Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser contada, e sobretudo compreendida, a partir dos artefatos com que ele vem transformando a natureza. A máquina é uma extensão de nossas faculdades e aptidões; quanto mais sofisticadas, mais indicativas do refinamento a que terá chegado a inteligência humana.
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O modelo do funcionamento da máquina é o cérebro humano – a chamada máquina perfeita. Ela, no entanto, não funciona sozinha. Vive atrelada a um corpo, que a torna caprichosa e falível. O curioso é que nessa falibilidade está a sua grandeza, a sua possibilidade de, falhando, autocorrigir-se e reorientar-se no rumo não da perfeição, mas da sobrevivência. Referindo-se ao nosso cérebro, Nietzsche disse não acreditar na eficiência de uma máquina “que se sabe trabalhando”.
Ora, essa possibilidade da falha, a partir de uma consciência, é a nossa maior riqueza. Se fôssemos perfeitos, de nada nos serviria a liberdade. O paradoxo do ser humano é que o seu maior bem, a sua maior posse vem justamente do que lhe falta, do que nele é lacunoso e incompleto. Ao contrário das máquinas verdadeiras, somos mais eficientes porque “quebramos”.
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O robô nos daria uma afetividade sem fissuras e sem riscos. Não uma ternura escolhida e conquistada, de quem tem alma, mas infalível e certa como um amor... de máquina. O que procuramos na cega disponibilidade do robô é uma compensação para a inconstância dos homens. Como a fabricação de tal instrumento é impossível, temos que nos contentar com o esquivo e incompleto amor humano. E sonhar, como no filme de Spielberg, com uma engenhoca eletrônica que nos ame sem o ônus da contrapartida, ou seja, sem a obrigação de que nos tornemos merecedores desse amor.