Tudo começou numa manhã azul de domingo, primavera de 2009. Eu e um parceiro muito chegado, o Edu, tínhamos que dar cabo à missão de levar nossa prole a uma exposição que ocorria sob aquele teto cheio de composições geométricas, o Espaço Cultural. Para a dita prole, uma tropinha de três serelepes criaturas, eu contribuí com uma das componentes, uma garotinha que ainda atende pelo codinome familiar de Gabi. Já Edu, levou o Sussinho e a Repolhinho.
E do que se tratava tão decantada exposição? Era uma mostra de cães de raças diversas onde estavam presentes desde o abusado pinscher, aquele anãozinho que se
Томасина
Em minha casa, contávamos com a presença soberana de Gauss, um boxer enorme, que tinha a pretensão de ser o tutor da família e não o contrário. Estávamos pois, bem abastecidos no quesito cães. Já na casa de Edu e Ceres... Nada, nadinha. Então, Sussinho e Repolhinho tinham a incumbência de encontrar um parceirinho peludo, de quatro patas e capaz de viver em apartamento. E encontraram.
Uma beagle amostrada balançou aquele rabinho de ponta branca assim que viu os pirralhos. Amor à primeira vista devidamente correspondido! E que amor! Quem não sabe como brilham os olhos de uma criança quando esta ganha um cão? Foi então que meu camarada, num ato de bravura sacou do bolso seu talão de cheques e pela bagatela de setecentos reais fechou a negociação que foi muito breve, dada a ansiedade dos rebentos.
Nunca mais olvidei aquele momento mágico, enquanto as crianças estavam disputando quem levaria ao colo a cachorrinha, meu amigo se esvaía em lágrimas. Ainda não descobri se aquele carpimento foi por ter proporcionado tal alegria à prole, ou se foi pela subtração que fizera de sua robusta conta bancária.
Molie
Mas isso foi só o início de uma grande aventura. Deram àquela belezura o nome de Molie.
Molie entrou na vida dessa família e por tabela, na minha também. Era uma espevitada, cheia de vida e com aquele apetite voraz. Como é costume dizer nesses casos, uma fofura. Mas sabem como é a vida, o amor um dia chega para quem está dando sopa pela vida. E Molie se viu nessa situação quando ficou mocinha.
Estava ela, numa tarde, dando um rolé (devidamente tutelada) pela calçadinha da praia e eis que bate os olhos no grande amor de sua vida. Um belo espécime de mesma raça todo cheio das querências. Ela deu uma cheirada nele, ele uma nela e aquela breve relação olfativa revelou-lhes que haviam nascidos um para o outro.
Consultado pelo interlocutor da outra parte, meu amigo concedeu a mão (no caso, a pata) de sua tutelada. Aliás, o aqui chamado de interlocutor, anos depois entraria na política e assumiria uma cadeira lá em Brasília, mas que à época, ainda muito jovem, era apenas filho de um ex-governador e neto de outro que
L. Augusto Paiva da Mata e Chimbica
Os anos foram passando, passando... Sussinho cresceu e foi estudar fora, Repolhinho se tornou uma moçoila de muita formosura e também foi fazer a vida bem longe daqui. Meu amigo e sua outra metade nem sentiram toda a força daquela tal “síndrome do ninho vazio”. Foi aí que Molie cumpriu sua função. Tinha seu cantinho ao lado da cama do casal, e um outro refúgio dentro do coração dos dois que ficaram.
Mas o tempo de Molie foi passando. A bichinha viveu 16 anos e dias atrás, depois dos padecimentos da velhice, foi falar com São Francisco de Assis. Quando escrevi essas linhas, Vitória e William, que não mais crianças como linhas atrás, ainda não sabiam dessa partida. Vão sentir, mas é vida. Tudo isso valeu a pena, não valeu? Sempre vale quando a alma não é pequena.