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O Pintor do Império Intensa biografia - em substancioso trecho da História do Brasil - cheia de casos curiosos e vívidas historietas, é o ...

O Pintor do Império

Intensa biografia - em substancioso trecho da História do Brasil - cheia de casos curiosos e vívidas historietas, é o que temos em PEDRO AMÉRICO – As Cores do Brasil Imperial, de Lúcio Flávio Vasconcelos – ed. Prismas 2016.

Sem deixar de venerar um minuto sequer seu famosíssimo conterrâneo, o autor jamais nos escamoteia um defeito, sequer, do biografado, o que torna o relato muito e muito convincente.

... e nem sei se aproveitei       I A magia da palavra aflora quando lhe mostro, agora, como a escrita habilita nossa ...

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... e nem sei se aproveitei
 
 
 
I
A magia da palavra aflora quando lhe mostro, agora, como a escrita habilita nossa mente a ver - ao ler - imagens para as quais ela se programa, feito se cada expressão fosse de frames feita, ou fotogramas,

Apesar de parcerias com vários compositores ligados à UFPB – José Alberto Kaplan, Ilza Nogueira , Carlos Anísio e Eli-Eri Moura – e com o...

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Apesar de parcerias com vários compositores ligados à UFPB – José Alberto Kaplan, Ilza Nogueira, Carlos Anísio e Eli-Eri Moura – e com o cineasta Marcus Vilar, do NUDOC, apesar de ter sido tema da monografia da atriz Suzy Lopes para seu bacharelado de teatro da mesma universidade e de ter o painel Homenagem a Shakespeare no auditório da reitoria, não tive formação acadêmica. Esse painel – de 1997 – e meu livro “Zé Américo foi Princeso no Trono da Monarquia”, de 84, em que penso ter demonstrado que “A Bagaceira” – teve (conscientemente ou não) influência do “Hamlet”, me remetem a uma ligação de João Batista de Brito, então do CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes) convidando-me para dar uma palestra sobre Shakespeare num dos aniversários de nascimento e morte do Bardo, 23 de abril.

Eu tinha 13, 14 anos - Sorocaba-SP, 1954, 55 -, quando meu pai me deu um livro chamado Primeiro Encontro com a Arte, de um baiano germânic...

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Eu tinha 13, 14 anos - Sorocaba-SP, 1954, 55 -, quando meu pai me deu um livro chamado Primeiro Encontro com a Arte, de um baiano germânico chamado Karl-Heinz Hansen. Obras-primas de vários museus do mundo - tudo muito remoto - até que dei com o “Autorretrato do Artista com a Barba Nascente”, de Rembrandt, e a informação de que pertencia ao MASP Museu de Arte de São Paulo - a somente... cem quilômetros dali!

Fui palestrante num dos Seminários Internacionais Guimarães Rosa, na PUC Minas, e, a partir de então, comecei a receber e-mails assinados ...

Fui palestrante num dos Seminários Internacionais Guimarães Rosa, na PUC Minas, e, a partir de então, comecei a receber e-mails assinados com codinomes tirados da portentosa galeria de personagens do escritor mineiro, tipo Quelemém, sié Marques, Manuelzão, Fulorêncio, Zé Bebelo ou Miguilim, com mensagens sempre marcadas por enorme entusiasmo pela obra rosiana. Aí um certo Augusto Matraga me tornou sócio da AAMCGR – Associação dos Amigos do Museu Casa de Guimarães Rosa, de Cordisburgo; uma tal de Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins me encomendou – e pagou – um artigo sobre a geografia do conto Sarapalha para a revista Sagarana de Cultura e Turismo; um esquivo Dr. Meigo de Lima – ciente de que eu estava de férias na UFPb – me mandou passagem de ida e volta para aquela área, e – lá – um guia, contratado por um Pacamã-de-Presas, me embarcou numa canoa do

DE “DeuS E OUTROS QUARENTA PrOblEMAS”     Será mais irreal Remédios, la Bella, de Cem Anos de Solidão , em ascensão, num deli...

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DE “DeuS E OUTROS QUARENTA PrOblEMAS”

 
 
Será mais irreal Remédios, la Bella, de Cem Anos de Solidão, em ascensão, num delicado viento de luz, como Jesus, do que Maria, vestida de seda e veludo, levada ao céu com... roupa e tudo? É mais irreal a farra, no Elísio, que se vê pintada em tetos de palácios, com Zeus,

DE “DeuS E OUTROS QUARENTA PrOblEMAS” Gênio, não tenho. Me empenho. Essas palavras me soam como “Os morcegos não são aves, ...

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DE “DeuS E OUTROS QUARENTA PrOblEMAS”


Gênio, não tenho. Me empenho. Essas palavras me soam como “Os morcegos não são aves, mas voam”. Como evitar que o poema seja um rio não mapeado, que a vereda em que você está o cruze... e saia seca do outro lado? Como fazer com que, criado, ele cause a sensação,

Ao ver “Piaf” (“La Vie en Rose”), de Olivier Dahan, com a esplêndida Marion Cottilard, convenci-me de que a genialidade não é dom pra do...

