Não há quem tire da cabeça de Aristides que eles estão por aqui há milênios. Que desde os tempos bíblicos pilotam naves silenciosas em velocidade absurda e com manobras que desafiam a ciência humana. Que estas desaparecem e ressurgem, num átimo, em pontos diferentes. Que fazem curvas de 90 graus sem redução da marcha e sem a desintegração de peças e pilotos, coisa inimaginável por quem entenda de inércia e gravidade. Enfim, que ignoram, pura e simplesmente, as leis da física tal como as conhecemos.
Aristides, pesquisador incansável do fenômeno, garantia, na minha varanda, que os ovnis se mostram de maneira mais frequente e nítida nos momentos de maior turbulência da humanidade. Seminarista dos bons até o vento erguer a saia de Antonieta, momento em que largou a batina,
M. Cuirs / Devian Art
⏤ Foi assim no decurso da 2ª Grande Guerra quando os aviões das Forças Aliadas e os do Eixo passaram a ser seguidos por aquelas bolas de fogo, as foo fighters tidas, nos dois lados, como arma secreta do inimigo. Lembra não? – perguntou ele ao amigo João.
Claro que Joãozinho, como o tratamos, não lembrava, pois veio ao mundo quando as duas bombas atômicas já haviam posto fim àquele terrível conflito. Mas nunca esqueceu das sucessivas leituras acerca do assunto. Nem disso nem de relatos espantosos atinentes ao tema. Incluamos os de Bob Lazar, o físico que afirma ter sido contratado pela marinha americana para experimentos de engenharia reversa num dos discos voadores escondidos no Setor S-4, da Área 51, depois de acidentados e ali recolhidos.
E lá veio Aristides: “Lazar já falava do elemento 115, o combustível desses bichos, antes que a tabela periódica de Mendeleeve, mesmo atualizada, desse pela coisa. Li que isso somente foi sintetizado há pouco mais de uma década e que a química avançada, mesmo assim, não conseguiu mais do que alguns gramas com solidez de segundos”.
Wikimedia
⏤ Você já fez isso, Frutuoso?
⏤ Fiz não.
⏤ Fiz não.
Joãozinho também não esquecera do 19 de maio de 1986, “a noite dos ovnis”, quando cinco jatos da FAB em vão tentaram interceptar 21 “fenômenos sólidos e de certa inteligência”, nos termos do relatório do brigadeiro José Pessoa Cavalcanti Albuquerque. Deram-se, desde então, várias outras dessas noites, aqui e alhures.
Não ousei entrar na conversa. Sou, nesse quesito, analfabeto de pai, mãe e parteira, como diria Jessier Quirino. Mas falei aos meus botões. Seria conveniente observar que objeto voador não identificado não significa, necessariamente, nave ou artefato extraterrestre. Pode ser coisa da qual apenas não conhecemos a natureza nem a origem. Adviria, quem sabe, de um desses porões tecnológicos por aqui mesmo ocultos, deliberadamente. Ainda bem que falei para mim mesmo. Caso contrário, teria ouvido coisa assim: “E as manobras de 90 graus?”.
Aquela dupla costuma fazer meu dia mesmo quando chega de surpresa, sem aviso, como agora aconteceu. Transferi o bate-papo da varanda estreita para a área coletiva do prédio onde a conversa prosseguiu.
Edgar Mitchell, sexto terráqueo a caminhar na LuaNasa, 1971
⏤ Já leu isso?
⏤ Não.
⏤ Não.
Às vezes, eu me disponho a duvidar da sanidade mental dessa gente, em meio à qual, é claro, o querido Aristides. O camarada parece haver endoidado desde aquele vendaval. Ouviu um “não”, também, de Antonieta e casou-se com outra moça a contragosto, creio eu, porquanto já lhe era impossível viver longe dos rabos de saia.
