Uma tábua molhada sustenta vários potes de plantinhas ornadas de pingos da recente chuva. Parecem enfeites líquidos sobre a vida verde. O mesmo desaguar deixa umedecido o dia, adentra com o vento ameno das frestas a casa e traz notícias de outra estação.
Os dias mais curtos chegam e deixam as ruas diferentes. As pessoas continuam apressadas, mas portam algo como que um semblante sério, sisudos rostos enquanto executam a difícil missão de equilibrar guarda-chuvas nas mãos e dançam ao desviarem das poças d´água.
Os dias mais curtos chegam e deixam as ruas diferentes. As pessoas continuam apressadas, mas portam algo como que um semblante sério, sisudos rostos enquanto executam a difícil missão de equilibrar guarda-chuvas nas mãos e dançam ao desviarem das poças d´água.
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Na praça, um ar de abandono, um afastamento das pessoas com a nova estação. A grama sempre úmida, os bancos de concreto molhados, os brinquedos e os equipamentos para exercícios físicos sempre encharcados.
O céu acinzentado, o horizonte em contínuo alerta de novos temporais. O Sol vive escondido e a Lua raramente dá uma olhadela por entre o manto da escuridão noturna. Nem raios, nem trovoadas, os dias e as noites se sucedem em chuvaradas, pancadas que se precipitam e cessam e retomam o processo num carrossel do brincante tempo. Uma nova estação que muda comportamentos. Para os cães é um convite para um cochilo mais remanchoso, um esticar de corpo mais vagaroso. O gato se encolhe e já vagueia menos pelos telhados, prefere o enxuto recanto dos terraços.
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Nos mares, as vagas oscilam em balanços de compasso demorado ou furiosas batidas no quebra-mar. Os rios estão mais caudalosos, talvez raivosos. No meio dos mato, nas urbanidades e mesmo nos desertos áridos, a água atravessa distâncias de cima a baixo, salta sem freio até colidir com copas de árvores, concretos prédios e a terra batida. Esta última talvez seja a melhor despedida de ser chuva e tornar-se algo novo, recomeço do ciclo, o princípio para uma outra chuva.
Nova estação de velhos tempos. Invernos já vividos, estacionados tempos dentro dos olhos, de para-brisas a abraçar pingos que atravessem galhos de pequenos arvoredos. E chuvaradas de contemplações pelo renovar da vida.