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Ao ver “Piaf” (“La Vie en Rose”), de Olivier Dahan, com a esplêndida Marion Cottilard, convenci-me de que a genialidade não é dom pra donos de biografia sensata. Claro que ter um corpo frágil e passar a primeira parte da vida com a avó paterna – que trabalhava num bordel – marcou sua personalidade e sua visão do mundo. Ao ler o romance “A Corrida Para o Abismo - O Gênio Caravaggio”, de Dominique Fernandez, concluí que o estado de tensão permanente – causada ou não pelo berço – determina a hipersensibilidade geradora da percepção particular dos indivíduos excepcionais.

Venero Shakespeare, por isso prefiro pensar que é seu personagem Macbeth – e não ele — que diz isto:

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Venero Shakespeare, por isso prefiro pensar que é seu personagem Macbeth – e não ele — que diz isto:

'O cargo de Gênio da Raça Brasileira ainda está vago', diz D. Pedro Dinis Quaderna no romance da Pedra do Reino, de Ariano. O fat...

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'O cargo de Gênio da Raça Brasileira ainda está vago', diz D. Pedro Dinis Quaderna no romance da Pedra do Reino, de Ariano.

O fato de jamais termos alcançado o Nobel – nem Suassuna – tem a ver com isso.

Bem,

Tolstoi, Joyce, Borges e Fernando Pessoa morreram sem recebê-lo, o que quer dizer muita coisa. Alguns autores apenas medianos, no entanto, foram premiados, o que nos diz mais ainda. Mas é claro que há uma lista de escritores notáveis que deram ao Nobel uma importância extraordinária. Cito – de memória - Camus, Faulkner, Hemingway, Bergson, Octavio Paz, Gabriel García Márquez, Saul Bellow, Neruda, Beckett, Steinbeck, Gide, Pirandello e Thomas Mann.

... para o início de "1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite" Este meu pequeno quadro em acrílica sobre tela (27 X ...

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... para o início de "1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite"

Este meu pequeno quadro em acrílica sobre tela (27 X 35 cm), de vinte anos atrás, eu o devo à leitura das versões do Evangelho descartadas (consideradas não-canônicas) pela Igreja, quando, no Concílio de Trento, século XVI, decidiu - como dogma de fé - preservar apenas os textos atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João, tudo segundo o proposto por Irineu de Lyon no século II. Li todos os “evangelhos apócrifos” (do grego ἀπόκρυφα - "coisas escondidas"), quando pesquisava pra escrever meu romance “A Verdadeira Estória de Jesus” (ed. Ática, 1979). Na criação dessa pintura, me servi do que há sobre o nascimento de Cristo no “Proto-Evangelho de Thiago”, e - sobre a morte - , no “Evangelho de Pedro.”

Já contei mil vezes como conheci Dom José Maria Pires ( 1919-2017 ), o arcebispo da Paraíba de 1965 a 1995, mas – como o tema exige - lá ...

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Já contei mil vezes como conheci Dom José Maria Pires ( 1919-2017 ), o arcebispo da Paraíba de 1965 a 1995, mas – como o tema exige - lá vem a milésima primeira:

por volta de 73, 74, apresentei aos donos do circo cultural - circo, mesmo, destinado a concertos, teatro, cursos, etc - que havia próximo ao final da Ruy Carneiro - e que eram o maestro Pedro Santos, o escritor Adalberto Barreto e o produtor Eduardo Stuckert - um texto teatral em que os quatro hipotéticos evangelistas (ante um mundo sem líderes, mas em que havia a espera messiânica dos judeus), criavam Cristo, assimilando o melhor do pensamento platônico, que dominava os intelectuais de todo o Império Romano.

Quando, em 1970 - fui transferido pelo Banco do Brasil, da agência de Pombal – onde trabalhara por sete anos – para a do Varadouro, a únic...

Quando, em 1970 - fui transferido pelo Banco do Brasil, da agência de Pombal – onde trabalhara por sete anos – para a do Varadouro, a única em João Pessoa, na época, estava falido. Investira casa, caminhão, o que tinha e o que não tinha no filme O Salário da Morte e perdera tudo. Dando meus expedientes de oito horas no banco, a necessidade de continuar a produzir arte era imperiosa e busquei uma sem custo. Danei-me a criar poemas. Quando tinha uns quarenta, me perguntei “A quem isso pode interessar?” – e botei o livro na gaveta, passando a elaborar o romance “Israel Rêmora”. Lá pelas tantas, no entanto, percebi que os poemas engavetados tinham muito a ver com a prosa que estava fazendo. Foi então que a experiência do cinema me valeu: com tesoura e fita adesiva, passei a literalmente montar os textos em prosa àquela série de versos, que passaram – sem que eu precisasse dizer isso – a ser monólogos interiores de meu protagonista. Como se a cada capítulo narrado por mim, já houvesse um “comentário” do personagem a respeito. Funcionou. Ganhei o Prêmio Fernando Chinaglia com o resultado e o livro saiu pela Record em 75.

"Meu Deus! Preciso me libertar do esboço em que estou esbatido e apagado entre linhas certas e incertas e borrões. Preciso me libertar do mármore em que me sinto preso dentro Inacabado. Mas é que... sou uma espécie de anjo caído resíduo pregado no fundo da gravitação traído e que só se permite contemplar o Cristo sorrindo leve e limpo subindo deixando-me embaixo entre o peso das pedras da tumba e dos soldados. E eu preciso me libertar do emaranhado de fios da rocha bruta e da gravitação pesada para também saltar. E eu preciso me libertar e saltar Mesmo sabendo que como um bailarino serei devolvido ao chão depois da pirueta pela mesma força irreversível que atrai o futuro para o fundo da ampulheta. Mas eu preciso!


