Não sei se a vida — ou a morte — de um beija-flor interessa a mais alguém além da família e dos amigos do pequeno voador, mas, supondo que haja interessados na luta desse guerreiro, vou contar o ocorrido.
Ele era bem pequeno e de uma coloração azul escura, rabo curto, nem parecia bonito. Encontrei-o à noite, quando cheguei ao sítio. Estava imóvel, frio
Acervo A. Lugão
Preparei imediatamente uma água com açúcar e tentei que bebesse, mas ele não conseguiu. Então, com cuidado, abri o seu bico e coloquei uma gota, depois outra e outras, até que ele esboçou reação e esticou uma enorme língua e começou a beber lentamente. A peleja durou quase uma hora até ele melhorar um pouco. Coloquei-o numa caixinha com pano para esperar amanhecer, pois soltá-lo à noite seria sua sentença de morte.
Seis horas da manhã. Ele ainda está vivo, mas bem debilitado. Preparei mais água com açúcar e, dessa vez, ele bebeu sozinho.
Minha esposa apareceu e passou a acompanhar a luta do pássaro. Reparamos que suas penas estavam molhadas e frias, mas o sol estava nascendo e aos poucos foi esquentando e secando as asinhas e revelou as muitas cores cintilantes das penas que a luz do sol repartia.
Foi emocionante, diante do nascer do sol, ver aquele pequeno beija-flor se recuperando na palma da minha mão. Tentamos soltá-lo, mas ele caiu logo na frente.
Acervo A. Lugão
Tomamos um café cheiroso sentados no quintal e naquele dia muitos beija-flores apareceram no sítio, voavam perto de mim, rodeavam em cima da minha cabeça, atravessavam velozes a varanda e depois pairavam no ar junto ao cacho de “sapatinho de judia”, fiquei impressionado com a quantidade e com suas manobras aéreas.
Não acredito muito nessa possibilidade, mas minha esposa garante que os beija-flores estavam nos agradecendo. Se é possível eu não sei, mas “só sei que foi assim”. O fato é que o pequeno guerreiro lutou bravamente pela vida e venceu.