Todas as manhãs de domingo ele saía silencioso do quarto. Ia à padaria, comprava pães quentes, derretia queijo, fazia café, tirava as seme...
Envolvo meu amor em papel celofane
— I — Ando tão turbulenta, tão indócil. Que só as palavras escritas me dão paz. Sei que sou intensa, dramática, instável. Gosto da v...
Turbulências
Morei em Recife durante algum tempo e o que mais ouvi foi a frase: não pode... é perigoso. Chegou o carnaval, que eu adoro, e tudo não po...
Bacurau
O carnaval acontecendo e eu cercada de “não podia”. Lembrei que eu fora, durante anos, rodeada de nãos e minha alma rebelde falou baixinho em meu ouvido – o que você pode perder? Eu que vivi chorando perdas, perder o que mais?
Sem dúvida, aquele final de semana foi diferente ou talvez, estranho demais para ser ignorado. Numa sexta-feira pela manhã, havia tomado ...
O antes e o depois andam de mãos dadas
Bendito o tempo que conduz nossa vida, que acrescenta experiência, que nos dá sapiência, que oferece a oportunidade de construirmos nossa ...
Envelhecer
O envelhecimento vem me ensinando a viver plenamente, e a abraçar a vida com sentimentos de amor-próprio. Vejo com clareza meu sentir e o quanto sou corajosa em redesenhar o roteiro da vida. Concluo que a felicidade está em mim. Reconheço minhas imperfeições, meus medos, minha vulnerabilidade, mas sou a dona do meu espaço amoroso e nada abalará essa enorme certeza do quanto minha vida é rara e preciosa.
Quebrei uma ponta do dente da frente. Primeiro, foi o susto e depois, ao olhar no espelho, enxerguei um buraco negro do tamanho do mundo. ...
Um grande pequeno problema
Pesarosa, fui dormir. Mas, todos conhecem os pensamentos ruins que surgem nas madrugadas. Comigo não foi diferente. Imaginava que o dente quebrado não teria como ser consertado, teria que fazer um implante. A causa provavelmente era a velhice, que fatalmente enfraquecia os ossos. Ou era deficiência de uma das vitaminas A, B, C, D, ou E... sei lá. Era falta de cálcio. Porque não tomei leite, que detesto, ou comi peixes, brócolis, agrião, acelga?
Se hoje alguém me perguntar o que mais sinto saudades, eu digo pesarosa, da minha alegria. Gosto de gargalhar, de sorrir para desconhecidos...
Um mundo alegre, por favor
Dia das mães é aquele em que se desperta o afeto que reside na essência de cada um de nós. É onde buscamos lembranças da mãe trazidos da i...
Mães
Sabe quando você pensa no quanto já viveu e surge aquele pensamento de dúvida sobre o quanto existe para viver mais? Estou assim, ocupando...
Ando tão à flor da pele
Você sabe quantos anjos podem dançar na ponta de uma agulha? Ou quantos dedos dos pés são necessários doer para sentir que é hora de tirar...
Inquietações
Você sabe quanto vento bate na sua cortina ou assanha seu cabelo e suas pestanas ao ponto de você não conseguir respirar? Respirar é mesmo necessário? Quando é que respirar faz entender que estamos vivos?
Ontem arrumei um dos armários. Sabe aquele que fica no outro quarto e você vai protelando a arrumação? Pois é. Peguei firme e fui olhando ...
Múltiplos momentos
É dezembro porque as músicas de Natal estão surgindo timidamente. Mesmo que os grandes comerciais com trenós, renas e um Papai Noel rosado...
O estranho mês de dezembro
Nenhuma história que se faz no decorrer da vida tem maior importância do que outras já feitas, nem mais felizes, tristes ou significativas...
Tropeços
Quando ponderamos que já temos uma história bem vivida, que fizemos a trajetória comum a todos os homens e mulheres, que aproveitamos muit...
O improvável, o inacreditável e a surpresa
Quando ponderamos que já temos uma história bem vivida, que fizemos a trajetória comum a todos os homens e mulheres, que aproveitamos muito sol, nos divertimos largamente em festas, trabalhamos com empenho, dançamos com prazer, viajamos por lugares desconhecidos, neste momento, chega a vida e nos encara, nos faz tropeçar e abre um novo e difuso caminho.
Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse ...
Felicidade tem idade?
Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse último período da vida.
Contam que há uma loja onde compram e vendem tempo. É uma loja agitada, pois, além de vender, ela também faz permutas. Se alguém tiver um t...