Confesso que às vezes eu me sinto como que envolvido num clima de sombras e névoas numa luminosidade trágica pregado ao largo no madeiro com as omoplatas abertas a cabeça caída como um peso morto sobre o peito e fremindo endurecida ao vento meus cabelos e panos se agitando em torno do que foram meus sentidos. Confesso que às vezes eu me sinto sendo levado com choro e passos para a cova dentro de um lençol minhas mãos balançando-se rijas e brancas fora dele eu de olhos fechados pesado anestesiado. Confesso que às vezes eu me sinto como se já tivesse passado por tudo.


Oh céus. Veja como eram louros meus cabelos e como meus soldadinhos de chumbo ainda tinham a esgrima dentro da bainha como eu já andava com a espada dentro da bainha. E veja minha fé cálida e fininha de uma simplicidade suntuosa e delicada cheia de minúsculas anunciações com asas iridiscentes em fundos de ouro cheia de virgens de auréolas filigranadas e véus transcaríssimos. Era a minha fé: fácil sem peso nem profundidade linda como meu sono depois sobre coloridas histórias em quadrinhos! Mas meu avô me mostrou num museu um monstro esculpido da dinastia de Han e me fez entender que aquilo não representava um animal mas a fera que havia nele. Despertou em mim as agulhas mesquitas minaretes aflitos de uma rebuscada arquitetura interior e foi quando a ânsia pelo conhecimento da essência das coisas começou e começou a minha solidão. Foi quando vi o mar e a rocha se encontrando com o estrondo de vagões se engatando mas se desengatando sempre: as coisas adultas e quanto vi Atenas: meu mundo quebrado. Foi quando ingressei na engrenagem que tritura na parede o segmento de reta que vem de Alfa e vai a Ômega onde as rodas denteadas da moenda esmagaram e esbagaçaram meu futuro e meu presente deixando atrás de mim uma trilha de perspectivas destruídas para sempre irrecuperáveis. Foi quando comecei a me sentir insignificante e latente andando anônimo na rua como um Billy Batson ou Clark Kent. Um gênio poderoso sem a coragem suficiente para gritar na rua uma palavra mágica e cabalística que libertaria de mim os poderes dos deuses semideuses e heróis. Um gênio sem a coragem de desatar o nó górdio da gravata desabotoar o colarinho e nu encontrar em mim o super-homem de aço e perfeito que sempre sonhei ser senhor de meus próprios caminhos. Meu avô me disse que o Sol foi adorado como um deus imaculado... até que nele também se descobriram manchas. E que a Terra teria vindo dele há muito tempo trazendo consigo em estado latente nossa indústria pesada e o esoterismo nossas guerras pestes crimes o ateísmo cristianismo estas três palavras e o último assassinato que vi na imprensa. E penso que talvez a Terra tenha saído justamente de uma daquelas manchas solares que a roseira arranca do chão e expurga em explosões de espinhos e de espinhos até conseguir a pureza de suas rosas brancas e rosas. Talvez sejam esses Cristos sangrentos cuspidos com as cabeças enroladas de espinhos que eu vejo em minha casa e em todas as igrejas nossos retratos de Dorian Gray realmente “carregando nossas iniqüi dades e sendo esmagados por nossos crimes”. Agora eu olho o Sol e penso em quantos pelo sentimento de culpa se afligem. e que talvez sejam esses Cristos suas roseiras mentais tentando expurgar suas manchas de origem.


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NOTA
Do livro "Israel Rêmora ou o Sacrifício das Fêmeas", Editora Record 1974, Prêmio Fernando Chinaglia

Quando, com salário insuficiente, trabalhei também com publicidade, colecionava publicidade impressa. Um anúncio dos anos 70, 80, reco...

Quando, com salário insuficiente, trabalhei também com publicidade, colecionava publicidade impressa. Um anúncio dos anos 70, 80, recortado de uma revista Visão ou Veja, me chamou atenção: o da nova Olivetti – máquina de escrever a caminho do computador - , em que essa provocativa chamada “O que eles tinham que você não tem?” vinha com retratos de Einstein, Leonardo e Freud.

Resposta:

Hitler imaginou um Terceiro Reich de Mil Anos. Durou doze. Francisco, il Poverello d´Assisi : O Pobrezinho de Assis - , ao voltar da...

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Hitler imaginou um Terceiro Reich de Mil Anos. Durou doze.


Francisco, il Poverello d´Assisi:
O Pobrezinho de Assis - , ao voltar da peregrinação à Terra Santa, deu com sua ordem religiosa burocratizada, dotada de cofres-fortes e arquivos. Perdera-se o fundamental voto de pobreza e o despojamento absolutos que pretendera estabelecer.


Vi Caetano cantando langorosamente, em 74, que: “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensa...

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Vi Caetano cantando langorosamente, em 74, que:

“O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar...”

