Breve ensaio sobre a escolha

“Faça ou não - você irá se arrepender
de qualquer maneira” (Kierkegaard)

Atenção! Tudo que se seguirá a partir de agora é passível de discordância e, mais ainda, não tem valor algum; pois, no final das contas, a nossa limitação epistemológica não nos permite ter certeza sobre nada. Como uma sombra que nos persegue. A sombra que nunca se desprende do solado do homem que vive sob o sol da razão.

Jens Lelie

Não existe escolha. Simplesmente. Não porque estejamos predestinados a cumprir certo roteiro de vida, mas porque o fenômeno da escolha não faz qualquer sentido se prestarmos atenção. Não estou desconsiderando de maneira alguma a possibilidade do destino. Mas antes estou fazendo um questionamento ainda mais fundamental. Creio que tal sensação de escolha seja da própria psique do homem. Nós temos naturalmente um raciocínio indutivo. E este raciocínio vem da maneira como experienciamos o mundo.

Por exemplo, quando colocamos a mão no fogo e nos queimamos, fazemos uma associação lógica: colocar a mão no fogo implica em nos queimarmos. Logo, numa situação semelhante, evitamos colocar a mão no fogo para evitar a dor que sentiríamos ao fazê-lo. Tal evitamento aprendido nos dá a sensação de que escolhemos entre colocar a mão no fogo e não colocar a mão no fogo. E assim vive o homem.

Aleksandr Kadykov

É nesse ínterim que fazemos nossas “escolhas”. Ora, tudo isso é muito intuitivo. Voltemos para o exemplo anterior. O que significa ter escolhido entre as - digamos, assim, - opções dadas? Novamente faço outra suposição. Acredito que imaginamos a experiência de ter colocado a mão no fogo e, a partir de agora, esse fato passa a existir, mesmo que intelectualmente. Esse mecanismo intelectual está impresso na essência do homem.

Mas veja que não existe um mundo onde colocamos a mão no fogo. Existe apenas na nossa imaginação. São só várias correntes elétricas causadas por interações entre substâncias químicas no nosso cérebro. Ou seja, a escolha é apenas um processo mental extremamente misterioso. Este processo constrói nossa história como indivíduo e a imprevisibilidade de tal mistério é o que faz a vida ser tão fascinante.

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