As cartas são o antídoto literário da efemeridade da vida. Segundo Goethe : “o mais significante memorial que uma pessoa pode deixar”. Po...
Carta de 11 de julho de 1944
As cartas são o antídoto literário da efemeridade da vida. Segundo Goethe: “o mais significante memorial que uma pessoa pode deixar”.
Poucas cartas sobreviveram dos campos de concentração construídos pelos nazistas para exterminar o povo judeu durante o Holocausto.
Gosto de vinho. Sei muito pouco sobre vinhos. Não pretendo nunca me tornar um especialista em vinhos. Sobre estes três alicerces básicos co...
Sobre vinhos: considerações de um amador
Gosto de vinho. Sei muito pouco sobre vinhos. Não pretendo nunca me tornar um especialista em vinhos. Sobre estes três alicerces básicos construí minha adega imaginária e me dou por satisfeito. Não desejo mais do que isso. Deus me livre de me tornar um enochato, aquele sujeito que, ao invés de degustar o vinho, prefere fazer conferência sobre ele, entediando mortalmente os companheiros de mesa que não sejam também enochatos.
Mais um episódio da ALCR TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente...
Pauta Cultural (Ep. 06)
Mais um episódio da ALCR TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.
Certo dia conversávamos numa roda sobre a excelência do ensino que a nossa geração recebeu. Aí relembramos o português ensinado por Alessio...
Um fim de tarde na bossa
— “Por que vocês não fazem uma homenagem a ele?”
Se tivesse nascido na Grécia, poderia ter sido o precursor do teatro grego. Certamente, o protagonista das homenagens ao deus Dionísio , n...
Ednaldo do Brasil
Se tivesse nascido na Grécia, poderia ter sido o precursor do teatro grego. Certamente, o protagonista das homenagens ao deus Dionísio, nas mirabolantes tragédias e comédias que marcaram os lucilantes canhões a gás dos palcos da grande época. Em Roma, teriam visto ao lado de Plauto e Terêncio e, noutras plagas, fazendo odes ao Shakespeare ou Molière, tudo dentro das magias teatrais, dos malabarismos que sempre marcaram o papel no design de sua apaixonante arte cênica.
Cabisbaixa, a moça se afasta do caixa da farmácia sem se sentir autorizada a apanhar e poder sair com a pequena sacola de compras. Recolhe l...
O mais curto dos romances
Gavroche é o espírito parisiense em forma de criança. Mas não uma criança qualquer. Gavroche é o que o francês chama de gamin , no seu prim...
Gavroche, um espírito libertário
Gavroche é o espírito parisiense em forma de criança. Mas não uma criança qualquer. Gavroche é o que o francês chama de gamin, no seu primeiro sentido, de viver a brincadeira e as licenciosidades das ruas, com espírito crítico, gozador e libertino. Para a época de Hugo, introdutor da palavra na língua francesa literária, com Notre-Dame de Paris (1831) e Claude_Gueux (1834), gamin era termo da língua popular não digno de frequentar o vocabulário dos grandes escritores. Hugo associa definitivamente o vocábulo a Gavroche, personagem memorável de Les Misérables (1862). Tão memorável que repercutiu em nosso Cruz e Souza, no célebre soneto “Acrobata da dor” – “Salta, Gavroche, salta, clown, varado/Pelo estertor dessa agonia lenta...”
Em março de 1808, a Corte portuguesa desembarcava no Rio de Janeiro. Deixara Lisboa, fugindo dos exércitos de Napoleão que haviam invadido...
A vovó pianeira
Em março de 1808, a Corte portuguesa desembarcava no Rio de Janeiro. Deixara Lisboa, fugindo dos exércitos de Napoleão que haviam invadido Portugal. Na bagagem, arrumada às pressas, não foram esquecidos alguns pianos. Começava aí a história do piano no Brasil.
Com a família real e os pianos vieram, também, as danças europeias. Inicialmente, as valsas e as quadrilhas. Em seguida, chegavam os gêneros musicais que predominavam, em cada momento, nos salões da Europa: polca, mazurca, schottisch, habanera e tango.
Somos a todo momento alcançados pelo poder das palavras. Porque elas refletem pensamentos e sentimentos. Tanto podemos ser impactados posit...
O cuidado com as palavras
Somos a todo momento alcançados pelo poder das palavras. Porque elas refletem pensamentos e sentimentos. Tanto podemos ser impactados positivamente, quanto podemos sofrer consequências negativas de palavras que pronunciamos ou que ouvimos. Há quem diga que as palavras mostram o coração.
Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um fla...
Três sombrinhas
Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um flash artístico para expor. Certamente, uma fotógrafa de alta sensibilidade.
