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Janeiro que chove ano novo. A folhinha trocada na parede e as folhas verdes molhadas na praça. O peso enverga os galhos...

chuva janeiro
Janeiro que chove ano novo. A folhinha trocada na parede e as folhas verdes molhadas na praça. O peso enverga os galhos que se abaixam para conseguir carregar a água. Sai de cena o branco da roupa, o céu veste-se de brancas nuvens. E logo o azul se abre para o abraço do rei Sol pela terra brevemente encharcada e seca as superfícies. Os números vão se trocando em espaços precisos com a sincronização e a efemeridade do tempo. Movem-se relógios, pessoas, bichos e o mundo.

Sal, era o gosto da pele na boca. Azedo era o cheiro do couro molhado da bola enquanto secava em dias pós-chuva quando a t...

poesia prosa imagem cotidiano
Sal, era o gosto da pele na boca. Azedo era o cheiro do couro molhado da bola enquanto secava em dias pós-chuva quando a terra molhada amaciava os pés que iriam chutar e se tatuar com o pó, o barro, a poça d'água e a grama. A outra água, mesmo sem ter sabor, era sentida doce pela língua ao matar a sede. Os olhos capturaram todos os verdes, vermelhos, azuis e todas as tonalidades, mesmo que à distância as figuras ficaram embaçadas. Anos coloridos.

As memórias são plantadas em nossas mentes ao longo da vida. Boas lembranças regadas são como jardins floridos, quintais cheios de fru...

recordacao jardim nostalgia planta
As memórias são plantadas em nossas mentes ao longo da vida. Boas lembranças regadas são como jardins floridos, quintais cheios de frutas prontas para serem provadas a cada vez que visitam a nossa mente. E elas trazem além de sabores, cheiros, presenças. Pela vida, podemos revisitar muitos plantios, reencontrar flores e frutíferas de outras épocas que vivem nas nossas realidades. É quase possível tocar a terra onde a raiz nutria o resto da planta, sentir o vento, molhar as mãos durante o regar da vida.

Um tranquilo beija-flor estaciona no ar diante da flor no equilíbrio vertiginoso das suas asas. Permanece ali no beijo...

cronica cenario paisagens
Um tranquilo beija-flor estaciona no ar diante da flor no equilíbrio vertiginoso das suas asas. Permanece ali no beijo apaixonado enquanto a manhã de preguiça dominical adentra o dia e o sol atira raios para todos os lados. O pássaro permanece ali alguns instantes até encerrar a curta relação de amor e seguir para um novo encontro floral e, assim, satisfazer o desejo da natureza. Os olhos humanos atentos apreciam a dança do colibri e o vento que balança suavemente o galho em um quadro momentâneo. E perto dali jarros brotam exuberância. Colorem o papel da manhã que se abre e ordenam a flor que se liberte.

Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. ...

melancolia angustia
Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. No Sul do globo ocular os erros se repetem cometidos por outros. As caixinhas eletrônicas transmitem zilhões de informações consumidas aleatoriamente, que mal se consegue processar. O resultado é o julgamento sumário de realidades profundas. As cenas se sucedem entre o braço erguido

Na vida urbana a árvore é vítima, não é vilã. Homens também são vítimas de outros homens. Na esquina o sopro mais forte vi...

arvore derrubada natureza ecologia
Na vida urbana a árvore é vítima, não é vilã. Homens também são vítimas de outros homens. Na esquina o sopro mais forte vindo das nuvens e a agitação da chuva desequilibrada provocam o baque sobre fios, rua, carros e pessoas. De repente, a escuridão tempestuosa faz da noite o que é ela é noite, e apaga a artificial iluminação.

      Catavento Quero me dedicar aos cataventos poder abraçar ar puro as pás remam as nuvens mergulho de pássaro no vazio ch...

poesia paraibana clovis roberto
 
 
 
Catavento
Quero me dedicar aos cataventos poder abraçar ar puro as pás remam as nuvens mergulho de pássaro no vazio cheio Quero ser folha no sopro do catavento Salto em círculos, cambalhotas e ritmos Suave ao deitar no chão Vida em ciclos, ventos

Água pelo caminho, um caminho de águas, uma caminhada em busca das águas. Salgada, doce, fria, quente, para ser bebida, servida em of...

agua cachoeira trilha natureza
Água pelo caminho, um caminho de águas, uma caminhada em busca das águas. Salgada, doce, fria, quente, para ser bebida, servida em ofertas. Líquida desce pelas encostas, cria estradas, salta por entre pedras, molda quadros, umedece o mundo, produz luz ao toque solar. Sensível e forte, mata as sedes humanas, tanto as corpóreas quanto as espirituais.

