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Crise capitalista e saúde mental

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O capitalismo é reconhecido por sua capacidade de fomentar o crescimento econômico e a inovação tecnológica, enquanto sistema econômico hegemônico no mundo contemporâneo. Contudo, é imperativo reconhecer que sua configuração atual, caracterizada por dinâmicas desumanizantes, tem contribuído significativamente para o aumento dos índices de transtornos mentais, em especial a depressão. Tal enfermidade, cuja prevalência tem crescido globalmente, deve ser compreendida como um sintoma das contradições inerentes a um modelo que privilegia a maximização do lucro em detrimento do bem-estar social e da qualidade de vida.

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A crise capitalista, fundamentada na exploração intensiva da força de trabalho e na precarização das condições laborais, instaura um ambiente propício ao desenvolvimento de sofrimento psíquico. Enquanto sujeito produtivo, o trabalhador é reduzido a um agente instrumental cujo valor está estritamente vinculado à sua capacidade exaustiva e desumana de gerar lucro para os outros. Essa condição gera insegurança empregatícia, metas excessivamente rigorosas e competição exacerbada, elementos que potencializam estados crônicos de estresse, ansiedade e depressão. Esse fenômeno é estudado pelo geógrafo britânico David Harvey (1935) em seu livro O Novo Imperialismo, publicado em 2004. Entre suas obras mais conhecidas destacam-se: A Justiça Social e a Cidade (1973); Condição Pós-Moderna (1992); Espaços de Esperança (2000) e A Produção Capitalista do Espaço (2005).

Um dos objetivos das pesquisas de David Harvey é compreender o funcionamento e a dinâmica espacial do sistema capitalista e sua função nas
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relações sociais contemporâneas. Outra importante contribuição de seus estudos foi a abordagem da ideia de espaço, que distingue as concepções de espaço absoluto — influenciado pelo filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596–1650); espaço relativo — inspirado nas contribuições do físico alemão Albert Einstein (1879–1955); e espaço relacional, incorporando elementos filosóficos que se afastam das medições exatas e englobam as relações de possibilidade.

Em evolução a esse raciocínio, o cientista britânico desenvolveu um dos mais importantes conceitos do pensamento geográfico das últimas décadas: a compressão espaço-tempo. A partir disso, ele visualizou a dinâmica nascente no contexto da globalização de superação das distâncias, em que as transformações técnicas e tecnológicas foram capazes de acelerar os acontecimentos, os níveis de produção econômica e a integração política.

Nos dias atuais, o capitalismo promove uma cultura consumista que fomenta a insatisfação contínua. A mídia e as redes sociais instauram falsos padrões idealizados de consumo e sucesso, os quais se revelam
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inalcançáveis para a maioria dos cidadãos. Esse fenômeno de comparação social e frustração contribuem para a construção de um sentimento generalizado de inadequação e baixa autoestima, componentes centrais a experimentar marginalização social e agravamento do sofrimento psíquico como acelerador para transtornos depressivos. Isso foi estudado pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) em seu livro Vida para Consumo: A Transformação das Pessoas em Coisas, publicado em 2007.

Os impactos sociais e econômicos da depressão no contexto do capitalismo reduzem a produtividade e aumentam os custos em saúde pública. As respostas institucionais se restringem à prescrição de psicofármacos, sem abordar as causas estruturais do problema. Portanto, torna-se necessária uma política de Estado que inclua a redução da jornada de trabalho e o fortalecimento da rede pública de saúde mental. Simultaneamente, é urgente valorizar a cooperação, promovendo a reconstrução dos vínculos sociais fragilizados, orientados por uma perspectiva que transcenda a brutalidade do lucro e valorize a dignidade humana.

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