Semana passada, a mesma sombrinha emergiu; sobressaída de uma multidão de guarda-chuvas abertos. Não chovia. Pensei: eis onde foi parar o motivo da foto! E, creiam, recentemente, uma vermelha conduzida por alguém, tempo frio, invernoso; a ou o condutor enfrentava a temperatura enfiado num cachecol e roupas de enganar frio.
Nesse momento de turbulência moral e ética pelo qual passa nosso país, estão fazendo falta os irmãos Souza, aqueles que deram sangue pelo Br...
Os irmãos Souza
Eram três irmãos, todos prenhes de brasilidade conduzindo-a por toda a vida, cada qual em seu mister. Não sem emoção, os revi no bem produzido documentário “Irmãos de Sangue”, dirigido pela cineasta Ângela Patrícia Reiniger e que está sendo veiculado em horários alternados pelo canal Curta!, da TV por assinatura.
Quando tinha 10 anos (era o ano de 1974), meu pai me deu dinheiro para que comprasse meu presente de Natal. Desci correndo e fui ao Jairo Ma...
Sobre Chico Buarque de Hollanda
Por que digo isso? Ao lembrar dos ataques dirigidos a Chico Buarque de Hollanda nos últimos anos. Gregório Duvivier, em crônica publicada na Folha, chegou a dizer que, para ele, os eventos contra o compositor e escritor causavam indignação de tal monta que era “como se chutassem uma santa ou rasgassem a Torá”.
Amo ter sido uma garotinha de laço de fita no cabelo e segredos na caixinha, como a da relíquia que vi conservada por minha mãe, num antigo...
Em algum lugar do tempo
Amo ter sido uma garotinha de laço de fita no cabelo e segredos na caixinha, como a da relíquia que vi conservada por minha mãe, num antigo álbum de fotografias.
Uma redescoberta do ontem, durante visita à irmã querida e guardiã das nossas memórias afetivas. Zoya vem atuando, com maestria, como a aglutinadora do bem-querer da família Maia Duarte.
A convocação para a guerra era esperada e inevitável. Imagine a preocupação da família… Mas, ele não. Estava pronto e às ordens. Nunca es...
O cronista foi para a guerra
A convocação para a guerra era esperada e inevitável. Imagine a preocupação da família… Mas, ele não. Estava pronto e às ordens.
Nunca esqueceu a visão de despedida que teve pela janela do trem, na estação ferroviária de João Pessoa, dos pais e da irmã caçula com uns 10 anos de idade. A garotinha tinha uma mão segurada pela mãe e a outra solta no adeus. O semblante tríplice era de cortar coração. O caçula dos homens estava indo para a guerra!
Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse ...
Felicidade tem idade?
Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse último período da vida.
Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro , depois da sua aula-conferência tendo...
A travessia de Diadorim
Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro, depois da sua aula-conferência tendo como tema central a personagem Diadorim de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, respondendo a uma indagação dela de que muitos começam e nunca terminam a leitura deste livro emblemático, penitenciei-me. Disse-lhe que em três ocasiões coloquei de lado o monumental romance, um dos cem principais livros até agora escritos no Brasil.
Alguma coisa mudou, realmente. Falta apurar por conta de quem ou de quê, mas que mudou, mudou. O Pantanal pegando fogo; a Amazônia queima...
Estarei vendo coisas?
Alguma coisa mudou, realmente. Falta apurar por conta de quem ou de quê, mas que mudou, mudou.
O Pantanal pegando fogo; a Amazônia queimada, revirada e pelada; a capital do Império, da República, de todas as culturas, o Rio, virou antro sem trégua de ladrões públicos...
Finalmente assisti ao filme "A Livraria" (2017), adaptação do livro homônimo da escritora inglesa Penélope Fitzgerald, dirigido p...
'A Livraria' e o amor pelos livros
Marruá era o apelido de João. No breve tempo em que participou de nossas brincadeiras diárias, nós o chamávamos de João. Sobrenomes não exis...
O prêmio Nobel de Marruá
Sem direito a escola, seus colegas carregadores, alguns adultos, outros quase maduros, se encarregaram da docência, e João, que a partir desse convívio seria Marruá até o fim, com idade de ser iniciado em Monteiro Lobato e nas coisas do coração, foi iniciado em Carlos Zéfiro, no bordel e na cachaça.
Os professores de João não precisaram de muita didática: a pedagogia do cansaço, dia após dia, e a ausência de qualquer possibilidade de sonho arrastaram definitivamente o ingênuo João para o oblíquo acalanto das garrafas e para o submundo dos pobres corpos que se alugam. Mas o dinheiro era curto. Muito curto. Quase todo ia parar nas mãos do pai de João, que ganhava outra migalha, e tinha a mãe e mais três crianças em casa para sustentar. E Marruá, que passou a brincar com Baco e Vênus, deu adeus à Sovaqueira, abraçou as cargas até no domingo e passou a sorver, todos os dias, toda a aguardente vagabunda que cabia em seu curto bolso.
