O poeta é como o navegador que, no mar, observa as estrelas e as nuvens sem desprezar as ondas. Pelas estrelas se guia para avançar...

O poeta do invisível

poesia paulo sergio vieira
O poeta é como o navegador que, no mar, observa as estrelas e as nuvens sem desprezar as ondas. Pelas estrelas se guia para avançar pelas águas mais profundas e realizar sua pescaria e, nas ondas do mar, observar a poesia que exala, carregada pelo vento. Através das nuvens e das estrelas, descobre as tempestades, e as ondas e o vento formam um consórcio que o conduz à terra firme.

Acredito que a poesia é feita das pequenas coisas e dos poucos acontecimentos intimistas. O crítico literário João Ribeiro dizia que, sem o dom da poesia, ninguém possui o senso estético, a faculdade própria de conhecê-la. “Creio
poesia paulo sergio vieira
João Ribeiro CC0
igualmente que a poesia é uma dimensão nova que está talvez oculta à minha perspectiva do mundo”, escreveu.

A poesia precisa do ritmo musical das ondas do mar, e a emoção no verso é vital para que não se torne capenga. Não que se deseje ser igual a Camões, Goethe ou Augusto dos Anjos, inimitáveis, mas o poeta deve seguir o caminho noturno, guiado pelas estrelas, vencendo as ondas bravias dos estranhos mares para que, conduzido pelos ventos afáveis da poesia, possa discernir a emoção da sua produção poética. No entanto, o poeta imaginoso ganha grandeza, mesmo não atingindo o patamar de Augusto, de Fernando Pessoa, de Drummond.

A poesia é a maior Arte humana, como as pirâmides do Egito, as obras de Leonardo da Vinci, de Aleijadinho. A Poesia é produto da criação divina que existe no humano, tornando a arte não um passatempo, mas um espaço das reações emotivas e sociais.

poesia paulo sergio vieira
Paulo Sérgio Vieira
Todos somos poetas, porque gostamos e lemos poesia. Uns escrevem Poesia de bom nível, outros de nível superior, bastando a estes uns poucos poemas para ganhar dimensão mundial, genialidade. Cito Augusto dos Anjos – sempre Augusto – e Cesário Verde que publicaram apenas um livro e se tornaram universais.

Fui elaborando estas considerações, evocando poetas de alto nível enquanto lia o poeta paraibano Paulo Sérgio Vieira. Não desejando, lógico, compará-lo aos poetas citados, apenas ressalto sua versatilidade poética. Um poeta sem estardalhaço. Na dimensão de sua criatividade, trabalha silencioso, por isso produz uma poesia silenciosa.

Tendo feito sua estreia com o livro Cílios de Deus (Editora da UFPB, 1995), resultante de um olhar voltado para os movimentos literários de cunho poético da Paraíba, capitaneado pelo legado do movimento do Grupo Sanhauá em que Sérgio de Castro Pinto foi a voz maior, e para a revista Garatuja, Paulo Sérgio logo incursionou nessas ondas do mar da Poesia.

poesia paulo sergio vieira
Hildeberto Barbosa Filho PPGM-UFPB
Surpreendeu-me o fato de as palavras do poeta Hildeberto Barbosa Filho, quando o livro foi lançado, poderem perfeitamente ser aplicadas à produção atual, quase quatro décadas depois. “O seu modo de operar a enunciação lírica prima pela economia de linguagem e pela contensão expressiva”.

Hildeberto percebeu, na produção do poeta em referência, a “poesia do menos”, por ele seguir o “padrão de economia e objetividade”, por ser econômico no uso das palavras, embora dizendo bastante. Esta poética, portanto, se repete nos seus livros mais tarde publicados.

Lendo as palavras do crítico literário constantes no livro As Ciladas da Escrita (Editora Ideia, 1999), percebemos que Paulo Sérgio começou navegando em barco construído com madeira capaz de suportar as ondas e as tempestades no mar da Poesia.

poesia paulo sergio vieira
Se, quando da publicação de seu primeiro livro – Cílios de Deus –, era um poeta jovem, mas com uma produção madura, que não “sucumbia a uma tendência ao sentimentalismo”, evitando exatamente isso, como observou Hildeberto à época, agora, em idade de maior conhecimento, ainda mais aperfeiçoou as regras de produção de sua poesia.

Paulo Sérgio Vieira é um poeta com poemas bons de ler e meditar, porque cheios de fluidos que alimentam a alma. Ele traz o invisível aos olhos da alma.

Se o estilo é o espelho da alma do escritor, como afirmava Afonso Arinos, a poesia que cada um escreve é seu próprio espelho. Cada um nos vemos em nossos próprios espelhos.

A poesia nos deixa menos invisíveis. Escrever poesia pode não ser tudo na vida de cada uma pessoa, mas é tudo na vida do poeta porque o que produz é fruto de suas emoções e alimento de sua alma.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também