Impressionou-me a beleza que de repente eu via na letra de uma canção que passara a infância (final dos anos 40, começo dos 50) ouvindo, mas executada aceleradamente por seu Zé Salles, meu vizinho mineiro, lá em Sorocaba, acompanhado, na rede, pela própria viola, à maneira – evidentemente – da “Felicidade” de Lupicínio Rodrigues, na gravação do Quitandinha Serenaders, 1947.


Do mesmo modo, Roy Lichtenstein ampliou em óleo sobre tela um quadrinho de gibi (com texto e tudo) desenhado por Lyonel Feininger para uma das tiras diárias do “Chicago Tribune” e isso mudou tudo. O quadrinista – ao ver a fama angariada pelo outro com a peça - alegou-se lesado. Mas críticos de peso caíram em cima dele, como Giulio Carlo Argan, que explicou:

"Lichtenstein isola uma dessas imagens de comunicação de massa mais consumidos (na época sem nenhuma pretensão a obras de arte) e a reproduz à mão, ampliada. Retira-a, assim, do ‘consumo’ normal, olha-a pelo microscópio, reconstrói seu tecido (na prática, o ‘retículo’ tipográfico), utilizando uma técnica gráfica e pictórica. Com isso, recupera a imagem arquetípica, produz uma retroversão dela, da serialidade ao unicum, de uma tecnologia industrial a uma técnica artesanal, antecipando a descoberta de um conhecido teórico da informação, McLuhan: a de que a verdadeira mensagem é o medium".


Já em outubro de 1608, o óptico holandês Johann Lippershey entregou ao governo de seu país uma luneta de longo alcance destinada ao uso da marinha, informando que o aparelho fora inventado por ele, por James Metius de Alkamaar e por Zacharias Jansen.

Você seria capaz de repetir esses três nomes agora? Não, mas é claro que conhece — e muito — o de Galileu Galilei que, dois anos depois, pegou o fabuloso instrumento e revolucionou a ciência... virando-o para o céu! Só isso? Bem, ele deu uma guaribada no bregueço... e bolou mais outros babados, deixando a trinca holandesa mais ou menos como o cientista da anedota ao dizer numa entrevista, revoltado: “Quem inventou o limpador de para-brisa fui eu. O americano só fez botá-lo do lado de fora!”

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Copérnico já falava em heliocentrismo, mas escondera a conclusão com medo da Igreja, enquanto o mesmo Galileu do telescópio – apesar de medo igual - PROVOU (ao descobrir, com esse bendito aparelho, quatro luas em Júpiter) que a Terra não é o centro do universo.

Todo mundo se surpreende com o fato de que Santo Agostinho escreveu o seguinte, mil e duzentos anos antes de Descartes: “Os céticos estão redondamente enganados, pois para que eu duvide de qualquer coisa, ou de tudo... é preciso que eu exista. Dado que o fato de eu existir é uma verdade que conheço com absoluta certeza, é falso dizer que não podemos conhecer nada ou que é impossível para nós ter certeza de qualquer coisa”. E se estivesse redondamente enganado? Ele completa, genial:

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Como se explica, então, toda a fama do filósofo francês pela frase “Penso, logo existo?” É o mesmo problema de Feininger e seu quadrinho, que Lichtenstein ampliou.

Bertrand Russell:

"É que Santo Agostinho não deu destaque a seu argumento, e o problema que tentava resolver com ele ocupou somente uma pequena parte de seus pensamentos. A originalidade de Descartes, portanto, deve ser admitida, embora consista menos em inventar o argumento que em perceber sua importância."

Jacopo della Quercia, escultor, participou do concurso — vencido por Ghiberto — para a reconstrução das portas do batistério de Florença. Ninguém dava a esse artista másculo de Bolonha – nessa, nem em qualquer outra ocasião — a importância que ele merecia... a não ser o jovem Buonarroti, no século seguinte, que lhe estudou os trabalhos, a concepção escultural maciça, a vitalidade plástica... e se tornou... Michelangelo.

Colombo morreu em 1506 SEM SABER QUE DESCOBRIRA UM NOVO CONTINENTE, catorze anos antes – 1492. Pensou que descobrira o tão buscado caminho das Índias. Por isso até hoje nossos apaches, aztecas e guaranis têm o nome de “índios”. De sua... gigantesca bobeada... se deu que a terra descoberta acabou recebendo, em 1507, o nome de América, numa indevida homenagem ao AMÉRICO Vespúcio, que sacara um “Mundus Novus” no que vira em suas viagens bem posteriores.

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O espanhol Vicente Yánez Pinzon descobriu o Brasil em janeiro de 1500, quando chegou ao Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco, a que deu o nome de Santa Maria de la Consolacion. DETALHE: como o gigantesco território estava dentro das 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde – área portuguesa, portanto, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, de 1493 – seu feito foi tornado sem efeito. Mas é claro que Cabral não veio bater aqui devido a uma “calmaria”.

O movimento artístico internacional Naturalista, que – revolucionariamente - deixara a Arte acadêmica dos estúdios vigente no final do século XVIII, e partira para o plein air – a pintura ao ar livre — servindo-se, inclusive, da fotografia para suas belíssimas criações, foi atropelado pelo escândalo do Impressionismo, depois cubismo, abstracionismo... e desapareceu nos sótãos e porões das galerias e museus de toda a Europa. Daí que... pobre do grande Pascal-Adolphe-Jean Dagnan-Bouveret, pobre do grande George Clausen, pobre do grande István Csók, pobre do grande Frans van Leeputten, todos literalmente apagados por Picasso, Kankinsky e Renoir.

