Pois é, sonhadores leitores, quando vi a informação de que a loteria americana mega millions iria pagar sete bilhões, setecentos e cin...

loteria sabedoria piada esperteza
Pois é, sonhadores leitores, quando vi a informação de que a loteria americana mega millions iria pagar sete bilhões, setecentos e cinquenta milhões de reais não me contive. Apostei como sempre aposto em todas as loterias brasileiras, porém mantendo o valor mínimo em cada aposta. Nunca me iludi com a possibilidade de ganhar. O que vale mesmo é sonhar o que farei com esses prêmios milionários. É o sonho mais barato do mundo. Mesmo porque não posso ter fé absoluta num sistema que não revela o nome dos ganhadores para conferirmos a veracidade dos resultados.

Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer, Andre Comte-Sponville e outros filósofos já discorreram amplamente sobre a relação conflit...

depressao infelicidade relacoes humanas saude mental
Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer, Andre Comte-Sponville e outros filósofos já discorreram amplamente sobre a relação conflituosa entre prazer e sofrimento. A nossa incessante busca pelo prazer se mistura ao combate à dor. Na contemporaneidade, o discurso do hedonismo, do “aproveite a vida”, do “deixa a vida me levar” tem promovido a urgência, acarretando patologias. Nessa seara, vivemos uma época de abundância extrema, de tal modo que a expressão não pode ser vista como redundante, mas importante para entendermos as circunstâncias que nos fazem adoecer. Do trabalho às redes sociais, das telas aos alimentos, até a droga e o sexo. Tudo isso como estímulo para nos sentirmos mais interligados à vida, porém afasta-nos mais dela. É um tempo de muita vulnerabilidade, em que, como diria Sartre, o universo das possibilidades nos angustia.

Impressionam-me esses aparelhos de rádio moderníssimos, com dispositivos eletrônicos para encaixe de pen drive e captura de sinais, v...

radio nostalgia
Impressionam-me esses aparelhos de rádio moderníssimos, com dispositivos eletrônicos para encaixe de pen drive e captura de sinais, via bluetooth. Você pode conectá-los sem fio ao telefone celular, ou computador, e pronto: passa a desfrutar dos muitos canais de notícia e música dispostos pela internet ao bel prazer e pelo tempo que desejar.

Todavia, meu espanto maior advém da preferência dos fabricantes pelos modelos retrôs, exigência, evidentemente, da distinta clientela.

As idades já são avançadas. As peles, pintura gasta, reboco disforme, cimento esburacado, revelam mais que idades. Na verdade, indi...

parahyba joao pessoa nostalgia centro historico
As idades já são avançadas. As peles, pintura gasta, reboco disforme, cimento esburacado, revelam mais que idades. Na verdade, indicam o descuido dos entes próximos, os herdeiros, os habitantes, os passantes. Elas resistem, são guardiãs de muitas histórias, testemunhas de transformações. Os ossos, tijolos ou pedras, fortes, sustentam as estruturas e resistem aos desafios que os séculos impõem. O homem continua a ser, ora o inventor e restaurador, do mesmo modo o aniquilador que faz desmoronar as mais fortes com força bruta e tantas vezes estúpida.

Deslizo sobre o meu velho caderno de receitas e me vejo repentinamente instalada na vitalidade de antigas cozinhas familiares, cujo po...

culinaria cozinha nostalgia patrimonio cultura
Deslizo sobre o meu velho caderno de receitas e me vejo repentinamente instalada na vitalidade de antigas cozinhas familiares, cujo poder de evocação vem da vida vivida ali, do afeto partilhado em singulares combinações de cores e odores, e dos sabores que dali saiam, até hoje incomparáveis, inesquecíveis. Não, não se falava em gastronomia, não havia supermercados. Minha tia comprava o “coxão” de porco no habitual vendedor de quem já era conhecida freguesa, e a batata doce, que tradicionalmente era seu acompanhamento, não podia vir de outro lugar que não daquele monturo acumulado no chão da feira pelas mãos de Manoel Cesário, que também vendia inhame e macaxeira, expostos do mesmo modo.

Leibniz, desde o início de sua produção intelectual, aspira à criação de uma ciência universal, que compile em si várias disciplinas, ...

filosofia leibniz

Leibniz, desde o início de sua produção intelectual, aspira à criação de uma ciência universal, que compile em si várias disciplinas, visando a uma organização cultural e política global. Teoriza, portanto, com bastante lucidez e pertinência, a diferença estrutural entre a pesquisa científica e a de cunho filosófico-metafísico. Com a revolução científica capitaneada por nomes como Galileu, Copérnico, Kepler, Bacon e, sobretudo, Descartes, o pensamento ocidental sofre uma reviravolta radical: extensão e movimento são então considerados causas suficientes para a explicação da realidade ontológica do mundo e de seus fenômenos.

