Não há quem tire da cabeça de Aristides que eles estão por aqui há milênios. Que desde os tempos bíblicos pilotam naves silenciosas em...

O disco de Rachel

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Não há quem tire da cabeça de Aristides que eles estão por aqui há milênios. Que desde os tempos bíblicos pilotam naves silenciosas em velocidade absurda e com manobras que desafiam a ciência humana. Que estas desaparecem e ressurgem, num átimo, em pontos diferentes. Que fazem curvas de 90 graus sem redução da marcha e sem a desintegração de peças e pilotos, coisa inimaginável por quem entenda de inércia e gravidade. Enfim, que ignoram, pura e simplesmente, as leis da física tal como as conhecemos.

Aristides, pesquisador incansável do fenômeno, garantia, na minha varanda, que os ovnis se mostram de maneira mais frequente e nítida nos momentos de maior turbulência da humanidade. Seminarista dos bons até o vento erguer a saia de Antonieta, momento em que largou a batina,
M. Cuirs / Devian Art
ele atribuía a onda atual dessas aparições ao pavio da 3ª Guerra Mundial aceso lá para as bandas da Ucrânia.

⏤ Foi assim no decurso da 2ª Grande Guerra quando os aviões das Forças Aliadas e os do Eixo passaram a ser seguidos por aquelas bolas de fogo, as foo fighters tidas, nos dois lados, como arma secreta do inimigo. Lembra não? – perguntou ele ao amigo João.

Claro que Joãozinho, como o tratamos, não lembrava, pois veio ao mundo quando as duas bombas atômicas já haviam posto fim àquele terrível conflito. Mas nunca esqueceu das sucessivas leituras acerca do assunto. Nem disso nem de relatos espantosos atinentes ao tema. Incluamos os de Bob Lazar, o físico que afirma ter sido contratado pela marinha americana para experimentos de engenharia reversa num dos discos voadores escondidos no Setor S-4, da Área 51, depois de acidentados e ali recolhidos.

E lá veio Aristides: “Lazar já falava do elemento 115, o combustível desses bichos, antes que a tabela periódica de Mendeleeve, mesmo atualizada, desse pela coisa. Li que isso somente foi sintetizado há pouco mais de uma década e que a química avançada, mesmo assim, não conseguiu mais do que alguns gramas com solidez de segundos”.

Wikimedia
Em seguida, apiedado de mim e minha ignorância, explicou: “O troço é bem volátil, mas Bob conta da existência de nove quilos duradouros, permanentes, retirados dos tais discos. Quem duvidar vá ao Youtube e, assim, o ouça”.


Joãozinho também não esquecera do 19 de maio de 1986, “a noite dos ovnis”, quando cinco jatos da FAB em vão tentaram interceptar 21 “fenômenos sólidos e de certa inteligência”, nos termos do relatório do brigadeiro José Pessoa Cavalcanti Albuquerque. Deram-se, desde então, várias outras dessas noites, aqui e alhures.


Não ousei entrar na conversa. Sou, nesse quesito, analfabeto de pai, mãe e parteira, como diria Jessier Quirino. Mas falei aos meus botões. Seria conveniente observar que objeto voador não identificado não significa, necessariamente, nave ou artefato extraterrestre. Pode ser coisa da qual apenas não conhecemos a natureza nem a origem. Adviria, quem sabe, de um desses porões tecnológicos por aqui mesmo ocultos, deliberadamente. Ainda bem que falei para mim mesmo. Caso contrário, teria ouvido coisa assim: “E as manobras de 90 graus?”.

Aquela dupla costuma fazer meu dia mesmo quando chega de surpresa, sem aviso, como agora aconteceu. Transferi o bate-papo da varanda estreita para a área coletiva do prédio onde a conversa prosseguiu.

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Edgar Mitchell, sexto terráqueo a caminhar na LuaNasa, 1971
Aristides acentuou que as histórias desses contatos se espalham por todo o mundo, algumas com as assinaturas mais surpreendentes, como a do astronauta Edgar Mitchell, o camarada que caminhou na Lua em 1971. Jornais atribuem a ele a afirmativa de que os aliens ajudam a manter a paz mundial.


Às vezes, eu me disponho a duvidar da sanidade mental dessa gente, em meio à qual, é claro, o querido Aristides. O camarada parece haver endoidado desde aquele vendaval. Ouviu um “não”, também, de Antonieta e casou-se com outra moça a contragosto, creio eu, porquanto já lhe era impossível viver longe dos rabos de saia.

Outras vezes, ocorre-me que ele, nesse quesito, está em boa e acreditada companhia. Hoje, preenchem o imaginário coletivo, em escala mundial, as histórias repetidíssimas de avistamentos e abduções. Há quem delas desacredite, mas o número de crédulos aumenta a cada santo dia. Não quero voltar ao assunto, mas eu mesmo ouvi de um amigo dileto, um velho companheiro de batente, jornalista e articulista seríssimo, uma história de dar arrepios. Já contei isso por aqui.

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OVNI "sobrevoa" o mar territorial do Brasil, na Ilha da Trindade, em 1958Wikimedia
E agora conto não o que ouvi de Rachel de Queiroz, mas o que dela li: a crônica “Objeto voador não identificado” publicada em espaço cativo da extinta Revista O CRUZEIRO, o da “Última Página”, título da coluna. Prendam a respiração. Lá vai o texto da dona Rachel mantida a grafia original:

HOJE não vou fazer uma crônica como as de todo dia; hoje, quero apenas dar um depoimento. Deixem-me afirmar, de saída, que nestas linhas abaixo não digo uma letra que não seja estritamente a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade, como um depoimento em Juízo, sob juramento.

