Embora nenhum biógrafo de Schopenhauer confirme, diz-se que, certa vez, o filósofo alemão foi visto parado diante de um jardim, imóvel,...

Quem somos nós?

aceitacao serenidade reflexao
Embora nenhum biógrafo de Schopenhauer confirme, diz-se que, certa vez, o filósofo alemão foi visto parado diante de um jardim, imóvel, silencioso e com o olhar perdido entre as flores.

Passaram-se horas, e ele continuava ali, imóvel, de sobretudo escuro.

A vizinhança, intrigada com aquele homem solitário e enigmático, decidiu chamar a polícia.

Quando o guarda se aproximou, perguntou-lhe:

— Quem é o senhor?

Schopenhauer, despertando de sua contemplação, voltou-se lentamente e respondeu:

— Ah, meu amigo... essa é a pergunta que tenho tentado responder o dia inteiro...

Em seu soneto “Dualismo”, de 1919, Olavo Bilac reflete sobre a condição humana:

Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando, em maldições e preces, Como se, a arder, no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. Pobre, no bem como no mal, padeces; E, rolando num vórtice vesano, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinteresses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas das virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E, no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora.

Nietzsche, no prólogo de Assim falava Zaratustra, disse que o homem é uma corda estendida sobre o abismo, entre o animal e o além-do-homem. Há, em todos nós, uma tensão íntima entre as fortalezas que exibimos diante dos outros e as fraquezas que nos ferem em silêncio.

Somos todos feitos de luz e sombra, coragem e medo, firmeza e fragilidade.

Às vezes, nos esforçamos para mostrar ao mundo uma face segura, serena, confiante; simulamos discursos grandiloquentes, tentando mostrar o melhor de nós.

É a máscara da força, da autoconfiança, construída por necessidade, por instinto de sobrevivência.

Ela nos protege das críticas, do julgamento, da rejeição e também nos preserva um pouco da nossa própria autocondenação.

Mas, por trás dela, existe o ser real — frágil, cheio de dúvidas, hesitações, lembranças, culpas e feridas não confessadas.

As fortalezas que ostentamos são, em grande parte, muralhas erguidas para esconder as fragilidades que tantas vezes tememos reconhecer até para nós mesmos.

No entanto, é dentro desse conflito que habita o maior campo de aprendizado da alma.

A fraqueza que escondemos não é inimiga da força: é sua raiz mais profunda.

O medo, quando compreendido, torna-se prudência; a dor, quando assimilada, converte-se em compaixão; a dúvida, quando enfrentada, amadurece em sabedoria.

O problema não está em sermos frágeis, mas em fingir que não somos.

O ser humano cria defesas para suportar a dor.

Negamos o que nos fere, inventamos papéis heroicos, simulamos seguranças.

Mas a alma, mais sábia que o orgulho, sabe a verdade.

Aquilo que é reprimido não desaparece — apenas se disfarça.

Aparece em gestos de impaciência, em explosões de ira, em crises de ansiedade, em silêncios pesados, em doenças autoimunes.

O corpo e o comportamento passam a falar o que o coração não quer revelar.

Assumir as próprias fragilidades não é fraquejar: é ter coragem de olhar o espelho sem maquiagem.

A verdadeira fortaleza não está em parecer invencível, mas em continuar de pé mesmo sabendo-se vulnerável — como o bambu que resiste à tempestade não por ser rígido, mas por saber curvar-se ao vento.

Para os estoicos, aceitar a dor é a primeira forma de liberdade.

Para os existencialistas, o ser humano se define pelo modo como enfrenta sua angústia.

As lutas secretas são degraus rumo ao melhoramento.

As fraquezas que nos envergonham hoje são instrumentos de lapidação para um amanhã melhor.

Há, em cada um de nós, um território incômodo, imperfeito, que não deve ser odiado, mas estudado.

Quando alguém admite sua dor, ela se torna ponte; quando a esconde e a nega, ela vira abismo.

A aceitação de nossas contradições nos permite olhar o outro com mais ternura, pois reconhecemos nele as mesmas batalhas que travamos em silêncio.

A fortaleza e a fraqueza não são inimigas, mas hemisférios que se completam: uma dá estrutura, a outra confere profundidade.

Viver é um delicado exercício de equilíbrio entre o que mostramos e o que somos, entre a publicidade e a intimidade.

A paz não vem da ausência de conflito, mas da harmonia entre as partes em desacordo.

A lágrima que escorre ensina humildade; o medo superado traz fé; o erro reconhecido traduz a verdade; a decepção confere experiência. O sofrimento, quando aceito com serenidade, torna-se um mestre silencioso.

Não se trata de eliminar a contradição, mas de aprender a dançar com ela.

Ser forte não é nunca cair; é ser capaz de se levantar, mesmo ferido.

Essa condição que nos caracteriza não é sinal de fracasso moral, mas uma oportunidade de crescimento.

Cada um de nós carrega provas e imperfeições que servem para desenvolver a paciência, a humildade e o amor.

A fraqueza que nos constrange, na verdade, é ferramenta de autoburilamento.

As fortalezas visíveis — o trabalho, a fé, o esforço diário — são conquistas de quem já aprendeu a caminhar.

Já as fraquezas secretas são feridas da alma que ainda precisam ser curadas com paciência e trabalho.

Não devemos nos fixar na queda, mas no esforço de se levantar sempre que for preciso, com humildade, perseverança e confiança.

Todos, mesmo aqueles que julgamos mais firmes, travam lutas íntimas que ninguém vê na arena do cotidiano.

Cada um traz consigo as suas dores secretas.

Nossas tensões interiores revelam o contraste entre o homem velho e o homem novo, descritos por Paulo de Tarso em suas epístolas.

A cada esforço para vencer um vício, um orgulho, uma vaidade, damos um passo à frente.

O sofrimento interior é um instrumento de depuração, e o reconhecimento da própria fragilidade é um avanço em direção à conquista da verdadeira força — aquela que nasce da consciência de si, e não do engano nem do orgulho.

Não devemos exigir de nós perfeição imediata, apenas esforço sincero e perseverante.

Somos todos aprendizes. O importante é seguir, mesmo que tateando na sombra. Não avançamos por saltos, mas por pequenos despertares e por cada gesto de humildade diante da própria imperfeição.

A serenidade nasce quando aceitamos ser o que somos: seres em construção, viajores entre a noite e o amanhecer.

Afinal, como disse Jung:

“Alguém não se torna iluminado imaginando figuras de luz, mas se tornando consciente de sua própria escuridão.”

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  1. Esse texto seria ótimo se reduzido em 75%. Como está, é extremamente repetitivo, perde em expressividade, se esvazia em sentido e vira página débil de auto-ajuda.

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    1. Muito obrigado pela sugestão e correção. Se desejar, posso submeter tosos os próximos ao seu crivo, apreciação e aprovação antes de publicá-los. Emerson

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    2. Agradeço ao "anônimo". Envie-me o seu e-mail, se puder quebrar seu voto de anonimato, para que assim eu possa lhe enviar os próximos textos e assim poupar os leitores de tanta debilidade, falta de expressividade e vazio sentido. O autor

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  2. amanhecer.

    Afinal, como disse Jung:

    “Alguém não se torna iluminado imaginando figuras de luz, mas se tornando consciente de sua própria escuridão.”

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