Mário de Andrade visita o Sertão (para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem...

Mário de Andrade visita o Sertão

Mário de Andrade visita o Sertão
(para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem traga o cigarro o homem traga o insulto ao burguês o homem permanece sentado sem insultar o burguês (o copo na mão, o livro no chão o violão na outra, mário de andrade no chão) um garoto pedala sua bicicleta rumo ao futuro o garoto vai ser emboscado e não encontrará mário de andrade um jegue elétrico anuncia as promoções da livraria leia (onde ninguém lê mário de andrade) uma mulher reza o terço tece a proteção de todos os santos terrestres - suas orações naufragam na poluição do açude grande (espelho do tietê?) um militar marcha ocioso há reflexos de câimbras em seus passos há ânsia de poesia em seus traços (mas ele não lê mário de andrade) uma mulher colhe acerolas cura suas gripes - letargia que invade seu inconsciente literário (mas ela não sabe quem foi mário de andrade) as meninas exercitam a libido as meninas dançam na fogueira (“é noite de são joão, vai amanhecer o dia!”) enquanto o vento suga as trezentas cinzas as trezentas e cinquenta cinzas da poesia de mário de andrade.
Guitarras na caatinga
(para Naldinho Braga) também se toca blues também se escuta rock também há melodias estrangeiras se apossando da nossa dor.
Saudade
Açude grande como era grande o meu açude! um pouco poluído, é verdade com seus lodos e lamas sendo tapetes para lavadeiras até onde a memória alcança já o conheci assim: lavando a roupa de todas as cajazeiras até onde a memória entende já o estranhava assim: sem banhar a gente da cidade mas era grande o meu açude! e tinha um pôr-do-sol arretado!
Seridó
não era a serra da rola, moça, porque moça não se via nem mesmo pelo retrovisor viam-se, sim, mosquitos, moscas e outras coisas que a vertigem humana não satisfazia não era a serra da rola, moça, era a serra da santa luzia abençoando o seridó (carro subindo descendo deixando mário na poeira buscando oswald no horizonte (avante!!!)).
As meninas do sertão
o sertão tem meninas que cá não encontro no litoral longe do bem e do mal são inocentes de seus encantos querem casar? ora, mas qual não quer? querem é amar e amam como ninguém o sertão tem meninas que sorriem para o nada • isso explica o tudo que se esconde por entre as pernas das meninas do sertão.
Existencialismo
o ser e o nada o ser é nada o ser nada e mergulha feliz nas águas do boqueirão.
2 velhos
sentados na calçada jogam conversa fora é fim de tarde! e às vezes só querem jogar olhares fora (o silêncio fala sobre a vida que já veio).
Memória erótica
teu corpo já foi relva (lembra da enchente em nossa alma e do banho nas biqueiras da 21 de abril?) teu corpo hoje é seiva (lembra o gozo que veio para inundar a fonte e semear a aridez do nosso solo esquecido!). Curral • nunca consegui entender a melancolia que ecoava nos chocalhos das vacas.
Primeira confissão
conte seus pecados implorava o padre Giuliano • briguei com minha irmã, chorava o menino • está perdoado (como é bom ser livre para pecar!).
Adolescência
quando já havia percorrido trezentas léguas lembrou-se do subterrâneos da alma feridos pelos galhos de juremas. Só era um homem que fumava e o mundo se resumia àquela fumaça que saía de seu cigarro quando sentava na calçada olhando o outro lado do sertão não era fumaça branca porque não havia paz em sua alma e depois do último trago tossia três vezes seguidas (mas não chorava).

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