Contrariando Nathanael Alves, que, na maioria das vezes, sugeria a leitura do livro para depois voltar ao prefácio ou à introdução da obra, em relação ao exemplar de Viagem no tempo e outros escritos, da professora Maria das Graças Santiago, imortal da Academia Paraibana de Letras, primeiro percorri as páginas iniciais para sentir as impressões dos mestres Hildeberto Barbosa Filho e José Mário da Silva, igualmente acadêmicos, com elevados conhecimentos da arte de escrever e estudiosos da literatura, que deram relevantes insinuações sobre o trabalho da nossa confreira.
Maria das Graças Santiago
Conduzido pelas imagens cativantes, reveladas com os indispensáveis ornamentos da escrita elegante, o leitor faz a travessia com Maria das Graças pelas paisagens de sua vida e pelas paisagens da cidade.
As crônicas de Maria das Graças ganham dimensão poética nas palavras que recriam os cenários recuperados das imagens guardadas de sua infância. Passeamos com a cronista pela cidade que guarda época ainda latente na presença de muitos — dos passeios pela Lagoa do Parque Solon de Lucena, das praças e dos veraneios nas praias semidesérticas do Poço e Camboinha —, lugares de grandes emoções.
Nas páginas do livro, é possível conhecer o pensamento e o gosto de Maria das Graças Santiago, desde a menina que gostava de livros, começando por Monteiro Lobato até
Sua paixão literária é Clarice Lispector, mas se encantou com as pinturas de Renoir e Manet; na música, deleita-se com Debussy e Ravel. Considera a literatura de Clarice um tema inesgotável, sempre a exigir uma releitura: “Clarice sempre me espantou e enriqueceu”.
Tendo nascido na capital, o apego às coisas da natureza aumentou quando passou a residir em Tibiri, próximo a Santa Rita, lugar com aspectos rurais. O ar fresco do campo invadia a casa dos recém-casados, perfumando todos os ambientes. Habituou-se a viver no campo, aumentando sua paixão pela natureza.
Maria das Graças é uma escritora antenada com as novidades da literatura e vê nas artes fonte de renovação espiritual. A cronista sempre retorna aos temas mais eloquentes e definitivos, guardados na memória.
Telas de autoria de Maria das Graças Santiago
O clima do campo acompanha Maria das Graças, como revela em suas crônicas. Saindo da granja de Tibiri, passou a morar no Jardim Luma. Levou consigo o perfume da terra, que exalava pelo apartamento, com os pássaros a cantar nas árvores próximas e, nas manhãs, o sol preguiçoso penetrava pelas janelas, dando aspectos de campo.
A cronista registra tudo o que seu olhar captou, seja nos tempos passados ou abordando assuntos em voga, bem presentes no cotidiano.
A leitura deste livro lembra a travessia de Maria levando o Filho do Altíssimo para o Egito. Sem os desertos egípcios assombrosos, outra Maria, conduzindo seu menino Jesus invisível, nos transporta por caminhos de nossa cidade, vivendo a docilidade de um tempo ainda vivo na memória de muitos.
A Fuga para o Egito Vittore Carpaccio
Para o mestre José Mário da Silva, a escritora Maria das Graças Santiago tem encontrado na crônica o ponto de partida e de chegada para as suas cogitações estéticas e existenciais mais efetivas, “tudo sob os auspícios da palavra da arte e da arte da palavra”.