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Rachel de Queiroz na fazenda "Não Me Deixes", em QuixadáFam.
Escrevo do sertão, onde vim passar férias. E o fato que vou contar aconteceu ontem, dia 13 de maio de 1960, na minha fazenda “Não me Deixes”, Distrito de Daniel de Queiroz, município de Quixadá, Ceará.

Seriam seis e meia da tarde; aqui o crepúsculo é cedo e rápido, e já escurecera de todo. A Lua iria nascer bem mais tarde e o céu estava cheio de estrêlas.

Minha tia Arcelina viera da sua fazenda Guanabara fazer-me uma visita, e nós conversávamos as duas na sala de jantar, quando um grito de meu marido nos chamou ao alpendre, onde êle estava com alguns homens da fazenda. Todos olhavam o céu.

Em direção norte, quase noroeste, a umas duas braças acima da linha do horizonte, uma luz brilhava como uma estrêla grande, talvez um pouco menos clara do que Vésper, e a sua luz era alaranjada. Era essa luz cercada por uma espécie de halo luminoso e nevoento, como uma nuvem transparente iluminada, de forma circular, do tamanho daquela “lagoa” que ás vêzes cerca a Lua.

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Jen F.
E aquela luz com o seu halo se deslocava horizontalmente, em sentido do leste, ora em incrível velocidade, ora mais devagar. Às vêzes mesmo se detinha; também o seu clarão variava, ora forte e alongado como essas estrêlas de Natal das gravuras, ora quase sumia, ficando reduzido apenas à grande bola fôsca, nevoenta. E essas variações de tamanho e intensidade luminosa se sucediam de acôrdo com os movimentos do objeto na sua caprichosa aproximação. Mas nunca deixou a horizontal. Dêsse modo andou êle pelo céu durante uns dez minutos ou mais. Tinha percorrido um bom quarto do círculo total do horizonte, sempre na direção do nascente; e já estava francamente a nordeste, quando embicou para a frente, para o norte, e bruscamente sumiu, - assim como quem apaga um comutador elétrico.

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R. Tejeda
Esperamos um pouco para ver se voltava. Não voltou. Corremos, então, ao relógio: eram seis e três quartos, ou seja, 18.45.

* * *

Pelo menos umas vinte pessoas estavam conosco, no terreiro da fazenda, e tôdas viram o que nós vimos. Trabalhadores que chegaram para o serviço, hoje pela manhã, e que moram a alguns quilômetros de distância, nos vêm contar a mesma coisa.

Afirmam alguns dêles que já viram êsse mesmo corpo luminoso a brilhar no céu, outras vêzes, - nos falam em quatro vêzes. Dizem que nessas aparições a luz se aproximou muito mais, ficando muito maior. Dizem, também, que essa luz aparece em janeiro e em maio - talvez porque nesses meses estão mais atentos ao céu, esperando as chuvas de comêço e de fim de inverno.

* * *

Que coisa seria essa que ontem andava pelo céu, com a sua luz e o seu halo? Acho que, para a definir, o melhor é recorrer à expressão já cautelosamente oficializada: objeto voador não identificado. Mas, não afirmo. Porém, isso êle era. Não era uma estrêla cadente, não era avião, não, de maneira, nenhuma coisa da Natureza - com aquela deliberação no vôo, com aquêles caprichos de parada e corrida, com aquêle jeito de ficar peneirando no céu, como uma ave. Não, dentro daquilo, animando aquilo, havia uma coisa viva, consciente. E não fazia ruído nenhum.

* * *

Poderia recolher os testemunhos dos vizinhos que estão acorrendo a contar o que assistiram: o mesmo que nós vimos aqui em casa. A bola enevoada feito uma lua, e no meio dela uma luz forte, uma espécie de núcleo, que aumentava e diminuía, correndo sempre na horizontal, e do poente para o nascente.

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UfoBook
Muita gente está assombrada. Um parente meu conta que precisou acalmar enèrgicamente as mulheres que aos gritos de “Meu Jesus, misericórdia!” caíam de joelhos no chão, chorando. Sim, em redor de muitas léguas daqui creio que se podem colhêr muitíssimos testemunhos. Centenas, talvez.

Mas faço questão de não afirmar nada por ouvir dizer. Dou apenas o meu testemunho. Não é imaginação, não é nervoso, não são coisas do chamado “temperamento artístico”. Sou uma mulher calma, céptica, com lamentável tendência para o materialismo e o lado positivo das coisas. Sempre me queixo da minha falta de imaginação. Ah, tivesse eu imaginação, poderia talvez ser realmente uma romancista. Mas o caso de ontem não tem nada comigo, nem com o meu temperamento, com minhas crenças e descrenças. Isso de ontem EU VI.

E então?


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  1. Ângela Bezerra de Castro17/2/23 10:43

    Meu tio mais velho contava que uma luz dessa natureza desceu até o campo onde ele estava e que parecia um imã. Ele precisou se agarrar a uma árvore, com muita força, para não ser sugado. Meu tio era jovem, corajoso e não mentia.

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