Pascal Dagnan-Bouveret

Alfred Russel Wallace, em fevereiro de 1858, escreveu um ensaio no qual praticamente definiu as bases da teoria da evolução. Mas... o enviou a Darwin, com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação do mérito de sua teoria. O outro tratou de terminar e expor rapidamente a própria teoria, A Origem das Espécies, que foi publicada no ano seguinte, escanteando o amigo.

Johan Georg van Soldner publicou em 1804 uma obra em que defendia que os raios de luz têm corpúsculos e estão sujeitos ao efeito da gravidade, como já o suspeitava Newton. Levando a ideia avante, estimou um desvio angular de 0,84” da posição relativa das estrelas próximas ao contorno do disco solar, teoria que foi – pelas limitações da época – incapaz de provar. Em 1919, conseguiu-se isso - com uma correção para 1,75º - durante um eclipse total na Ilha do Príncipe, e quem levou a fama foi... Einstein.

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Mas toda regra tem exceção: após a II guerra mundial, um musicólogo de Milão, Remo Giazzoto, pesquisava para uma biografia de Albinoni, quando, ao analisar antigos manuscritos dele, na biblioteca de Dresden, descobriu uma única linha de música para contrabaixo e alguns acordes para violino, que seriam de uma sonata sacra. Desenvolveu uma peça para órgão e cordas, e eis... o Adágio... de Giazotto, que TODO MUNDO CONHECE como Adágio de Albinoni.


Há um discurso shakespeariano antológico, proferido pelo jovem rei da Inglaterra, Henrique V, nos momentos que antecedem a Batalha de Agincourt, ocorrida nos pântanos ao norte da França no dia de São Crispim Crispiniano de 1415, insuflando seus seis mil ingleses contra os vinte e quatro mil franceses, que foram derrotados... pela retórica? Sim, na versão de Shakespeare. Mas... Não: na verdade foram vencidos pela lama que lhes retardou a cavalaria, que assim se expôs a uma... novidade inglesa: a saraivada de flechas dos arcos longos galeses — longbows —...que a versão cinematográfica de Laurence Olivier romanticamente omitiu, a de Branagh — pragmaticamente — não.


Pedro Américo e seu irmão Francisco Aurélio pintaram Tiradentes como um sósia de Cristo. Mas andei vasculhando o processo para uma possível peça teatral em cima do mártir da Independência e soube: o mineiro era estrábico e estava com a cabeça raspada pra execução.

Como escapamos de tanto desvio de informação?

Em 2014, o suicídio de Philip Seymour Hoffman e de Robbin Williams — atores de quem eu gostava muito, principalmente o primeiro —, confirm...

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Em 2014, o suicídio de Philip Seymour Hoffman e de Robbin Williams — atores de quem eu gostava muito, principalmente o primeiro —, confirmou-me que fizera bem de desistir do cinema no final de 2010, depois de uma overdose de participações que começara com os longas pernambucanos O Som ao Redor - de Kleber Mendonça Filho - e Era uma vez eu, Verônica – de Marcelo Gomes — seguindo-se, aqui em João Pessoa, com uma ponta no capítulo-piloto de um seriado de Carlos Dowling - Arte e a Maneira de Abordar seu Chefe para Pedir um Aumento –, terminando, no sertão, com o curta Antoninha, de Laércio Filho.

      A História tem ética e estética, poética frenética da Bíblia , Ilíada, do itálico De Bello Gallico , d´ Os Sertões , Camões ...

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A História tem ética e estética, poética frenética da Bíblia, Ilíada, do itálico De Bello Gallico, d´Os Sertões, Camões e do Vieira dos Sermões, passando – com enorme jogo de cintura - por toda a grande literatura, tudo ... parte do cômico, épico, lírico, dramático, risonho, claro, coletivo, erótico, herético, hermético, tristonho sonho,

de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA , ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – ...

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de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA, ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – Rio 2006. Apareceram, primeiramente, mil deles, na coluna Contos Reais, do hoje extinto jornal O Norte. Ao sentir falta de tragédias contemporâneas nesse meu novo livro, selecionei 126 dessas histórias colhidas na imprensa da época. Em 2011, quando completei 70 anos, um grupo de compositores liderados por Eli-Eri Moura, criou a CANTATA BRUTA (com orquestra, coro, solistas e narradores ), a partir de uma pequena seleção deles. Aqui vai uma amostra maior:

