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Eram os tumultuados e confusos anos 70... E eu lembro bem de uma miscelânea de imagens daquela época vomitada em preto e branco através...

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Eram os tumultuados e confusos anos 70... E eu lembro bem de uma miscelânea de imagens daquela época vomitada em preto e branco através do tubo de imagem da TV. Guerra do Vietnã, o Ira na Irlanda, John Lennon, um Papa que morria e um novo que sorria, mísseis apontados para o céu, bandeiras e discursos, o rebolado e a morte de Elvis Presley, ruas ocupadas e os cassetetes impondo uma “ordem”. Por outro lado, a mente captava ondas sonoras de uma caixinha mágica chamada rádio. Elas ainda repercutem nos meus ouvidos como se eu permanecesse nos agitados anos daquela década.

Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em p...

cronica poesia bucolismo indiferenca
Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em primeira mão as rotineiras notícias do dia. Aqui e acolá há um movimento humano de domingo despreguiça o cenário. O Sol já se faz presente há algumas horas, chega para descortinar a madrugada friorenta do fim de junho e revela as formas dos bancos, calçadas e árvores da praça.

Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias...

milho junho sao joao junino
Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias enfeitados de tantas festas se reveste de tiras de papel e pano, bandeirolas coloridas por terreiros e postes, contraste em dias de céu nublado. Junino de alegrias, de tempos sorrisos, múltiplos encantos com sabores de receitas do milho de vivo verde e gosto a mais no sentimento de enamorados que passeiam na garupa e carrocerias pelas estradas, campinas e fantasias.

A estrada abriu-se em um abraço da saudade e, ao mesmo tempo, sinalizou reencontros enquanto o dia ainda dormia durante o avanço pelo...

paisagem estrada amanhecer
A estrada abriu-se em um abraço da saudade e, ao mesmo tempo, sinalizou reencontros enquanto o dia ainda dormia durante o avanço pelo tapete negro espichado por entre planos e elevadas passagens. A estrada já conhecia os passantes de outras épocas e sabia que fazia parte da história escrita pelas idas e vindas na aproximação das distâncias entre corpos e almas. Agora, um novo capítulo era escrito, antes imaginado tantas vezes, do mesmo modo desejado ser indefinidamente adiado. E tudo ao fim e a cabo se resumia a cumprir um ritual.

Reflexos distorcidos dão noção realística ao imaginário mundo que vaga pelas cabeças e mares puxados pela força do fogo ao bater na ág...

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Reflexos distorcidos dão noção realística ao imaginário mundo que vaga pelas cabeças e mares puxados pela força do fogo ao bater na água e também na areia. A projeção é um toque de criação para formar espaços de contemplação. Fotografias das câmeras abertas: olhos. Ângulos, luzes, sombras, essência, visão interior, fazem parte da receita. Quem sabe é sonho a visão do espelho, do retrovisor, da fachada da loja, da garrafa de vinho, da vela bailarina atiçada pela brisa.

O ouro que plantou o homem à terra e cultivou dramas se foi, restou talhado como ornamentação de igrejas e soterrado em pa...

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O ouro que plantou o homem à terra e cultivou dramas se foi, restou talhado como ornamentação de igrejas e soterrado em paredes de velhas minas e da história. Aos vivos restou o chão cercado por serras e os alicerces antigos fincados nas rochas, equilibrados em caminhos imprecisos e íngremes. Só o tempo com suas incertezas traz algum sentido. Antes lágrimas, sangue e chibata, agora poses e história. Minas Gerais é terra de misturas, de desencontros e encontros, é plural, de início forçosamente, depois à revelia da vontade dos homens.

E logo uma cidade grande com prédios, ônibus, pessoas e toda infraestrutura é erguida a partir das pedras, ou de pedaços de ...

imaginacao infantil
E logo uma cidade grande com prédios, ônibus, pessoas e toda infraestrutura é erguida a partir das pedras, ou de pedaços de papel e papelão. São esquinas, postes, avenidas... E até aeroportos com seus aviões e submersíveis. Também surgem campos de batalhas com exércitos postos para o combate com seus canhões, veículos militares, trincheiras, explosões... Ou mesmo um comboio formado por uma fileira cavalos e muares segue em deslocamento adentrando desertos imaginários...