Outras vezes, ocorre-me que ele, nesse quesito, está em boa e acreditada companhia. Hoje, preenchem o imaginário coletivo, em escala mundial, as histórias repetidíssimas de avistamentos e abduções. Há quem delas desacredite, mas o número de crédulos aumenta a cada santo dia. Não quero voltar ao assunto, mas eu mesmo ouvi de um amigo dileto, um velho companheiro de batente, jornalista e articulista seríssimo, uma história de dar arrepios. Já contei isso por aqui.
OVNI "sobrevoa" o mar territorial do Brasil, na Ilha da Trindade, em 1958Wikimedia
HOJE não vou fazer uma crônica como as de todo dia; hoje, quero apenas dar um depoimento. Deixem-me afirmar, de saída, que nestas linhas abaixo não digo uma letra que não seja estritamente a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade, como um depoimento em Juízo, sob juramento.
Rachel de Queiroz na fazenda "Não Me Deixes", em QuixadáFam.
Seriam seis e meia da tarde; aqui o crepúsculo é cedo e rápido, e já escurecera de todo. A Lua iria nascer bem mais tarde e o céu estava cheio de estrêlas.
Minha tia Arcelina viera da sua fazenda Guanabara fazer-me uma visita, e nós conversávamos as duas na sala de jantar, quando um grito de meu marido nos chamou ao alpendre, onde êle estava com alguns homens da fazenda. Todos olhavam o céu.
Em direção norte, quase noroeste, a umas duas braças acima da linha do horizonte, uma luz brilhava como uma estrêla grande, talvez um pouco menos clara do que Vésper, e a sua luz era alaranjada. Era essa luz cercada por uma espécie de halo luminoso e nevoento, como uma nuvem transparente iluminada, de forma circular, do tamanho daquela “lagoa” que ás vêzes cerca a Lua.
Jen F.
R. Tejeda
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Pelo menos umas vinte pessoas estavam conosco, no terreiro da fazenda, e tôdas viram o que nós vimos. Trabalhadores que chegaram para o serviço, hoje pela manhã, e que moram a alguns quilômetros de distância, nos vêm contar a mesma coisa.
Afirmam alguns dêles que já viram êsse mesmo corpo luminoso a brilhar no céu, outras vêzes, - nos falam em quatro vêzes. Dizem que nessas aparições a luz se aproximou muito mais, ficando muito maior. Dizem, também, que essa luz aparece em janeiro e em maio - talvez porque nesses meses estão mais atentos ao céu, esperando as chuvas de comêço e de fim de inverno.
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Que coisa seria essa que ontem andava pelo céu, com a sua luz e o seu halo? Acho que, para a definir, o melhor é recorrer à expressão já cautelosamente oficializada: objeto voador não identificado. Mas, não afirmo. Porém, isso êle era. Não era uma estrêla cadente, não era avião, não, de maneira, nenhuma coisa da Natureza - com aquela deliberação no vôo, com aquêles caprichos de parada e corrida, com aquêle jeito de ficar peneirando no céu, como uma ave. Não, dentro daquilo, animando aquilo, havia uma coisa viva, consciente. E não fazia ruído nenhum.
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Poderia recolher os testemunhos dos vizinhos que estão acorrendo a contar o que assistiram: o mesmo que nós vimos aqui em casa. A bola enevoada feito uma lua, e no meio dela uma luz forte, uma espécie de núcleo, que aumentava e diminuía, correndo sempre na horizontal, e do poente para o nascente.
UfoBook
Mas faço questão de não afirmar nada por ouvir dizer. Dou apenas o meu testemunho. Não é imaginação, não é nervoso, não são coisas do chamado “temperamento artístico”. Sou uma mulher calma, céptica, com lamentável tendência para o materialismo e o lado positivo das coisas. Sempre me queixo da minha falta de imaginação. Ah, tivesse eu imaginação, poderia talvez ser realmente uma romancista. Mas o caso de ontem não tem nada comigo, nem com o meu temperamento, com minhas crenças e descrenças. Isso de ontem EU VI.
E então?