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Viajando para São Paulo em seu próprio carro - dez minutos depois de deixar a casa de uma tia em Moji das Cruzes, numa noite chuvosa de domingo - o equilibrado Luiz Augusto Andrade Keller, 21 anos, bancário, estudante de direito, começa a sentir uma ansiedade injustificável, uma estranha sensação no estômago e que evolui para a taquicardia, o sufocamento, a sede incontrolável, o desespero. A coisa é tão forte, que ele abandona o carro e sai correndo pelo acostamento da estrada. Resgatado por amigos, submete-se a uma bateria de exames clínicos que nada revela de anormal. Mas o fenômeno o afeta muito. E passa a se repetir. Só dois anos depois da crise inicial, entretanto - quando já não consegue mais sair de casa - descobre que aquilo tem um nome: Síndrome do Pânico.
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1994. Iracema Soares - 38 anos, separada, um filho, empregada doméstica salário mínimo, vivendo em Rio do Sul, interior de Santa Catarina - pede dinheiro emprestado e viaja 800 quilômetros de ônibus até São Paulo. É a primeira na fila para ver o ídolo - Ayrton Senna - morto.
- Ele era o único orgulho que eu tinha - revela - A minha vida não é para se orgulhar - acrescenta - A minha vida é muito dura.
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Deitado em seu leito de hospital, o psiquiatra canceroso Richard Faw - 71 anos - em estado terminal - tem três agulhas espetadas no braço, ligadas a três garrafas de soro contendo substâncias mortíferas. Em seu colo, a tela de matriz ativa de um laptop exibe a mensagem:
“Se você teclar o botão com o SIM, uma injeção letal o matará em 30 segundos.
Quer prosseguir?”
45

O pessoal do garimpo na selva amazônica, em Trombetas, no Pará, tem a mania - nos domingos - de beber, deitar na rede, sentir um vazio por dentro, empunhar o revólver, ficar atirando à toa para o chão - pei pei pei.
É o vacorado.
48

O vulcão Ruapehu, numa das ilhas do norte da Nova Zelândia (entre as cidades de Auckland e Wellington) já há quatro dias arremessa rochas incandescentes, lava e vapor a até 3.000 metros de altura, com ameaçadoras colunas de cinza tingindo o céu de tons catastróficos, depois caindo em forma de chuva negra sobre um terremoto de 4.9 na escala Richter. Por isso os vôos estão suspensos, as estradas fechadas, decretado estado de alerta numa área de 100 quilômetros ao redor. Mas quando o Ministro da Defesa fica sabendo que a previsão é de que a erupção pode durar meses, ordena o fim das interdições:
- Temos de aprender a conviver com isso!
53

“Ao voltar do desmaio, vi que estava sozinha no Parque Aliança, assaltada e estuprada. Minha bolsa e meus documentos estavam espalhados no chão, mas não peguei nada. Saí dali descalça, a roupa rasgada, e comecei a pedir socorro. Ninguém me ajudou. Essa é mais uma dor que tenho no peito: as pessoas passavam, eu pedia socorro, ninguém me olhava”.
54

A radioterapia debilita Pedro Collor, em Nova York. Quatro tumores malignos no cérebro, um coágulo no pulmão. Ele emagrece, os seus cabelos caem, sua cabeça cobre-se de feridas, o lado esquerdo do corpo paralisa-se, ele usa um fraldão para evitar que se suje.
Quando lhe contam, por telefone, que Fernando foi absolvido pelo Supremo, repete, com voz pastosa:
- Ótimo... Ótimo... Ótimo... Ótimo...
55

Arnulfo Arias é eleito presidente do Panamá em 1940 e derrubado em 41. Eleito novamente em 48, é deposto em 49. Reeleito em 68, troca os comandos da Guarda Nacional e adverte os militares de que, daquele momento em diante, estarão recebendo e acatando ordens de prefeitos e governadores. No dia seguinte está refugiado na Zona Americana do Canal do Panamá, enquanto o coronel Omar Torrijos toma o poder “para evitar uma ditadura”.
58

O veterano da Segunda Guerra espancava os filhos. Sua mulher era viciada em remédios pra dormir. O menino mais velho tinha surtos psicóticos, era dependente de remédios e - depois de ver que tinha passado os 50 anos de sua vida trancafiado em casa sem sexo - suicidou-se. O mais novo gostava de molestar sexualmente as mulheres nas ruas de São Francisco e - quando estava em casa - meditava numa cama de pregos. O filho do meio - Robert Crumb - foi pra França, tornou-se o desenhista guru da contracultura, famoso nos anos 60 e 70 por suas histórias em quadrinhos de traços sujos, humor corrosivo, roteiros que falavam de sexo, drogas e incesto.
63

Texas, 1992. Steven Allen Butler - engraxate negro de 28 anos, casado, pai de um menino - cumpre em liberdade sentença por ataque sexual a uma menina de 7 anos, quando estupra outra, de 13. Ameaçado de pegar prisão perpétua, propõe castração como alternativa. Com a concordância da família da segunda vítima e da mulher de Butler, o juiz fecha a transação.
64

Levado ao cemitério de North Lauderdale, Flórida, pelo programa “Aconteceu Assim”, da Rede Telemundo - para um depoimento diante do túmulo de sua filha que se suicidara grávida aos 15 anos - Emílio Nuñez é surpreendido pela aparição da mãe da menina - Maritza Muñoz - de quem está separado. Aos gritos, ele corre para o carro, apanha a pistola, dispara 12 tiros na ex-mulher e foge. Tudo diante da câmara da TV.
65