A luz brilhava no céu feito a ponta de um lápis marcando uma página de azul escuro. A luminosidade fazia uma longa curva. Os olhos mal ...

guerra luzes ceu misseis
A luz brilhava no céu feito a ponta de um lápis marcando uma página de azul escuro. A luminosidade fazia uma longa curva. Os olhos mal puderam perceber o rabisco do corpo celeste em deslocamento. Beleza celestial. De volta à terra e a pseudo normalidade, a visão era de uma paz tranquilizadora. Os espaços vazios entre as cidades assemelhavam-se como vácuos da loucura humana, um intervalo para apenas observar a calmaria, escutar o silêncio. Logo, as luzes artificiais ofuscarão o céu e impossibilitarão observar as infinitudes do espaço.

Os heróis caíram ao chão, incapazes da própria defesa. Um era o bonequinho do Homem-Morcego, derrubado num canto do piso, esquecido p...

vida forca farsa vaidade
Os heróis caíram ao chão, incapazes da própria defesa. Um era o bonequinho do Homem-Morcego, derrubado num canto do piso, esquecido pelas pequenas mãos que o dominavam. Há milhares de quilômetros dali foi por terra, melhor, cortada da conexão com a terra, a heróica e simbólica árvore do Reino Unido, serrada pelos braços de um jovem de 16 anos. O motivo, não importa. Após dois séculos sinalizando o encontro de dois cumes postos lado a lado, ela era como o buquê em representação da união. O corte implacável e inexplicável soa como o rompimento dos laços homem-natureza. Heróis por terra.

A poeira acumula-se por todos os lados. Do álbum de fotografia aos cantos dos olhos, da vastidão da rua atravessa o vazio para o interi...

deserto vento destino
A poeira acumula-se por todos os lados. Do álbum de fotografia aos cantos dos olhos, da vastidão da rua atravessa o vazio para o interior da casa, está suspensa no ar quase que imóvel, girando em órbita aleatória sob o feixe de luz que adentrada na tarde pela fresta da janela entreaberta. Há pó na superfície dos planos, dos sonhos e de antigos sorrisos que, vez por outra, com um sopro, afastam a fina camada para reviver cenários e pessoas.

Há um pedacinho da Praia de Cabo Branco que é mágico. Ali, nas curvas finais do bairro que se estende entre a falésia às suas costa...

cabo branco paraiba joao pessoa
Há um pedacinho da Praia de Cabo Branco que é mágico. Ali, nas curvas finais do bairro que se estende entre a falésia às suas costas e o Oceano Atlântico diante dos seus olhos, ocorre a aproximação da barreira com as águas salgadas. Uma pista separa mar e terra. As ondas mostram seguidamente o desejo de beijar o relevo e força passagem. O homem, um teimoso em mostrar que pode domar a natureza, reconstrói a estrada, que, provavelmente, voltará a ser danificada. Um ciclo em que o ser humano perde sempre.

As idades já são avançadas. As peles, pintura gasta, reboco disforme, cimento esburacado, revelam mais que idades. Na verdade, indi...

parahyba joao pessoa nostalgia centro historico
As idades já são avançadas. As peles, pintura gasta, reboco disforme, cimento esburacado, revelam mais que idades. Na verdade, indicam o descuido dos entes próximos, os herdeiros, os habitantes, os passantes. Elas resistem, são guardiãs de muitas histórias, testemunhas de transformações. Os ossos, tijolos ou pedras, fortes, sustentam as estruturas e resistem aos desafios que os séculos impõem. O homem continua a ser, ora o inventor e restaurador, do mesmo modo o aniquilador que faz desmoronar as mais fortes com força bruta e tantas vezes estúpida.

