Retorno à leitura de A Nudez de Laura, de Ana Paula Cavalcanti, interrompida há dez anos, quando o romance foi lançado. Me penitencio porque passei tanto tempo sem penetrar nas entranhas dessa obra, que é recheado de episódios protagonizados por pessoas que se revelam portadoras de alma apaixonada.
Lançado em 2013, A Nudez de Laura, ganhou espaço na biblioteca dos livros que escancaram a alma da mulher em busca de conquistas, da liberdade e apontam sentimentos duradouros e relacionamentos salutares.
Clóvis Júnior
A começar pela abordagem do comportamento da juventude nos anos dourados entre as décadas de 1970 e 1980, tempos de mudanças, Ana Paula revela novos costumes, é quando aparece Laura recheada de sonhos e paixões.
O tema central do romance gira em torno do relacionamento entre casais, o amor e a paixão. A autora revela que juntou “diversas Lauras”, mulheres com as quais conviveu, para recriar suas histórias.
A escritora enfatiza a revelação dos costumes a partir de 1970 e anos seguintes, com gestos originados nos anos de 1960, quando os casais tinham como centro da vida, casar-se e serem felizes sob o mesmo teto.
O livro propõe uma reflexão sobre a vida entre jovens casais que necessariamente não vão ao altar para gerar filhos, mas vivem paixões e a liberdade sem conotação de libertinagem.
Clóvis Júnior
Laura buscava respostas às inquietações que à época norteavam a sociedade, em transformação. Tempo quando os jovens cultuavam a liberdade, muito mais do que apenas a camisa aberta ao peito, com medalhão no pescoço, calça boca-de-sino e cabelo comprido.
A autora faz uma tessitura do relacionamento humano, focou na paixão avassaladora, que queima sem ser fogo, no dizer do poeta português Camões. Tudo escrito em linguagem atraente para mostrar as marcas do tempo na vida dos personagens.
Vivendo paixão arrebatadora, Laura protagoniza a libertação da mulher, em corpo e alma. A cada página, desejamos saber como será a cena seguinte.
Clóvis Júnior
Laura é mulher empoderada, mulher do tempo presente. “A Nudez de Laura me encorajou a seguir a escrita ficcional. Laura me fez ressurgir. Mergulhar nesse mundo da literatura. Muitas pessoas não gostam do lado erótico do livro. Acredito que por vir de mim que tinha, e ainda tenho, para muitos, a imagem de uma mulher com outros focos”, comentou.
Ana descreveu cenas eróticas, com relevos poéticos, que resulta em leitura agradável. Em 182 páginas, teceu um painel de relações humanas tendo a paixão como fio condutor, a cada página aparece vibrações dos mistérios da alma. Ao reencontro dos corpos de Laura e Jorge, rebrota a chama do desejo na conflagração dos gestos e atos.
Para falar de tema palpitante e polêmico, Ana Paula desenvolveu esse romance com estilo fluente e vivo, usando termos justos, vocabulários precisos que dão encanto à linguagem coloquial dos diálogos.
Em romance de leitura que não é cansativa, por meio de Laura, a autora faz espraiar raios de convicções para derrubar certas convenções sociais da época, assim como fizeram, ao seu tempo, mulheres como Emma Bovary, de Flaubert; Ana Karenina, de Tolstói; Capitu, de Machado de Assis; Lara, de Boris Pasternak, e tantas outras mulheres fabulosas que dão diferença à vida.
Silenciosa, com seus dons, Ana Paula se confirmou escritora fértil e cheia de valores, cautelosamente expostos.
Ela escreveu uma história de amor, recheada de outras histórias que compõem a teia da vida que se assemelha com outras que temos conhecimento, pois Laura se despede das lembranças do passado para viver intensamente a paixão.
A Laura verdadeira foi uma amiga falecida aos 16 anos, por isso decidiu homenageá-la, dando seu nome a heroína do romance. “Nessa idade, sonhávamos muito com nossos príncipes... sofríamos por amores não correspondidos. Laurinha era uma menina ímpar, em todos os sentidos”, revela.
A romancista montou o livro com frescas lembranças, testemunhos e vivências, como disse, de sua infância e adolescência. Com o material armazenado na cabeça, usando sua energia criadora, produziu um livro arrebatador e corajoso.
No processo de criação do livro, a autora anotava em um caderno o que observava, até que os personagens ganharam vida. “Digitei tudo, enviei para a editora Delicatta, que gostou e publicamos”.
Ao tempo em que produzia A Nudez de Laura, Ana Paula trabalhava outro livro, ao qual chamou de “A Marca de um Cheiro”, ainda inédito. “Algo que jamais esperava que escreveria”.
Ana Paula Cavalcanti Acervo do autor
Uma incentivadora das letras e das artes. Com um grupo de grupos de amigos há mais de dez anos criou o Pôr do Sol Literário, com edição mensal, que homenageia autores, artistas e patrocina o lançamento de livros.
Quando decidiu fazer sua estreia na literatura, escolheu “A Nudez de Laura”, escrito em linguagem aprazível, sem pieguices ou apelação para atrair leitores.
Aa Paula Cavalcanti, Vilma Giuseppe e José Nunes Maria José Porto
Muitos a conhecia como Ana Ramalho, então decidiu renascer, por começar assinando suas obras literárias como, Ana Paula Cavalcanti.
Escritora inquieta e prodigiosa em efetivar ações culturais, está com dois novos romances prontos e um livro – “Mergulho em Si”, onde reúne textos que publica nas redes sociais, abordando conceitos filosóficos e existenciais.