solos para cravo, órgão, flauta, cordas. Apesar de ser protestante, Bach compôs um pequeno número de missas latinas. Revelou-se um gênio na arte da fuga e do contraponto. A fuga era uma espécie de composição extremamente complexa, em geral escrita para quatro linhas ou vozes musicais. Cada melodia é semelhante às outras, mas só começa depois que uma outra já começou. O impressionante é que todas elas soavam bem juntas! Já o contraponto eram duas, três, quatro ou mais linhas melódicas tocadas a um só tempo, produzindo incríveis harmonias.
A música do gênio alemão é universal e vai além do Barroco, estilo musical que cultivou e do qual foi o nome mais importante. A lista de compositores notáveis ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX que demonstraram ter recebido sua influência é extensa: Mozart, Haydn, Beethoven, Brahms, Chopin, Liszt, Wagner, Mahler, Debussy, Ravel e nosso fabuloso Heitor Villa-Lobos (as Bachianas brasileiras são sublimes). Seu alcance foi tão poderoso que reverberou até mesmo na cultura popular: ele se tornou uma imagem icônica, chegando a ser incluído no rol dos santos da Igreja Luterana (sua data é comemorada no dia 28 de julho), tendo sido homenageado como compositor ilustre no calendário da Igreja Episcopal dos Estados Unidos.
O impacto de sua música não mais se restringe à música erudita: vários de seus formatos foram utilizados também na música pop, no rock progressivo e pesado e até mesmo no jazz, por nomes como Dave Brubeck. O melhor de tudo é que, a despeito de muitas de suas composições terem se perdido, um imenso número de obras-primas foi salvo, o que nos permite, até nossos dias, ouvir suas camadas de sons celestiais. A música de Bach, transcende, alimenta e nos põe em contato com as esferas superiores. Ela é a prova inconteste de que, em espírito, o homem não é só miséria.
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Nota: Link para o vídeo sobre a vida e obra do compositor à disposição no canal do arquiteto e bacharel em música, Germano Romero, produzido na Alemanha, em 2016: http://bit.ly/2XyS9Af