Rembrandt morreu pobre, pois – como Bach – foi rotulado, no fim da vida, de ultrapassado. Van Gogh não conseguia vender seus quadros...

historia arte pintura

Rembrandt morreu pobre, pois – como Bach – foi rotulado, no fim da vida, de ultrapassado.

Van Gogh não conseguia vender seus quadros, ... que tornaram sua cunhada — herdeira de todo o seu lote — rica.

El Greco foi preterido pela corte espanhola.

O retrato de Mona Lisa se tornou “o mais célebre quadro do mundo” quando foi roubado do Louvre e a imprensa tratou de realçar a notícia.

historia arte pintura
historia arte pintura
historia arte pintura
Leonardo da Vinci / El Greco / Van Gogh

Nos anos 50 – estudando pintura - comprei a História da Arte, de Sheldon Cheney, e dei de cara com isto:

“Tempo houve, em nossos anos mais impressionáveis, em que nos ensinaram a aceitar o 'milagre grego', a 'perfeição ateniense' como conceitos inacessíveis aos paralelos”.

Mas – acrescentou Cheney — sem perceber que fazia o mesmo com os leitores:

“nas três primeiras décadas deste nosso século XX houve um desafio ao classicismo e um afastamento dos artistas mais criadores dos objetivos em ideais gregos”.

Bom, aí todo mundo se tornou cubista, suprematista, fovista, surrealista, inclusive brasileiros que se mandaram para Paris, como Portinari, Di Cavalcanti, Ismael Nery. Isso me lembra que, um tempo antes, o escândalo impressionista sufocara o impulso naturalista. Que fazer, então, se somos prisioneiros da circunstância, do universo — “como disse Ortega y Gasset”? Fazer como Bach, El Greco e Rembrandt.

historia arte pintura
historia arte pintura
historia arte pintura
Di Cavalcanti / Ismael Nery / Portinari

Quando faço um poema, busco sempre inserir uma palavra nova, que ainda não usei, em seus versos. Nem sempre consigo, porque às vezes o...

caetano veloso poesia linaldo guedes
Quando faço um poema, busco sempre inserir uma palavra nova, que ainda não usei, em seus versos.

Nem sempre consigo, porque às vezes o poema cisma em usar do trivial para dizer o que quer.

É, meus amigos, poema é bicho manhoso e às vezes só quer um pezinho para mandar em você.

Há momentos em nossas vidas em que nos deparamos com a escuridão. Medos, incertezas e obstáculos nos cercam, obscurecendo nosso caminho...

alegria felicidade saber viver
Há momentos em nossas vidas em que nos deparamos com a escuridão. Medos, incertezas e obstáculos nos cercam, obscurecendo nosso caminho. Mas, nesses momentos, é crucial lembrar que não podemos viver à sombra dessa escuridão. Devemos encontrar nossa própria luz para iluminar nosso caminho e guiarmos por ele com determinação e coragem.

Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), filósofo prussiano, em seu primeiro livro, O mundo como Vontade e como representação (1819), cons...

filosofia schopenhauer
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), filósofo prussiano, em seu primeiro livro, O mundo como Vontade e como representação (1819), considera o mundo como fenômeno, ou seja, algo é percebido e representado. No Tomo II da referida obra, o pensador afirma que o mundo possui uma essência: a Vontade. Ele diz que o sujeito é o fundamento do mundo. Conforme seu pensamento (2015, p. 5): "Tudo o que existe, existe para o sujeito".
filosofia schopenhauer
O Tomo I começa com a seguinte reflexão:

"O mundo é a minha representação. Essa proposição é uma verdade para todo ser vivo e pensante embora só no homem chegue a transformar-se em conhecimento abstrato e refletido.”
Id., 2005, p. 1

Essa tese, que é um dos fundamentos da sua filosofia, também apresenta o conhecimento sendo construído na relação da intuição sensível à capacidade de interpretar os objetos da realidade, permitindo que possam ser conhecidos de forma universal e necessária. Por exemplo: os princípios da individuação e da causalidade, favorecidos de uma entidade metafísica. O filósofo prussiano garante que é possível chegar até o extranatural pelo corpo humano e que a razão se torna um mecanismo de autopreservação da espécie.

De acordo com Schopenhauer, a Vontade, de forma geral, é o desejo constante de viver, que está presente tanto em organismos quanto no reino inorgânico, em diferentes graus, sendo o corpo humano o mais elevado grau de objetivação. A Vontade aponta para as motivações desconhecidas das ações humanas, no sentido de que os seres humanos são conduzidos por impulsos — fome, sede, medo, sexo e outras coisas — que estão além do controle humano e que, no entanto, determinam as ações, mesmo aquelas que parecem ser provenientes
J. Schäfer, 1859
de uma decisão racional e se encontram submetidas às necessidades vitais para sobrevivência.