E no meio da noite surgiram desenhos na escuridão. O céu rabiscado em furiosos traços como se fora grafados por uma mão agi...

E no meio da noite surgiram desenhos na escuridão. O céu rabiscado em furiosos traços como se fora grafados por uma mão agitada, acordada de um pesadelo ou que tivesse uma ideia sensacional e necessita urgentemente colocar tudo para fora, registrar no horizonte. A tinta branca traça formas geométricas indecifráveis na superfície delicada das nuvens transportadoras de chuvas. E todo aquele turbilhão
trovao relampago tempestade
Gustavo Outside
penetra a janela, invade o quarto, clareia o sono, um espetáculo teatral descortina o horizonte acompanhado de uma melodiosa sonoridade que pousa depois devido ao distanciamento físico.

Flocos brancos e roxos ladeiam o tapete vermelho feito de tinta sobre o cimento frio inanimado e de horas quentes dos meados do dia. ...

caminhada pisada cotidiano
Flocos brancos e roxos ladeiam o tapete vermelho feito de tinta sobre o cimento frio inanimado e de horas quentes dos meados do dia. Sobre os galhos perfilados, enfeite natural, a passagem tem um perfume sutil, dourados como tochas suavemente brilhantes ao serem tocados pelos raios do Sol no findar das tardes dos últimos dias do verão.

Luzes se confundem em horizontes noturnos. De um ponto flashes disparam trovoadas e prometem chuvas para breve... em outro canto inten...

luzes poesia prosa paraibana
Luzes se confundem em horizontes noturnos. De um ponto flashes disparam trovoadas e prometem chuvas para breve... em outro canto intensivamente piscam aparelhos com pequenos sinais sonoros. A chuva clareia curiosamente intensa a noite com suas nuvens baixas e pesadas e os equipamentos que monitoram o corpo humano cintilam alertas por toda a madrugada. São túneis que dão passagens. Em ambos os casos estão a vida e os seus mistérios e os desafios.

Quero retornar aos campinhos de pelada dos bairros, lugares onde rolam bolas feitas de borracha, de pano, de plástico, improvisadas ou...

Quero retornar aos campinhos de pelada dos bairros, lugares onde rolam bolas feitas de borracha, de pano, de plástico, improvisadas ou oficiais feitas de couro e costuradas industrialmente. Quero voltar aos locais de chão de terra batida, algum areal ou onde há mesmo grama maltratada. Por ali, onde pés descalços na maioria das vezes ou protegidos por alguma chuteira surrada correm, chutam, dividem a bola.

Em casa, nas avenidas, nos becos, nos clubes e pelas ladeiras... O Carnaval tem uma energia diferente e como festa popular crava na me...

carnaval olinda
Em casa, nas avenidas, nos becos, nos clubes e pelas ladeiras... O Carnaval tem uma energia diferente e como festa popular crava na memória várias lembranças. O colorido, as músicas, a alegria, o sorriso, a maratona. E a mente vai arquivando em pastinhas feito uma aquarela as imagens, sensações e situações.

Um sino badala uma hora fechada na torre da Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, chamando os fieis à missa. As batidas soam ...

centro historico joao pessoa
Um sino badala uma hora fechada na torre da Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, chamando os fieis à missa. As batidas soam como uma memória longínqua que retorna a intervalos simétricos do tempo. Ao redor, os carros seguem fluindo pelas ruas próximas, descem pela Rua General Osório ou por laterais até sumir. Nas calçadas, um ou outro passante aperta o passo em busca das ilhas-sombras das árvores e fachadas dos prédios. O dia pela metade tem um Sol por testemunha de tudo o que acontece e até passa despercebido.

O amanhecer instala a cantoria de sonoridades diversas, disparadas de pequenos corpos com coloração e tamanhos diferentes. Galhos de á...

passaro canto natureza contemplacao
O amanhecer instala a cantoria de sonoridades diversas, disparadas de pequenos corpos com coloração e tamanhos diferentes. Galhos de árvores distantes, fios, alto de muros se transformam em palco para o canto de rolinhas, sibitos, bem-te-vis, sabiás, beija-flor e outros pássaros que residem naquela área urbana. Apesar da calmaria daquelas paragens, do sossego quebrado pelos piados em tons múltiplos, são poucos os que param para prestar atenção ao concerto da passarada.

