Para começo de conversa, preciso dizer – e não conto novidade nenhuma – que eu e vocês somos sequências numéricas em pasta de computador, minha amiga e meu amigo. Em virtude da numeração que nos aplicam como se fosse um carimbo na testa, os sucessivos governos e os aparatos dessa coisa chamada “Sistema” sabem quem somos, onde vivemos, do que vivemos, o que temos, quanto ganhamos e quem sustentamos. Assim também o sabem os setores da indústria e do comércio aos quais repassamos nosso Cadastro de Pessoa Física, o famoso CPF, mesmo quando das compras com dinheiro vivo.
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Neste caso, o que temos é a vigilância a serviço do totalitarismo, é o controle dos nossos atos e hábitos, é o risco de respondermos até por crimes de pensamento. Bem o digam o “Olho que Tudo Vê” e a figura do “Grande Irmão”, termo, este último, no qual se inspira a franquia internacional dos BBBs televisivos, sem propósito além do voyeurismo e do mau entretenimento, assim considero.
A semana começou com o agradável reencontro com velhos colegas de Redação, gente que há muito eu não via, pessoalmente, olho no olho. Haviam acorrido ao Centro Cultural Ariano Suassuna a fim de acompanhar a apresentação do “Observatório de Dados”, iniciativa do Tribunal de Contas do Estado para o controle social dos atos e gastos de governo e, igualmente, de outras instituições estaduais e municipais.
Fonte: Ascom TCE/PB
E este controle invertido, pois disposto ao cidadão, é muito bom. Os colegas informavam-se, ali, do “Observatório do Sagres”, do “Observatório Processual” e do “Painel de Obras”, tudo numa mesma tela de computador, ao alcance dos clicks de acesso a receitas e despesas públicas e, não menos, à situação da Previdência Social (da qual dependem os aposentados nossos de cada dia), da educação, da saúde, da infraestrutura e dos quadros de servidores efetivos e temporários que tanto pesam nos ombros dos contribuintes.Painel de Obras TCE/PB
Nominando Diniz, presidente do TCE/PB
Lembro de que, anos atrás, saí da consulta médica com o endereço de uma nutricionista (para o controle alimentar) e com a prescrição de remédio contra a diabetes. Paguei por essas coisas em cartão de débito e, desde então, passei a ter no Facebook e Instagram – para ficarmos nesses dois exemplos - propaganda de medicamentos contra o mal que me abate o corpo e o espírito. Não aconteceu de modo diferente quando a vista turva me levou ao consultório de um oculista.
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Tento me vingar da doença e dos que me impõem dietas e receitas com a desobediência a tudo e a todos. O procedimento, aviso, tem contraindicação: a da arenga permanente de Dona Miriam e dos filhos que parimos.
Ainda bem que disponho de outra forma para retaliar farmácias, lojas, fabricantes e fornecedores de produtos e serviços, pois já consigo saber, também, de imediato, sem sair da cadeira, onde se situam os mais caros, o que me permite a rejeição, o esquivo e a denúncia.
Para tanto, acesso o “Preço da Hora”, assim denominado o aplicativo resultante do compartilhamento de dados entre a Secretaria da Receita e o mesmo Tribunal. Contam-me que as informações são ali atualizadas a cada cinco minutos, intervalo de tempo em que os dois organismos capturam as notas fiscais atinentes às aquisições e vendagens do comércio.
Vinhos, queijos, frutas, cereais, carnes, panetones? Pois bem, espiono e consigo saber, ao simples click, quem vende isso a custos mais baixos. O aplicativo dá-me (e a todos vocês, é claro) preços, nomes e endereços dos negociantes de todo e qualquer produto de que necessitemos na casa e na despensa doméstica, em todas as estações do ano. Basta baixá-lo no celular, no laptop, ou no computador de mesa. Mantenho, em certa medida, o controle da situação se o problema disser respeito à economia familiar. Evidentemente, este é o lado bom da coisa. É, de alguma maneira, a desforra do consumidor. Não é não?