janeiro 10, 2025
Encostei os pés na água do mar. Deixei que a espuma encontrasse os meus dedos, entrasse por entre eles, subisse até os calca...
Encostei os pés na água do mar. Deixei que a espuma encontrasse os meus dedos, entrasse por entre eles, subisse até os calcanhares, acariciasse as raízes do corpo. A leve onda foi e regressou num passeio sobre a terra onde repousa a imensidão do oceano. Os olhos fechados estavam ali e, ao mesmo tempo, corriam alhures. Eu sentia a paz molhar a vida.
janeiro 10, 2025
janeiro 01, 2025
A manhã abraça com um sorriso e uma chuva de cajus. Nas praças, nos quintais, em terrenos baldios, aquarela em amarelo ou ve...
A manhã abraça com um sorriso e uma chuva de cajus. Nas praças, nos quintais, em terrenos baldios, aquarela em amarelo ou vermelho e mesmo verde. Um balanço natural ao toque do vento e ao sabor tropical. A chuva do verão anuncia o fruto que deixa um gosto travoso. Do suco, do doce, da boca na carnosidade vegetal ao inconfundível e resistente caju.
janeiro 01, 2025
dezembro 14, 2024
Num recanto o ventilador quebra a sonoridade noturna. E gira, gira, gira... embebido antes de consumir qualquer bebida que regue a no...
Num recanto o ventilador quebra a sonoridade noturna. E gira, gira, gira... embebido antes de consumir qualquer bebida que regue a noite. São tempos "decembrais" e as festivas luzes natalinas intercalam claridades coloridas no ambiente, refletindo tons diversos às taças de vinho e água. Um gole para abrir a sede de beber livros, músicas, olhares e seduções.
dezembro 14, 2024
novembro 29, 2024
Vento no porto O vento canta o mar com um assobio, deixa-se levar no desequilíbrio, segue nas vagas o prumo, balança na entrad...
Vento no porto
O vento canta o mar com um assobio,
deixa-se levar no desequilíbrio,
segue nas vagas o prumo,
balança na entrada do sitiado porto.
Feito vida assopra sem rumo,
queima noturno, esfria soturno,
agarra o ser, atira-se aos cascos,
corrente que afoga, afaga, apoio.
novembro 29, 2024
novembro 09, 2024
Havia naquele fim de tarde um vento estranho. Forte, penetrava com intervalos inexplicáveis nas janelas, sacudia o interior d...
Havia naquele fim de tarde um vento estranho. Forte, penetrava com intervalos inexplicáveis nas janelas, sacudia o interior das casinhas, balançava roupas e fantasmas das pessoas. Não trazia chuva, só uma fina poeira que se impregnava em tudo que tocava. Do rosto entristecido de um quadro na parede à superfície da mesa no canto da sala, do enfeite dependurado num armador de rede às garrafas de vinho enfileiradas como ornamentos ébrios num aparador...
novembro 09, 2024
novembro 04, 2024
Eis que surge uma notícia desafinada e triste: o silenciar de um piano. Morreu o pianista carioca Arthur Moreira Lima, aos 84 anos, v...
Eis que surge uma notícia desafinada e triste: o silenciar de um piano. Morreu o pianista carioca Arthur Moreira Lima, aos 84 anos, vítima de câncer. Imediatamente me vem à memória o inusitado dia em que o entrevistei para o extinto Jornal O Norte, do Diários Associados.
novembro 04, 2024
outubro 24, 2024
Longos monstros de braços gigantes espiam sobre a serra. Alertas, atravessam enormes pás ciclopes para além do horizonte na...
Longos monstros de braços gigantes espiam sobre a serra. Alertas, atravessam enormes pás ciclopes para além do horizonte na vigilância da serpente negra por onde trafegam inventos que transportam humanos no sentido leste-oeste. A paisagem seca por quilômetros abriga muita vida e o verde desaparecido está à espera de qualquer invernada para reflorescer a região.
outubro 24, 2024
outubro 10, 2024
As latas e as garrafas espalhadas pelo canto da varanda nas alturas de um endereço encantado são testemunhas e enumeram a lista de am...
