Sexta-feira, 24 de janeiro de 1997: data em que pronunciei curta palestra na Sala Verde do Espaço Cultural "José Lins do Rego", em João Pessoa, dentro das comemorações dos 60 anos de fundação da Rádio Tabajara AM. Não tenho fotos do evento, mas lembro que foi bem prestigiado. Por sorte minha, consegui recuperar o que rascunhei para ler na ocasião.
A Rádio Tabajara da Paraíba foi fundada como um órgão do Governo do Estado, no dia 25 de janeiro de 1937, pelo governador Argemiro de Figueiredo. É, assim, a 17ª emissora de rádio mais antiga do Brasil e, além disso, a mais antiga do Estado da Paraíba. Em 2024, a emissora migrou para a frequência modulada (FM), ganhando o prefixo ZYR-632 e a frequência de 103.9 MHz. Naquela época, nas circunstâncias em que estava a emissora, a ideia seria transformá-la em rádio escola, atrelada ao SINRED (Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa), como afiliada da Rádio MEC do Rio de Janeiro, adotando o slogan "Cultura e Informação". Atualmente, em sua essência, penso que a emissora paraibana se mantém nessa linha, embora não pertencendo ao SINRED, nem sendo afiliada à Rádio MEC-RJ:
A Rádio Tabajara da Paraíba foi fundada como um órgão do Governo do Estado, no dia 25 de janeiro de 1937, pelo governador Argemiro de Figueiredo. É, assim, a 17ª emissora de rádio mais antiga do Brasil e, além disso, a mais antiga do Estado da Paraíba. Em 2024, a emissora migrou para a frequência modulada (FM), ganhando o prefixo ZYR-632 e a frequência de 103.9 MHz. Naquela época, nas circunstâncias em que estava a emissora, a ideia seria transformá-la em rádio escola, atrelada ao SINRED (Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa), como afiliada da Rádio MEC do Rio de Janeiro, adotando o slogan "Cultura e Informação". Atualmente, em sua essência, penso que a emissora paraibana se mantém nessa linha, embora não pertencendo ao SINRED, nem sendo afiliada à Rádio MEC-RJ:
NO FUNDO DO OLHO MÁGICO
Nasci em João Pessoa, em 1949, mas "abri os olhos" em Alagoa Grande, onde meus pais moravam e trabalhavam. Só voltei à capital aos 6 anos, para continuar os estudos. Meu primeiro contato com a Tabajara, sem compreender direito o que estava ocorrendo ao meu redor, foi em 1954, em Alagoa Grande, naquele agosto em que
Sou do tempo do olho mágico. Ficava horas e horas procurando ver o locutor, os radiatores, os cantores, as orquestras, lá no fundo do olho mágico, que na minha fantasia de criança seria o palco iluminado dos artistas da voz. Muitas vezes, talvez embalado pela emoção, conseguia “captar” imagens. Aprendi a enxergar o mundo através da Tabajara.
Alagoa Grande ainda hoje é um buraco. Com o rádio, conquistei um espaço de liberdade que as crianças de lá não tinham. Ele era o periscópio com o qual eu via as coisas acontecendo, por cima das muralhas verdes que cercavam a minha cidade. Se para alguns a palavra escrita era a única maneira de viajar sem sair do canto, eu, que também gostava dos livros, descobri muito cedo linguagem mais envolvente: a linguagem do rádio.
No retiro de Miramar, mais fazenda do que bairro novo, se contava a dedo o número de casas. Decidi conhecer a cidade. E nas idas de bonde ao centro, percebi que a Tabajara era muito mais que uma simples emissora de rádio. Era uma espécie de coreto ou clube social, o ponto de encontro de todas as classes. E não exagero se
Acontece que a caixa com a telinha cheia de imagens em movimento começou a ter espaço privilegiado nos lares, seduzindo corações e mentes. O que os ouvidos não podiam ver deslumbrava os olhos em escala cada vez maior e mais nítida. O radinho foi deixando de ser a única companhia. Nascida quando o rádio era todo-poderoso, a Tabajara soube ser poderosa, com pompa e circunstância. Porém, como que cumprindo o ciclo natural da vida, foi perdendo o elã. Não era mais mídia política para o governo nem difusora de educação e cultura. Fechou-se para o entretenimento. O governador João Agripino morrendo de amores pela moderninha e udenista Arapuan de Otinaldo e já tramando controle social mais engenhoso, via Secretaria Extraordinária.
Rino Visani (centro) EPC
Agora a Tabajara é uma coisa meio híbrida; com o passivo e a folha salarial absorvidos pelo Estado e enfrentando muitas reclamações trabalhistas, é empresa em liquidação ainda não liquidada e autarquia criada por lei, ainda não instalada. Confusão jurídica do ponto de vista institucional e ultrapassada sob o aspecto tecnológico, a Tabajara mantém, em virtude de impasses administrativos que ainda não puderam ser removidos, uma programação colcha de retalhos, sem traço identificador, apesar dos avanços dos últimos dois anos, notadamente no horário das 06h às 14h, de segunda a sexta-feira.
Na verdade, a Tabajara não pôde ainda definir a sua segmentação porque não tem conseguido superar obstáculos de há muito enraizados no seu cotidiano, em decorrência da ação nefasta do corporativismo, que, embora agonizante, ainda incomoda. Tudo resultado de anos e anos de desapreço generalizado, omissões e equívocos.
Sede da Rádio Tabajara (demolida) EPC (PB)
Repensar a Rádio Tabajara, reestruturá-la administrativamente, aumentar sua potência, melhorar a qualidade de áudio e atualizar os seus equipamentos – eis o desafio. Para mim, que estou com a mão na massa em tempos de Real, não vejo outra saída a não ser a sua transformação em Rádio Escola, no sentido de ser mesmo sala de aula, laboratório para formação de novos profissionais, produtora e difusora de programas educativos e culturais.
Flashes históricos da Rádio Tabajara EPC (PB)
É por aí que as coisas podem ficar mais fáceis na captação dos chamados “apoios culturais” do setor privado e na formalização de parcerias com órgãos públicos interessados na educação popular. Qual o outro objetivo de uma emissora oficial, senão a promoção humana e social da sua audiência?
O que não faz o menor sentido é uma rádio com problemas estruturais tremendos, até pelo fato de ser uma repartição pública com defeitos que não podem ser corrigidos do dia para a noite, insistir em conquistar espaços no sofisticado mercado publicitário, que exige criatividade, eficiência, organização, audácia e muita agilidade.
Felizmente o governador José Maranhão, seguindo o seu antecessor Antônio Mariz, apoia e respeita a Tabajara. Na realidade, o governador, talvez por ser homem de rádio, promove o renascimento da emissora, ao obter a concessão da FM e a duplicação da potência da AM, que disporá, inclusive, de "sistema diretivo" capaz de conduzir nosso sinal para o interior do estado, fazendo com que a Tabajara chegue a todas as cidades da Paraíba com som local de boa qualidade.
José Maranhão e Petrônio Souto Acervo do autor
José Maranhão Câmara Estadual PB
Após o agradável retorno nostálgico ao olho mágico da infância, desejo apenas encontrar, nas minhas andanças por esse interior afora, pessoas anônimas como eu, que, através da Tabajara, tiveram a chance de enxergar além das serras e da ignorância do seu sítio, ampliando assim os horizontes da humanidade, a partir da pequenina aldeia.
Ex-diretores da Rádio Tabajara EPC