Li o “Mozart por trás da máscara”, do uruguaio Lincoln Raúl Maiztegui Casas, quando foi publicado no Brasil, em 2006, pela Editora Planeta. Fui – só em parte – gratificado por isso, porque um dos escopos desse autor era contestar “a obra mais repelente” que – disse ele - teve oportunidade de ver em sua vida: o filme “Amadeus”, de Milos Forman, de que, caramba, sempre gostei muito.
Bom, ninguém é perfeito.
De um modo ou de outro, o pai de Wolfgang tanto me impressionou no cinema como nessa nova biografia.
Bom, ninguém é perfeito.
De um modo ou de outro, o pai de Wolfgang tanto me impressionou no cinema como nessa nova biografia.
As duas versões me permitem pensar que o imponente “Rex Tremendae Majestatis” - da “Missa de Réquiem”; o soberbo “Agnus Dei” - da “Missa da Coroação”; a maravilhosa ária da "Rainha da Noite" - de “A Flauta Mágica”; o sublime segundo movimento - do concerto para piano e orquestra nº 21, etc, etc, nada disso existiria sem o inigualável trabalho didático de Johann Georg Leopold Mozart. Ele, que era considerado excelente músico, revelou-se insuperável professor de sua arte já com a irmã mais velha do menino prodígio: a Maria Anna, conhecida como Nannerl.
No ano no nascimento do garoto, 1756, Leopold lançou em Augsburg seu tratado de aprendizagem de violino que se tornou famoso em seu tempo. Quando a menina tinha nove anos, ele começou a lhe ensinar cravo, criando seus próprios exercícios para orientá-la. Wolfgang tinha três, quando começou a se empolgar com as aulas que a irmã recebia do pai e, depois que ela saía, a subir até o teclado e a dar suas primeiras demonstrações de poderoso talento. Leopold anotou, emocionado, em janeiro de 1762, a primeira obra - um minueto - composto por seu filho de seis anos, um garoto “encantador, obediente, inteligente e de incrível doçura”, cuja brincadeira preferida era cantar uma ópera que ele mesmo criara, num italiano de araque:
- Oragnia figata la marina gemina fa!
Tocando, cantando e morrendo de rir o tempo todo, o menino jamais foi à escola, pois Leopold “com um amor acima de qualquer medida”, assumiu toda a sua educação. Assim, em fevereiro de 1762, “com a família nas costas”, esse grande mentor partiu para Munique, para os primeiros concertos de seus pimpolhos, numa série de sucessos inesquecíveis para seus contemporâneos.
“Desde que descobriu as impressionantes condições do pequeno, diz Maiztegui Casas, Leopold organizou toda sua vida para conseguir que estas se desenvolvessem ao máximo”. Graças a ele, realmente, o menino teve aulas de Johann Christian Bach e manteve contato “com o que havia de mais seleto na música de Viena, Mannheim, Paris, Roma, Milão e Nápoles”.
Falando alemão, francês, inglês e italiano, versado em filosofia e teologia, Leopold tinha, como qualquer um, seus defeitos, claro. Em “Amadeus” acompanhamos o difícil relacionamento entre ele e o filho, a partir do momento em que Mozart começa a querer se soltar. Mas, pela bagunça que foi a vida pessoal posterior do gênio - que viveu e morreu em constantes dificuldades financeiras, graças, em grande parte, à vida cara que sua esposa Constanze levava – percebe-se que, mais uma vez, seu pai estava certo. Acabou morrendo prematuramente, e penso no que teria feito ainda, se tivesse vivido mais vinte ou trinta anos... ouvindo o pai – mas como diz o sertanejo, “Todo ´penso´ é torto". Como diz o próprio Mozart, no filme, quando Sua Majestade – ouvindo despeitados – comenta que gostara do que acabara de ouvir, mas que ali havia... notas demais.
- Onde?