As latas e as garrafas espalhadas pelo canto da varanda nas alturas de um endereço encantado são testemunhas e enumeram a lista de amores e anos juntos. Tudo amarrado em Recife, Parahyba, Campinas, Guarulhos e terras alhures, passagens em Minas e Paraíba. É hora de sorrir ao som das falas das vozes conhecidas até a madrugada chegar, à espera do primeiro sol do dia que desmergulha do Atlântico.
outubro 10, 2024
setembro 27, 2024
A última chuva abraça a primavera trazida por ventos que lembram agosto. Contudo, as pessoas continuam a seguir em frente...
A última chuva abraça a primavera trazida por ventos que lembram agosto. Contudo, as pessoas continuam a seguir em frente alheias às passadas do tempo. Flores, carros e relógios são dispositivos da vida rumo a uma finitude desconhecida, por mais que se finjam certezas sobre o instante seguinte ao fechar os olhos.
setembro 27, 2024
setembro 17, 2024
Transpareço pelas esquinas e ruas como uma nuvem flutuante, ou um cão dono da própria vida que é atraído pelo cheiro da co...
Transpareço pelas esquinas e ruas como uma nuvem flutuante, ou um cão dono da própria vida que é atraído pelo cheiro da comida, a abelha conectada pelo néctar das flores a sugar vida. A cidade velha me atrai. Faz mergulhar nas histórias. Em outros instantes me afoga nas vivências de anos partidos. Ela me agarra na revisita das marcas visíveis e conceituais das suas paredes e monumentos.
setembro 17, 2024
agosto 29, 2024
De repente na manhã uma chuva de gotas fortes dá passagem e permite a volta do céu aberto... A mente levanta voo e vai buscar umas saud...
De repente na manhã uma chuva de gotas fortes dá passagem e permite a volta do céu aberto... A mente levanta voo e vai buscar umas saudades aleatórias. Uma misturada de coisas antigas guardadas no depósito da memória que salta à superfície do imaginário como pedrinhas em meio a um pequeno terremoto de magnitude suficiente apenas para ser sentido, sem maiores danos. A terra se divide e surgem objetos de velhos mundos. E reaparecem, feito tempestade, objetos díspares em nuvens de lembranças.
agosto 29, 2024
agosto 15, 2024
Imagino José Américo de Almeida observando a paisagem da Praia do Cabo Branco pela primeira vez. O “Homem de Areia”, saído do Brejo...
Imagino José Américo de Almeida observando a paisagem da Praia do Cabo Branco pela primeira vez. O “Homem de Areia”, saído do Brejo e do meio dos engenhos, desembarcando no litoral. Penso no sossego dos dias quando o escritor residia na casa de número 3336 à beira-mar e compunha o cenário paradisíaco daquela região da cidade.
agosto 15, 2024
agosto 09, 2024
Há poesia nos movimentos... No gol gritado a plenos pulmões para uma torcida fictícia quando a bola atravessa um gol demarcado por ped...
Há poesia nos movimentos... No gol gritado a plenos pulmões para uma torcida fictícia quando a bola atravessa um gol demarcado por pedras, sandálias ou pedaços de madeira fincados ao solo; na corrida desenfreada pelo terreno do corredor de pés descalços; no cruzar dos olhos concentrados no adversário do outro lado da rede que já apresenta furos antes de um saque com a bola gasta; no equilíbrio do corpo sobre uma corda ou um skate, ou ainda na escalada da árvore em busca do fruto maduro como se fora um salto em altura...
agosto 09, 2024
julho 18, 2024
Eram os tumultuados e confusos anos 70... E eu lembro bem de uma miscelânea de imagens daquela época vomitada em preto e branco através...