Compra-se tempo
Contam que há uma loja onde compram e vendem tempo. É uma loja agitada, pois, além de vender, ela também faz permutas. Se alguém tiver um tempo sobrando, pode oferecê-lo a outro que precise de mais tempo.
Quando pensamos que a porta está definitivamente fechada, alguém sopra com força a janela e nos escancara um novo mundo, cheio de paisagens...
Solitude e solidão
Quando pensamos que a porta está definitivamente fechada, alguém sopra com força a janela e nos escancara um novo mundo, cheio de paisagens desconhecidas, deslumbrantes. Aí, o instinto de proteção dá um sonoro aviso de alerta, que surdamente ignoramos.
Mesmo que as certezas nos resguardem de sofrer, nos peçam cautela e atenção, mesmo assim, nosso ímpeto de buscar o desconhecido prevalece e deixamos o destino tecer suas tramas e nos enredar em histórias e sonhos.
Foi assim comigo. Quando revejo o passado, assusto-me com a impetuosidade que vivi, as maneiras que o destino manipulou meus passos, as múltiplas vezes que tive que derrubar casas e reconstruí-las novamente em outro lugar, em outra vizinhança. A vida acabou me ensinando que as situações idealizadas são frágeis e que é melhor aceitar os vários recomeços, os vários tropeços com valentia, com coragem e sem lamentos.
Os caminhos podem ser conhecidos e certos, mas a força do que nos rege, acrescenta pedras a serem afastadas, montanhas a serem subidas, descidas íngremes que diminuem o ritmo de nossos passos e nos presenteiam ao final, com lindas paisagens, ipês-amarelos no meio de um pasto todo verde, brisa morna com cheiro de mato.
Nestes últimos meses, aprendi muito sobre a imprevisibilidade. Todas as prioridades, os planos, as passagens para viagens agendadas, tudo estagnou de repente para que eu preservasse a vida. Fiquei só, por longos cento e quatorze dias.
Tive a oportunidade de colocar em prática a palavra “solitude” que, segundo o dicionário Michaelis, é uma palavra poética, diferente da solidão que expressa a dor de estar sozinho, a solitude expressa a glória de estar sozinho. É a solitude que nos oferece a oportunidade de apreciar o silêncio, o tempo e principalmente, a beleza. A solitude me abriu um mundo mais íntimo, mais rico de conhecimento, mais perceptivo sobre o que vale a pena investir e principalmente, do que vale a pena desejar.
Celebro esse tempo comigo mesma, cheia de gratidão. Continuo acreditando que o imprevisível, seja lá chamado de destino, acaso, fatalidade, tem verdades que não somos capazes de entender. É aceitar, realinhar o rumo e seguir a vida.
Coisinhas me encantam. Aquelas que se desapegam do conjunto. Uma xícara sem o pires, uma concha trazida da praia, uma flor que coloco entre...
Coisas, coisinhas, trequinhos
Coisinhas me encantam. Aquelas que se desapegam do conjunto. Uma xícara sem o pires, uma concha trazida da praia, uma flor que coloco entre as páginas dos livros. É um sentimento de gratidão pela existência das coisas simples, as que me fazem recordar momentos, pessoas, situações.
Há muitos domingos, por um movimento da terra ou por obra de algum anjo distraído, ele apareceu para mim. Veio vestido de formalismo, barba...
Quase sempre acontece num instante
Há muitos domingos, por um movimento da terra ou por obra de algum anjo distraído, ele apareceu para mim. Veio vestido de formalismo, barba feita, intenso olhar azul. Perscrutou minha vida, sondou meus sentimentos, ouviu curioso minhas histórias.
Pegou-me sem armas, infeliz em minhas gargalhadas, cercada de uma casa fria, onde havia um som constante de saudade.
Sou acordada pela Banda de Música Santa Cecília. É a alvorada que a Banda me presenteia avisando que é dia de festa, é vinte e quatro de ju...
Por trás daquelas montanhas
Sou acordada pela Banda de Música Santa Cecília. É a alvorada que a Banda me presenteia avisando que é dia de festa, é vinte e quatro de junho, aniversário da nossa cidade. O frio, o céu azul e as músicas me despertam para as comemorações. Agora, é vestir o uniforme de gala, saia cuidadosamente plissada, blusa de manga comprida, gravata, boina, luvas brancas e os sapatos impecavelmente engraxados. Perfeita e pronta para desfilar pelas ruas da cidade representando nosso colégio.