Uma porta, um pedaço de calçada, um batente de entrada, o meio de uma rua com muitos fios de histórias com início, meio e fim, lugare...

centro histotico joao pessoa memoria
Uma porta, um pedaço de calçada, um batente de entrada, o meio de uma rua com muitos fios de histórias com início, meio e fim, lugares onde mundos se cruzam. Há placas, seja nas esquinas cruzadas, fachadas armadas, monumentos silenciosos com indicações e versões e olhares pelos centros seculares. Caminhar de antes e talvez de futuros. Por ali tudo se transforma em olhos, pelas frestas de portas, nas janelas lacradas por tijolos recentes. E, ainda assim, o mundo se abre em paredes antigas, reavivando camadas de tintas, ressuscitando cenas vividas outrora.

Janeiro que chove ano novo. A folhinha trocada na parede e as folhas verdes molhadas na praça. O peso enverga os galhos...

chuva janeiro
Janeiro que chove ano novo. A folhinha trocada na parede e as folhas verdes molhadas na praça. O peso enverga os galhos que se abaixam para conseguir carregar a água. Sai de cena o branco da roupa, o céu veste-se de brancas nuvens. E logo o azul se abre para o abraço do rei Sol pela terra brevemente encharcada e seca as superfícies. Os números vão se trocando em espaços precisos com a sincronização e a efemeridade do tempo. Movem-se relógios, pessoas, bichos e o mundo.

Sal, era o gosto da pele na boca. Azedo era o cheiro do couro molhado da bola enquanto secava em dias pós-chuva quando a t...

poesia prosa imagem cotidiano
Sal, era o gosto da pele na boca. Azedo era o cheiro do couro molhado da bola enquanto secava em dias pós-chuva quando a terra molhada amaciava os pés que iriam chutar e se tatuar com o pó, o barro, a poça d'água e a grama. A outra água, mesmo sem ter sabor, era sentida doce pela língua ao matar a sede. Os olhos capturaram todos os verdes, vermelhos, azuis e todas as tonalidades, mesmo que à distância as figuras ficaram embaçadas. Anos coloridos.

As memórias são plantadas em nossas mentes ao longo da vida. Boas lembranças regadas são como jardins floridos, quintais cheios de fru...

recordacao jardim nostalgia planta
As memórias são plantadas em nossas mentes ao longo da vida. Boas lembranças regadas são como jardins floridos, quintais cheios de frutas prontas para serem provadas a cada vez que visitam a nossa mente. E elas trazem além de sabores, cheiros, presenças. Pela vida, podemos revisitar muitos plantios, reencontrar flores e frutíferas de outras épocas que vivem nas nossas realidades. É quase possível tocar a terra onde a raiz nutria o resto da planta, sentir o vento, molhar as mãos durante o regar da vida.

Um tranquilo beija-flor estaciona no ar diante da flor no equilíbrio vertiginoso das suas asas. Permanece ali no beijo...

cronica cenario paisagens
Um tranquilo beija-flor estaciona no ar diante da flor no equilíbrio vertiginoso das suas asas. Permanece ali no beijo apaixonado enquanto a manhã de preguiça dominical adentra o dia e o sol atira raios para todos os lados. O pássaro permanece ali alguns instantes até encerrar a curta relação de amor e seguir para um novo encontro floral e, assim, satisfazer o desejo da natureza. Os olhos humanos atentos apreciam a dança do colibri e o vento que balança suavemente o galho em um quadro momentâneo. E perto dali jarros brotam exuberância. Colorem o papel da manhã que se abre e ordenam a flor que se liberte.

Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. ...

melancolia angustia
Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. No Sul do globo ocular os erros se repetem cometidos por outros. As caixinhas eletrônicas transmitem zilhões de informações consumidas aleatoriamente, que mal se consegue processar. O resultado é o julgamento sumário de realidades profundas. As cenas se sucedem entre o braço erguido