Eram os tumultuados e confusos anos 70... E eu lembro bem de uma miscelânea de imagens daquela época vomitada em preto e branco através do tubo de imagem da TV. Guerra do Vietnã, o Ira na Irlanda, John Lennon, um Papa que morria e um novo que sorria, mísseis apontados para o céu, bandeiras e discursos, o rebolado e a morte de Elvis Presley, ruas ocupadas e os cassetetes impondo uma “ordem”. Por outro lado, a mente captava ondas sonoras de uma caixinha mágica chamada rádio. Elas ainda repercutem nos meus ouvidos como se eu permanecesse nos agitados anos daquela década.
julho 18, 2024
julho 03, 2024
Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em p...
Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em primeira mão as rotineiras notícias do dia. Aqui e acolá há um movimento humano de domingo despreguiça o cenário. O Sol já se faz presente há algumas horas, chega para descortinar a madrugada friorenta do fim de junho e revela as formas dos bancos, calçadas e árvores da praça.
julho 03, 2024
junho 21, 2024
Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias...
Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias enfeitados de tantas festas se reveste de tiras de papel e pano, bandeirolas coloridas por terreiros e postes, contraste em dias de céu nublado. Junino de alegrias, de tempos sorrisos, múltiplos encantos com sabores de receitas do milho de vivo verde e gosto a mais no sentimento de enamorados que passeiam na garupa e carrocerias pelas estradas, campinas e fantasias.
junho 21, 2024
junho 05, 2024
A estrada abriu-se em um abraço da saudade e, ao mesmo tempo, sinalizou reencontros enquanto o dia ainda dormia durante o avanço pelo...
A estrada abriu-se em um abraço da saudade e, ao mesmo tempo, sinalizou reencontros enquanto o dia ainda dormia durante o avanço pelo tapete negro espichado por entre planos e elevadas passagens. A estrada já conhecia os passantes de outras épocas e sabia que fazia parte da história escrita pelas idas e vindas na aproximação das distâncias entre corpos e almas. Agora, um novo capítulo era escrito, antes imaginado tantas vezes, do mesmo modo desejado ser indefinidamente adiado. E tudo ao fim e a cabo se resumia a cumprir um ritual.
junho 05, 2024
maio 22, 2024
Reflexos distorcidos dão noção realística ao imaginário mundo que vaga pelas cabeças e mares puxados pela força do fogo ao bater na ág...
Reflexos distorcidos dão noção realística ao imaginário mundo que vaga pelas cabeças e mares puxados pela força do fogo ao bater na água e também na areia. A projeção é um toque de criação para formar espaços de contemplação. Fotografias das câmeras abertas: olhos. Ângulos, luzes, sombras, essência, visão interior, fazem parte da receita. Quem sabe é sonho a visão do espelho, do retrovisor, da fachada da loja, da garrafa de vinho, da vela bailarina atiçada pela brisa.
maio 22, 2024
maio 12, 2024
O ouro que plantou o homem à terra e cultivou dramas se foi, restou talhado como ornamentação de igrejas e soterrado em pa...
O ouro que plantou o homem à terra e cultivou dramas se foi, restou talhado como ornamentação de igrejas e soterrado em paredes de velhas minas e da história. Aos vivos restou o chão cercado por serras e os alicerces antigos fincados nas rochas, equilibrados em caminhos imprecisos e íngremes. Só o tempo com suas incertezas traz algum sentido. Antes lágrimas, sangue e chibata, agora poses e história. Minas Gerais é terra de misturas, de desencontros e encontros, é plural, de início forçosamente, depois à revelia da vontade dos homens.
maio 12, 2024
abril 17, 2024
E logo uma cidade grande com prédios, ônibus, pessoas e toda infraestrutura é erguida a partir das pedras, ou de pedaços de ...
E logo uma cidade grande com prédios, ônibus, pessoas e toda infraestrutura é erguida a partir das pedras, ou de pedaços de papel e papelão. São esquinas, postes, avenidas... E até aeroportos com seus aviões e submersíveis. Também surgem campos de batalhas com exércitos postos para o combate com seus canhões, veículos militares, trincheiras, explosões... Ou mesmo um comboio formado por uma fileira cavalos e muares segue em deslocamento adentrando desertos imaginários...
abril 17, 2024