Bombardeadas há catorze meses pelos sérvios, multidões lotaram o teatro da capital para escolher a Miss Sarajevo Sitiada 1993. À vencedora - Imela Nogic, 17 anos, com cicatrizes de estilhaços de bombas nas pernas - perguntou-se sobre seus planos para o futuro. E ela:
- Não tenho.
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Janeiro de 1994. A maioria dos americanos acompanha o julgamento de Lorena Bobbit - a manicure equatoriana que cortara o pênis do marido - transmitido ao vivo pela CNN . A certa altura, entretanto, suspende-se a reportagem para mostrar imagens - também ao vivo - do Presidente Clinton com o chefe de governo ucraniano Leonid Kravchuk, para uma notícia importante: a terceira potência nuclear do planeta concorda em abrir mão de seu arsenal atômico. Quase 600 telespectadores ligam para a emissora, protestando contra a interrupção.
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Francis Rech Aguiar, campeão estadual na categoria infanto-juvenil de tae-kwon-do, tem vergonha de sua arcada dentária e dá entrada no Hospital Saúde, em Caxias do Sul, para ser submetido à extração de um dente incluso, com anestesia geral. A cirurgia não demorará mais que uma hora, segundo o cirurgião-dentista . Demora três. E Francis sai dela tetraplégico, em coma.
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O carpinteiro espanhol Albert Contijoch - testemunha de Jeová - nega-se a prestar serviço militar no regime de Franco e é condenado a um ano de prisão, com reapresentação obrigatória no próximo período. Aí ele repete a recusa e é condenado novamente, coisa que acontece outra vez no ano seguinte, pelo que acaba amargando um total de 11 anos atrás das grades, só sendo deixado em paz quando passa para a reserva.
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O advogado Nivaldo Miranda - diretor de recursos humanos do Grupo Rui Barreto - comanda um processo de enxugamento, nesse conglomerado de empresas, que reduz o quadro de pessoal de 1.100 para 600 empregados. E é demitido.
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Bosko Brckic - sérvio - e Admira Ismic - muçulmana - vivem juntos há 9 meses, em Sarajevo - capital da Bósnia. Com a eclosão da guerra entre seus clãs, decidem fugir. São derrubados por uma rajada de balas ao cruzarem a Ponte Vrbana - entre a área sérvia e a muçulmana. Bosko morre na hora, Admira arrasta-se até ele, abraça-o, falece logo depois. Os corpos ficam ali, enlaçados, durante 6 dias.
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Dona Laura Oliveira Rodrigo Octávio - 100 anos - que todos os verões deixa o confortável casarão de Botafogo (com seus 4.000 livros) e vai para a chácara da família no Alto da Boa Vista - vizinha do Morro Dona Marta, um dos mais violentos do Rio - tem um jeito de driblar o medo que os tiroteios provocam nos moradores da região:
- Se estiver com meu aparelho de surdez, eu tiro.
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O estudante Roberto Peukert, 25 anos, ao ser advertido pela mãe por ouvir música em alto volume, mata-a, mata o pai, os três irmãos, enfia os corpos num automóvel, cobre-os com um cobertor e abandona o veículo a dois quilômetros de sua casa.
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Ana Lídia - 7 anos - é sequestrada no Colégio Madre Carmen Salles, quase em frente ao bloco onde vivia com a família adotiva, em Brasília.
Na manhã seguinte, naquele mesmo lugar, seu corpo é encontrado parcialmente coberto de terra, os cabelos cortados irregularmente, marcas de gilete e de unhas nas costas, mordidas no peito, manchas roxas no rosto.
Causas da morte, segundo o laudo do exame cadavérico: “Asfixia por sufocação, lesões vulvovaginais e retais causada por um objeto de borracha, e sevícias posteriores”.
No corpo da menina e nas imediações, três tipos de espermatozóides.
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1995. Cresce a chuva ácida na Europa, mesmo depois de as emissões de enxofre pelas fábricas do continente caírem 30% desde 1980. As imagens captadas pelo sistema Lidar - um radar que lê ecos de raios laser em vez de ondas de rádio - revelam: há uma gigantesca nuvem de compostos de enxofre - de 2.400 quilômetros de extensão - espalhando-se sobre o Atlântico a partir da costa dos Estados Unidos, rumo ao Velho Mundo.
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Às 9 e 10 da manhã do domingo, todos ainda dormem quando o atormentado Passos desce à garagem, coloca a guilhotina sobre uma bancada, abaixa as calças , posiciona-se, reza... e solta a lâmina.
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Noite de domingo, 1994, num sobrado do bairro do Tatuapé, São Paulo. O bancário Anderson Suganuma, 17 anos, mostra o Taurus 38 ao amigo Antonio Carlos Alves Iaquinto, e diz: - Veja como eu costumava assustar meu primo.
Descarrega cinco balas no outro, deixando a sexta na arma, que leva à cabeça, apertando o gatilho.
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Para comemorar o dia internacional de luta contra as drogas, 262 tribunais espalhados pela China julgaram 1725 pessoas acusadas de tráfico de entorpecentes. Quase 800 foram condenadas à morte. Desse total, 200 receberam o tiro na nuca antes do pôr-do-sol, com o preço das balas cobrado da família dos condenados.
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Fernanda, 12 anos, está indo para a escola da Fazenda Serrinha, a 38 quilômetros de Goiânia, Goiás, quando é atacada por Vicente e João Maria - dois conhecidos da família dela. Arrastada para o matagal, é estuprada, degolada, o sangue recolhido de seu pescoço conservado durante quatro dias numa geladeira e depois bebido com farinha, azeite-de-dendê e cachaça, num ritual realizado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, comandado pelo pai-de-santo Edmilson Barbosa da Silva, para livrar João Maria da impotência sexual.
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O pintor norueguês Edvard Munch vinha caminhando com amigos sobre uma ponte, quando foi surpreendido por um pôr-de-sol de devastadora beleza. “Léguas de fogo e sangue se estendiam sobre o fiorde negro-azulado.