Arthur Schopenhauer admite que existe algo no interior do ser humano que não pode ser explicado ou controlado. Existe também a Vontade, de onde as ações provêm, e que não possui fundamento ou finalidade. Por causa disso, conceitos como liberdade e autonomia são ilusões, pois os humanos, assim como outros seres, são guiados por um núcleo irracional e suas atitudes não podem ser determinadas de forma racional. Assim, a razão não pode ser uma entidade abstrata desvinculada da realidade. Para o filósofo, não existem objetos transcendentais fora da experiência, mas, sim, inerentes ao mundo físico e ao próprio corpo. O "ato da vontade" e a "ação do corpo" são "uma única e mesma coisa, só que apresentados de duas maneiras completamente distintas" (SCHOPENHAUER, 2001, p. 157). Deve-se considerar o corpo como a "materialização da Vontade". Esse termo foi criado para expressar a manifestação visível da Vontade no corpo, o qual é o único objeto que não se conhece apenas do ponto de vista da representação - que é o modo pelo qual se distingue todos os outros, de imediato pela Vontade. As contribuições da filosofia schopenhaueriana para o idealismo apresenta o aspecto fisiológico, que faz com que a razão não tenha a importância central na metafísica; e sim o corpo.

Schopenhauer considera a Vontade o motivo de todo o sofrimento no mundo. Os indivíduos estão constantemente em busca da matéria, que, no entanto, é finita e constante. Jair Barboza, em seu livro Schopenhauer:
filosofia schopenhauer
O. Gentileschi, 1612
A decifração do enigma do mundo
(Ed. Paulus, 2003), remarca a seguinte frase do filósofo prussiano: "Cada pessoa só pode surgir se tomar o lugar de outra, se apoderando da matéria que está no poder. É por isso que vemos conflitos e lutas em todos os lugares". Essa é a razão de a existência ser repleta de conflitos, pois a Vontade está constantemente em discordância consigo mesma quando encontra um obstáculo. Por outro lado, quando se alcança o objetivo esperado, tem-se satisfação. Mas nenhuma satisfação é duradoura. Assim que um desejo é satisfeito, surge outro em seu lugar. Schopenhauer descreve esse sofrimento como uma essência atemporal, mostrando que a dor é inevitável e os esforços para acabar com ela nunca são eficazes.

A forma como a angústia se manifesta ao longo da história ou nas sociedades não nos revela sua causa, pois esta reside em um princípio metafísico implícito a tudo, desde o reino inorgânico até o orgânico. A busca pela causa externa de um mal-estar, ou sua relação com determinado nível de riqueza ou posição social, não é determinante. Viver é sofrer. E a felicidade é conceituada como breves momentos em que a tristeza é aliviada. Segundo Schopenhauer (2015, p. 409):

"Tanto a extrema alegria quanto a dor sempre se baseia em um engano: portanto, essas duas tensões mentais excessivas podem ser evitadas por meio da compreensão."
filosofia schopenhauer
Orazio Gentileschi, 1612
A filosofia schopenhaueriana apresenta opções para purificar o sofrimento. Uma delas é quando o ser humano se dedica à contemplação artística ao usar a intuição para mergulhar na própria Vontade e controlá-la. Na arte, a relação entre a Vontade e a representação se inverte. Desse modo, a inteligência constrói a história da sua própria Vontade. Schopenhauer considera a música a arte de maior destaque, porque ela expressa a Vontade em sua essência e liberta o homem dos sofrimentos.

Entro na Igreja da Misericórdia como quem busca o recolhimento em um templo antigo para a renovação da alma que precisa de arrependi...

igreja templo paraiba centro historico
Entro na Igreja da Misericórdia como quem busca o recolhimento em um templo antigo para a renovação da alma que precisa de arrependimento e perdão.

Os velhos templos religiosos, mais do que os de edificação recente, que são amparados na visão da modernidade, recolhem a mística da igreja reunida para a vivência da fé.

A Misericórdia é uma das quatro igrejas mais antigas da Paraíba. Construída em pedra calcárea esculpida pela mão dos tabajaras e potiguaras, sob a inspiração de jesuítas que trouxeram a visão da fé para o mundo novo que se descortinava, ajuda a observar o Deus invisível, que se revela na alma e transforma a rudeza do homem e da mulher.

Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode...

Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser contada, e sobretudo compreendida, a partir dos artefatos com que ele vem transformando a natureza. A máquina é uma extensão de nossas faculdades e aptidões; quanto mais sofisticadas, mais indicativas do refinamento a que terá chegado a inteligência humana.

Histórias e piadas contadas por nossa família e amigos, invariavelmente, nos fazem rir... mas se forem das boas. Observando no detalhe,...

piada humor negro
Histórias e piadas contadas por nossa família e amigos, invariavelmente, nos fazem rir... mas se forem das boas. Observando no detalhe, elas contam histórias sobre o mal ou sobre uma desgraça alheia. A bondade não tem graça nenhuma, apenas se, ao final, a história virar um desastre.

O filósofo francês Henri Bergson disse que o cômico exigia algo como uma momentânea anestesia do coração. "O riso não tem maior inimigo que o coração",
por isso rimos do mal para que ele não nos atinja.

Uma das piadas que os judeus contavam na Alemanha nazista era sobre o que um comandante da Gestapo dizia a um judeu: "Vou te dar uma oportunidade de viver, se adivinhar qual dos meus olhos é de vidro". O Judeu responde de imediato: "É o esquerdo". O oficial, admirado, pergunta: "Como é que descobriste?" E o Judeu responde: "É o que parece menos humano".

Pode parecer surreal. No entanto, é uma manifestação bastante profunda nas mãos de todos que se confrontaram com o mau absoluto, que o fizeram mais por necessidade do que provocação.

Na União Soviética, a piada frequentemente contada era a seguinte:


Eles riem do mal, do bem, ninguém ri, para quê?

Mesmo histórias curiosas que resultam num final trágico, por consequências em suas entrelinhas, parecem uma ironia do destino. Como ocorreu com o ditador, ex-Presidente de Portugal, Antonio de Oliveira Salazar, apegado ao poder, habituado a dar ordens dramáticas e doloridas
àquele povo sofrido. Ele acabou por encontrar um final mortal inesperado em sua trajetória humana. Uma história com ares de ópera-bufa, se imaginarmos que o ditador foi derrotado por uma queda ao chão.

Em 1968, Salazar gozava férias em Santo António do Estoril. Sentado em uma cadeira que não se sabe se em falso ou quebrada, ou estrategicamente fora do lugar, o tirano foi ao chão e bateu a cabeça com violência no piso de pedra. Teve um hematoma cerebral e não se recuperou do trauma. Morreu dois anos depois. Conta-se que ele jamais soube que não era mais o presidente do Conselho de Ministros e que a equipe de governo se reunia em sua presença para encenar reuniões e decisões.

Nossa frágil condição humana limita uma rota a todos, muito similar à fraqueza de seus pares. A finitude nos acompanha.

O dolorido é quando os meses e anos escorrem pelos dedos, e, chegando à velhice, percebe-se que não saiu do lugar.

A culpa é do calor, próprio da época e que colabora para o sem sentido destes dias. Tudo corre devagar, anestesiando emoções, fazendo ...

plantas pensamentos solidao paciencia
A culpa é do calor, próprio da época e que colabora para o sem sentido destes dias. Tudo corre devagar, anestesiando emoções, fazendo com que o tempo não seja contado em horas, mas nas sombras dos prédios que avançam e se esticam pelas ruas, contornando as calçadas, engolindo as copas das árvores, improvisando desenhos nas construções vizinhas.

Esta frase do título acima tomei emprestada de Luciano, que, num momento de felicidade retórica, usou-a na saudação que fez à sua mã...

ozanira maia
Esta frase do título acima tomei emprestada de Luciano, que, num momento de felicidade retórica, usou-a na saudação que fez à sua mãe por ocasião de seu 80º aniversário, há mais de uma década. Ele primeiro disse “Hosana nas alturas!”, dando graças a Deus pela vida longeva e saudável da genitora querida, para depois concluir, criativa e belamente, colocando a própria Dona Ozanira Maia nas alturas celestiais. Repito, pois, Ozanira nas alturas, pois é onde ela certamente está, agora que foi chamada ao descanso da eternidade, após uma vida admirável e fecunda.

Nossa geração foi alfabetizada. As novas gerações são audiobetizadas e videobetizadas. Então, é natural que nossos códigos e signos ...

caderno recordacoes perguntas nostalgia
Nossa geração foi alfabetizada. As novas gerações são audiobetizadas e videobetizadas. Então, é natural que nossos códigos e signos sejam diferentes, o que dificulta o famoso “diálogo de gerações”. Há quem diga que entre jovens e velhos só há uma coisa em comum: o ar que respiram. Portanto, nesses tempos de Internet, redes sociais etc., o “Caderno de Confidências” pode soar estranho, esquisito, inacreditável até.