Tenho dois amigos que me ensinaram a olhar a arte como alimento e agente transformador da vida, mostrando o livro como suporte e luz para expor as maravilhas do universo. Mostraram-me que, depois dos extravios humanos, é possível reconstruir novos horizontes: a arte como possibilidade de discutir a pobreza, a fome, os conflitos e apontar caminhos para uma sociedade livre.
O destino me aproximou de dois amigos. Assim como o poeta E. E. Cummings exaltou em sua canção, dizendo “carrego seu coração comigo”, Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves — eu os carrego no meu coração. Para onde eu vou, eles estão em minha lembrança.
Nathanael Alves A União
Nathanael passou a viver na eternidade, deixando-me acometido de profunda saudade, mesmo ao reviver suas palavras afetuosas e seus gestos angélicos para comigo. Mas o outro, Gonzaga, igualmente caro, dele recolho benfazejas lições.
Eu preparo uma canção em forma de livro para homenagear os dois.
Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves iniciaram suas atividades profissionais nas redações na década de 1950, cada um em órgão diferente da imprensa, formando invejável conhecimento da arte de fazer jornal. Depois, passaram a atuar juntos nas mesmas redações, dividindo sonhos e aspirações.
Ambos já eram leitores de obras universais e sentiam a força transformadora da poesia de profundo sentido social e espiritual.
Gonzaga Rodrigues Acervo do autor
Na década de 1960, transformaram-se em animadores de novos talentos que despontavam nas redações.
Escrevendo poesia ainda jovens, anteciparam o triunfo literário que seria consolidado nas crônicas e nos artigos que começaram a publicar.
Conquistaram leitores que os seguiam para onde se deslocassem com suas crônicas e artigos. Onde atuavam, aliciavam leitores, a ponto de alguns colecionarem seus textos.
Os dois foram, essencialmente, jornalistas sóbrios e inteligentes. Sempre preocupados em expor ideias que constroem e revitalizam o terreno onde é possível plantar sementes de boa germinação.
Nunca perderam a serenidade nos declives da vida. Homens sem malquerença com ninguém, mesmo quando os algozes do período do governo militar tentaram impor silêncio e
Nathanael Alves Tonio (A União)
Nathanael era silencioso, falava somente o necessário para a boa comunicação, ouvia mais do que opinava, mas transmitia mensagens de otimismo e confiança nos sonhos e projetos idealizados. Gonzaga sempre foi mais extrovertido e igualmente propenso a recolher a dor do semelhante.
Figuras humanas inconfundíveis e fecundas em ensinamentos, durante décadas orientaram quem deles se aproximava, principalmente levando-os a conhecer a arte de escrever em suas mais amplas significações. Enfim, estes dois cronistas souberam cativar.
Nos perfis singelos que preparamos encontram-se inconfundíveis intenções de reverência a ambos. A intenção de reverenciá-los foi acalentada por décadas e não extrapola a admiração.
José Nunes e Gonzaga Rodrigues Acervo do autor
Sempre lembro que estes dois amigos e confidentes, súmulas de virtudes literárias, moldados do barro que suporta todas as temperaturas, trouxeram para a crônica a beleza estética.
GD'Art
Em cinco décadas de amizade — mais tempo com Gonzaga do que com Nathanael —, nunca presenciei opróbrio no trabalho destes dois brilhantes cronistas, que souberam vencer as intempéries e a monotonia dos lugares que negaram as oportunidades de estudo. Sempre lutaram pelas liberdades.
Tenho-os como modelo de homens a serem seguidos.