Há uma entidade mística branca dos tempos anteriores pré-descobrimento, um ser em forma de homem que ensinou aos indígenas a agricultur...

sume cariri paraiba
Há uma entidade mística branca dos tempos anteriores pré-descobrimento, um ser em forma de homem que ensinou aos indígenas a agricultura. Ele andou pelos cariris e escapou às tentativas de ser morto pelas flechas dos indígenas, caminhou rumo ao oceano e andou sobre as águas até não ser mais visto. Existe uma terra guardiã no Semiárido, em cuja entrada há elevações guarnecidas de pedra. Dos segredos cantados por Zé Ramalho, da aparição de São Tomé da tradição católica colonial brasileira, a origem de uma terra, a morada de um povo.

Na hora do gol eu pude vivenciar uma emoção única, uma sensação mágica. Sentimento de vivenciar um lindo festival de luzes dos fogos...

Na hora do gol eu pude vivenciar uma emoção única, uma sensação mágica. Sentimento de vivenciar um lindo festival de luzes dos fogos de Ano Novo, de encontro com velhos amigos, correr com o vento no rosto e a chuva por todo o corpo. Os pequenos instantes do domínio da bola, vê-la vencer a tentativa angustiada do goleiro em defendê-la, de cruzar a marca divisória: gol. Certeiro mesmo é que os sentimentos sejam inversos. Tudo de bom é como fazer um gol.

Olho pelos cantos e reencontro palavras únicas e juntas. Soltas, aleatórias, desencontradas pelo ambiente. Para olhares desatentos ...

livros leitura recordacao
Olho pelos cantos e reencontro palavras únicas e juntas. Soltas, aleatórias, desencontradas pelo ambiente. Para olhares desatentos são insignificantes, mesmo desinteressantes. Da estante à mesinha do computador, soltas na cama e mesmo dependuradas nas paredes. Para o colecionador de letras cada uma tem sentido, até sentimentos, todas uma temporalidade.

A mente viaja solta pelos profundos oceanos dos tempos idos e das lembranças. Consigo escutar o colocar da ficha telefônica em contato...

A mente viaja solta pelos profundos oceanos dos tempos idos e das lembranças. Consigo escutar o colocar da ficha telefônica em contato com o ferro da base do orelhão. Os dedos giram no disco catando os números do telefone a ser discado. Do outro lado da linha o som da chamada, ficha cai e um “alô” é a senha para se entabular a conversa. A duração máxima é de três minutos. Mais tempo, mais ficha. Nada de celular supermicrocomputadores nos bolsos. O telefone fixo em casa era sinal de riqueza.

Uma tábua molhada sustenta vários potes de plantinhas ornadas de pingos da recente chuva. Parecem enfeites líquidos sobre a vida ver...

chuva inverno lembranca infancia
Uma tábua molhada sustenta vários potes de plantinhas ornadas de pingos da recente chuva. Parecem enfeites líquidos sobre a vida verde. O mesmo desaguar deixa umedecido o dia, adentra com o vento ameno das frestas a casa e traz notícias de outra estação.

Os dias mais curtos chegam e deixam as ruas diferentes. As pessoas continuam apressadas, mas portam algo como que um semblante sério, sisudos rostos enquanto executam a difícil missão de equilibrar guarda-chuvas nas mãos e dançam ao desviarem das poças d´água.

Pegar a estrada, sair por aí e abraçar a Paraíba. A cada quilômetro rodado se desvendam as terras, os cenários e os recantos paraibanos...

Pegar a estrada, sair por aí e abraçar a Paraíba. A cada quilômetro rodado se desvendam as terras, os cenários e os recantos paraibanos. É uma oportunidade de ver o que o estado tem de tão encantador. Município a município as placas demarcando limites territoriais se acumulam pelas estradas, misturando a receptividade de cada povo, expondo características dos lugares que, unidas, formam a Paraíba de paisagens, alegrias e particularidades.

Quando encontrei o São João certamente os meus olhos brilharam. Eu ainda criança aprendendo as primeiras letras, descobrindo as cois...

festa junina sao joao nordeste
Quando encontrei o São João certamente os meus olhos brilharam. Eu ainda criança aprendendo as primeiras letras, descobrindo as coisas do mundo, percebendo e abraçando com o corpo e alma a identidade da terra. O brilho das luzes e o colorido de bandeirinhas e balões ornamentais da festa do sexto mês do ano trouxeram encantamento aos olhos. Uma noite para conquistar todos os sentidos.