Meus amigos seguiram caminho e eu me detive apoiando-me no corrimão, tremendo de medo”
Levou dois anos para conseguir transformá-lo no quadro “O Grito”.
102

15 anos, moreno, franzino, cabelos encaracolados, ele aperta a campainha da casa de Paulina Biernack - de 74 - em Curitiba. Ela atende, leva alguns tiros de calibre 22 e morre.
O rapaz é preso pela qüinquagésima-sexta vez quando, sem acompanhamento musical, dança freneticamente, sozinho, numa rua da turbulenta favela do Valetão.
105

Durante nove dias Susan Smith derrama lágrimas na televisão americana, implorando pela vida de seus filhos Alex - de 1 ano - e Michael - de 3 - seqüestrados durante um assalto. A verdade sobre o crime é logo conhecida: a mãe confessa ter jogado o carro dentro de um lago, com os filhos presos no banco de trás, para agradar o namorado, que não gosta de crianças.
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Daniela Teixeira, 19 anos, estudante de publicidade, assiste ao documentário “Faces da Morte I” e se encanta tanto com a cena da cadeira elétrica, que a vê três vezes. O condenado tenta livrar-se das amarras quando lhe danam a descarga de 2.000 volts, uma secreção gelatinosa lhe escapa da boca e escorre um filete de sangue de seus olhos vendados.
- É nessa hora que vibro - diz Daniela - Quando jorra sangue é demais!
108

Stella Bizerian, 69 anos, não consegue entrar em casa, em Worcester, Massachusetts, porque a fechadura está coberta de gelo. Vai pedir ajuda à vizinha, mas ela não abre a porta com medo de assalto. Stella morre congelada na rua.
111

Radovan Karadzic - líder sérvio responsabilizado pela execução de milhares de croatas e pelo estupro utilizado como arma de guerra e pela expulsão de milhões de cidadãos de suas casas, na Guerra da Bósnia - leva um convidado até um posto de artilharia, numa colina acima de Sarajevo, e lhe oferece a oportunidade de dar alguns cachonaços na cidade.
O convidado atira até se fartar.
114

A inglesa Mary Flora Bell - de 11 anos - foi condenada em 1968 por estrangular dois meninos de três anos em um intervalo de dois meses. Foi denunciada pelos desenhos que fazia em seus cadernos escolares, mostrando as cenas dos crimes.
118

As primeiras vítimas do pistoleiro pernambucano Mário Pereira de Almeida, de 15 anos, são três rapazes que estupraram e assassinaram sua namorada Adriana, de 16 anos. Quando atira no primeiro, chega a se perguntar se isso está certo. Com os outros dois, é diferente: coloca um pneu na cintura de cada um, despeja um litro de gasolina na cabeça deles, toca fogo e fica olhando.
- Eles merecem.
119

Madrugada. O ônibus pára em frente ao Supermercado Novo Mundo - no bairro de Teriaçu, Rio de Janeiro - onde uma multidão limpa as prateleiras e joga tudo pra fora. Descem todos os passageiros, cobrador e motorista, apanham o que podem levar... voltam ao ônibus e vão-se embora, na maior animação.
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Em certa madrugada de 1977, Maria Helena Ferreira dos Santos estrangula com um cinto duas outras internas do pronto-socorro psiquiátrico do Hospital Pinel, no Rio. Vai matar mais uma quando é surpreendida pela enfermeira.
O diretor da Divisão Nacional de Saúde Mental - o médico Roberto Guimarães - pergunta-lhe o que a levara a isso.
- Tenho uma missão na Terra - disse-lhe ela - matar 97 comunistas que querem destruir o Brasil.
Referia-se à lista atribuída ao ex-ministro Sylvio Frota com os nomes de 97 supostos subversivos infiltrados no governo.
- Agora só faltam 95 - contabiliza.
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O programador de sistemas Renato Trevisan, sem suportar o choro da filha Taciane, de 3 anos, deu várias garrafadas na cabeça dela, chutou-a e pisoteou-a, rompendo-lhe o fígado, baço, rins e a coluna. Só parou quando a viu morta.

... até que um ator "chegue" ao personagem Há exatos vinte anos, eu, com 60, ao me ver prestes a participar — sob o sol do s...

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... até que um ator "chegue" ao personagem

Há exatos vinte anos, eu, com 60, ao me ver prestes a participar — sob o sol do sertão ao redor de Monteiro, a 300 km de João Pessoa — das filmagens do curta A Canga, de Marcus Vilar, baseado em trecho de meu livro com o mesmo nome, senti que o velho e sedentário escritor burguês tinha que se preparar... fisicamente... para ser o ancião camponês acostumado ao trabalho duro do arado e enxada.