Na pracinha do bairro, clara caminha com seu carrinho de bebê. O sol da tarde ilumina o rosto rosado da “criança” que ela exibe com org...

Síndrome do bebê fantasma

bebe reborn
Na pracinha do bairro, clara caminha com seu carrinho de bebê. O sol da tarde ilumina o rosto rosado da “criança” que ela exibe com orgulho. Os vizinhos sorriem, mas, ao se aproximarem, congelam. Nos braços dela, há um boneco reborn: olhos de vidro, veias desenhadas à mão, corpo de silicone morno.

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GD'Art
A cena é perturbadora, não pelo realismo do objeto, mas pelo desvio de atenção que ele provoca. Clara troca as fraldas da "criança, canta ninarias, conversa com o inanimado. “Ele acordou com cólica hoje”, diz, balançando o manequim.

A psicologia nomeia isso como "Síndrome do bebê fantasma" — uma resposta à perda, à solidão, à carência.

Mulheres que sofreram abortos, idosas abandonadas, mulheres cujos úteros ou afetos nunca foram preenchidos.

O reborn é uma prótese emocional, um atalho para driblar a ausência.

Até quando um objeto substitui o calor de um ser? Há quem critique: “É patológico”, murmuraram na fila do mercado, enquanto Clara pagava por mamadeiras vazias. Tem o caso da "Mãe" que publicou um vídeo em seu perfil no TikTok levando Bento, seu bebê reborn, ao hospital após “notar que ele não se sentia bem”. O conteúdo viralizou e obteve mais de 8 milhões de visualizações até o momento. Ela decidiu levar Bento ao hospital às pressas ao perceber que ele estava mal. Chegando ao local, ela relata que a médica o examinou, medindo sua temperatura e aplicando remédios. Em determinado momento, ela relata que “tirou o leite” em casa para dar a ele no hospital.

A verdade é que todos carregamos bonecos reborn invisíveis. Projetamos nossas vidas em relacionamentos mortos, em empregos que nos sugam, em likes que validam nossa existência. Clara apenas materializou sua neurose em algo tangível.

Seu erro, talvez seja não escondê-la. Enquanto a sociedade tolera vícios em álcool, workaholismo e compulsões silenciosas, seu crime é expor demais a ferida. O problema não está no silicone, mas na linha tênue entre o que cura e o que aprisiona. Quando a fantasia vira cela, o abraço ao boneco é uma confissão: preferimos a mentira que acalma à verdade que machuca.

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PxB
Assim, seguimos colecionando substitutos — para a maternidade, para o amor, para o sentido.

Porém, cuidado com os reborns da alma: um dia, eles podem nos responder. E aí, seremos obrigados a encarar o silêncio que sempre esteve lá.

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  1. Pessoas solitárias, idosas, mulheres que não tiveram filhos são minoria. A vida é mais, muito mais. Enquanto o bebê inerte é o assunto, eu penso nas crianças carentes, que procuram a atenção dos adultos, algo que façam eles perceberem a sua existência. Elas nascem , e a mãe já coloca um celular na sua frente. Criança boa é a quieta como os bebês rebort. Essa mãe não é solitária, carente, precisa apenas que o dia tenha mais de 24h para ela ter um tempo seu .

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