Quando encontrei o São João certamente os meus olhos brilharam. Eu ainda criança aprendendo as primeiras letras, descobrindo as coisas do mundo, percebendo e abraçando com o corpo e alma a identidade da terra. O brilho das luzes e o colorido de bandeirinhas e balões ornamentais da festa do sexto mês do ano trouxeram encantamento aos olhos. Uma noite para conquistar todos os sentidos.
Quando encontrei o São João percebi que era paixão. A festança junina sempre me causa uma ansiedade gostosa, uma expectativa pela aproximação. E tudo conta para o amor ao período. Da temperatura que vai caindo junto com a temporada de chuva, símbolo de renovação do verde, de bênção dos céus, retorno da água para beijar a terra.
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Quando encontrei o São João também o fiz pelo doce sabor levado à boca. Da espiga de milho, majestosa com sua casaca verde, seu cabelo de tom avermelhado/aloirado, os caroços enfileirados em ouro, pronta para as muitas receitas. Canjica amarelinha, pamonha, bolo, assada ou cozinhada, ou mergulhada no branco do manguzá, muitos gostos para deliciar bocas em mesas enfeitadas.
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Quando encontrei o São João descobri sons diferentes. Estouros de mil fogos em artifícios tecnológicos de uma arte milenar, de origem asiática, provavelmente chinesa, inventores de tantas coisas, do papiro à pólvora. Festival de luzes em terras, céus, a encantar crianças e adultos.
Quando encontrei o Sâo João a audição ficou mais aguçada. Vieram os acordes da sanfona chorosa e seus movimentos diferentes, na companhia do tilintar do triângulo e na batida do zabumba através de pulsos firmes. Pelos ouvidos adentraram nomes fortes de puro talento. Era um Luiz Gonzaga, Seu Lua; um Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo; um Dominguinhos, com seu sorriso poético, seguidos de tantos outros. Música para balançar o corpo, rememorar a alma.
Quando encontrei o São João esquentei o corpo no aconchego da fogueirinha. Da escolha da madeira, a montagem e o acender tradicional na hora de Nossa Senhora na noite do dia 23 do mês de junho. As chamas que acalmam com o passar das horas, até virar brasa boa para assar o milho. E a fogueira, sobra em cinzas, guarda magia na manhã do Dia de São João. É símbolo da festa que passou a ser minha, pertencer a sorte de nascer por estas bandas.
GuiAlvim