Em todo o bairro da Prata, Marruá era conhecido pela força e pela capacidade de trabalho. Entre uma saca de fubá e uma saca de arroz, ele dilatava o tempo e limpava um quintal, arrancava um tronco recalcitrante, ajudava a limpar uma fossa... Não escolhia trabalho. Admirado por seus braços, também o era pela quantidade de cachaça que sorvia em grandes goles, boca na garrafa, sem nunca perder um gole para o santo ou cuspir algumas gotas, nojento gesto habitual entre os cachaceiros, que sua sede dispensava.
Mas os professores de Marruá só puseram no quadro-negro o açúcar da cana e os encantos de Vênus. Marruá não decifrava o nome aguardente, e os 38 graus iam derretendo seus músculos e nervos. Marruá não conhecia os abismos de Vênus, e a ordinária deusa, ao lhe vender minutos de prazer, deixava-lhe tatuagens na pele e na veia, que a ignorância grande e o curto dinheiro não podiam apagar.
Marruá foi regressando a João. A princípio, a custo carregava a saca de 60 quilos, que já não erguia. Depois, os músculos, lassos, nem as carregavam mais; só aceitavam sacos menores, e isto, além da zombaria, encurtava os já pequenos ganhos. Marruá, embora continuasse sendo chamado assim, via a sua força se esconder e os sacos começarem a sumir. Restavam pequenos biscates, que mal financiavam seu vício. Marruá, que era a viga mestra da família, despencara sobre si mesmo, e agora a vida virava areia movediça.
Quase sempre sem um tostão no bolso, passou a fazer ponto à porta de Seu Cristino, de quem varria a calçada e a bodega, em troca de uma sobra do almoço e um pouco de cachaça, que o bodegueiro só lhe entregava no final do dia. Ao longo do dia, seguia pedindo a um e a outro cachaceiro que lhe pagasse uma lapada.
Alguns porcos (animal que costuma travestir-se de gente) com algum dinheiro na alma e nenhum escrúpulo no bolso diziam com um sorriso de hiena: “Só pago se for uma garrafa: e você tem de tomá-la todinha enquanto eu estiver aqui”. E Marruá, num lasso sorriso de sede, tragava inteiro o áspero vidro, embora algum tempo depois fosse delirar o resto do dia na calçada da bodega. Mas, depois de um certo tempo e muitas garrafas, os vis reptos dos porcos já não abriam o sorriso de Marruá – o juízo já não suportava aquela medida: três lapadas já o colocavam em órbita, e tudo que ele conseguia era ofender-se e, na sua lhanura, emudecer.
Marruá continuava a fazer ponto na bodega de Seu Cristino, onde, entre uma zombaria e outra, pedia que lhe pagassem uma, e passou a pedir comida nas casas. Sua fama de forte foi completamente apagada, mas, embora o nosso campeão da garrafa agora mal vencesse um copo, os recordes que batera na bodega de Seu Cristino, no auge de seu vigor, permaneciam como referência na mitologia do bairro, e o nosso pobre-diabo continuou sendo o padrão mensurador dos cachaceiros da Prata.
Uma das casas a que prestou muitos serviços e em que agora costumava pedir uma sobrinha de comida era a casa de Seu Antônio e Dona Cristiana. Este casal de idosos, com seu pequeno horizonte de informações, vivia disputando o troféu do saber. Os dois estavam vendo o jornal da noite. Uma das manchetes anunciava o ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Dona Cristiana, do alto de sua ânsia de saber e de desafiar o marido, indaga-lhe: “E o que é esse Prêmio Nobel, Tonho?” E Seu Antônio, com o orgulho e a felicidade de poder ilustrar, com todo o seu saber, a mulher, responde-lhe: “Cristiana: tu não sabes que é um prêmio que se dá ao melhor do mundo?”. Dona Cristiana, não satisfeita ainda, insiste: “Dá um exemplo, Tonho.” Seu Antônio, na bucha: “Por exemplo: Marruá, na cachaça.” E dona Cristiana, por entre dentes: “Exemplo bom, este, viu?”
Ao menos como figuração, Marruá foi agraciado com o Nobel, e, sem que o soubesse, o nosso João “subiu ao céu, num avião de papel.”
Quando tornei-me escritor profissional tomei um susto ao deparar-me com a palavra Paideuma! Devo explicar que para mim escritor profissiona...
Folclores...
Quando tornei-me escritor profissional tomei um susto ao deparar-me com a palavra Paideuma! Devo explicar que para mim escritor profissional não é necessariamente quem ganha dinheiro com literatura (isso quase ninguém ganha no Brasil), mas quem vive em função do mundo e da vida literária.