Dia das mães é aquele em que se desperta o afeto que reside na essência de cada um de nós. É onde buscamos lembranças da mãe trazidos da infância, momentos felizes, as zangas, castigos que são encarados como afagos. Depois, surgem as lembranças da adolescência, com seus conflitos aflitos, discordantes, às vezes ocultos. Mais tarde, já adultos, guardamos as lembranças calmas, amistosas, aquelas onde confrontamos nossa situação de pais e nos vemos repetindo atitudes iguais àquelas que antigamente recusávamos, que nos constrangiam, irritavam.
Quando elas, as mães, vão envelhecendo e nós também, é a fase da amizade, das trocas mais familiares, do vínculo afetivo se intensificar. Começamos uma inversão de papéis, passamos a uma posição protetora, acolhedora das ideias e histórias que elas tem para nos contar.
Felizes os que puderam ou podem conviver com suas mães envelhecidas, os que sabem apreciar os momentos de intimidade, que percebem o valor que elas tem para nós, que prezam a companhia delas pelo simples prazer de tê-las ali, pertinho, entendendo que a celeridade do tempo pode resgatá-las de nós.
É o ciclo que se completa, antes filhos, dependentes, exigentes e agora, companheiros.
Estou entrando em meu ciclo de envelhecimento como mãe. Meus filhos crescidos, já constituíram suas famílias, já tiveram seus filhos, já seguem o próprio caminho. É confortador vê-los adultos, mas sei que agora, meu papel será muito mais de andar à margem do caminho deles.
Da minha mãe, trago a sabedoria de entender que o desenho da vida tem bifurcações onde cada um segue do jeito que achar melhor e que a mim, compete ser expectadora. Sou privilegiada por sermos, meus filhos e eu, enlaçados por intensa amizade e cumplicidade que quero conservar por todo o tempo que viver. Trocamos ideias, discordamos, mas acolhemos e respeitamos o que cada um tem para falar ou agir.
Percebo nas mães de hoje, uma aproximação maior com os filhos. A escassez de babás e avós para delegarem o cuidado, como era feito anteriormente, as tornam mães muito mais presentes, mais conhecedoras dos filhos. Várias, assumem a maternidade sozinha, sem a presença de um pai e o fazem bravamente, adquirindo um papel duplo, que nada tem de fácil, mas que elas conseguem, com instinto, perseverança e garra, criar filhos maravilhosos e fortes.
Fato é, que neste segundo domingo de maio, muitas mães serão presenteadas, terão seu dia celebrado, outras lembradas de longe e certamente, a saudade daquelas que partiram, minará a alegria de muitos. Se a sua mãe hoje habita somente as fotografias, saiba acolher o amor que as uniu sem lamento, sem dor. Não chore a partida, exalte e resgate a alegria dos inúmeros anos que conviveram.
Sem dúvida, a maternidade é algo mágico, algo que transcende a compreensão pela ciência. O instinto que aflora em uma mulher no instante que ela tem nos braços o seu bebê recém-nascido, é algo que não se descreve. Há uma mudança no olhar que só focaliza o filho, há uma sintonia com as necessidades, um entendimento quando o choro brota, quando a fome surge, que as transforma naturalmente em mães. Bendita a perfeita natureza que resgata o espírito acertado para perpetuar as espécies. Bendito o afeto que aflora em cada mulher quando se torna mãe.
Se o mundo fosse formado somente de mães, certamente haveria mais paz, mais deslumbramento, mais esperança, mais solidariedade e essencialmente mais amor.
Parabéns a todas as mães, às avós, aos pais que se tornaram mães e a todas as mulheres que abriram o coração para acolher os filhos, gerados por outras mães. Que o dia de vocês seja iluminado e feliz.