Ontem arrumei um dos armários. Sabe aquele que fica no outro quarto e você vai protelando a arrumação? Pois é. Peguei firme e fui olhando ...

Múltiplos momentos

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Ontem arrumei um dos armários. Sabe aquele que fica no outro quarto e você vai protelando a arrumação? Pois é. Peguei firme e fui olhando cada lençol, cada fronha, cada toalha de banho. Por mais que eu seja prática, ainda assim, há um excesso que fui eliminando para que seguissem outro destino.

Depois fui abrindo as caixas e caixinhas. É nelas que guardo a vida. São fotos, algumas peças de roupinha dos filhos e netos quando eram bebês, alguns ingressos de espetáculos assistidos, bilhetes, cartões recebidos. Abri lentamente cada caixa, deixando que as sensações provocadas invadissem o momento. É possível viver anos, em minutos.
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Um cartão de embarque com dia e hora me remeteu exatamente ao intenso prazer daquela viagem. Um cartão, que veio acompanhando flores, trouxe a alegria ao recebê-las. Puro encantamento.

A beleza das lembranças é que nos rejuvenescem ao nos transportarem para outras épocas. A mim, não trazem tristeza, mas a sensação da imensa sorte de tê-las vivido.

Tive o tempo de viajar e de ver as árvores passando velozes na paisagem. Não importava o percurso, queria a chegada. Hoje, quero parar as árvores e observar cada tronco, cada folha, cada cheiro que ela emana. Minha viagem é muito mais para fixar a obra de arte contida em cada trecho da natureza. Lembro que, em uma das viagens pelo interior da Bahia, notei que colocaram redes suspensas de um lado ao outro da estrada, para os bichos e principalmente as Preguiças atravessarem. Corriam o risco de serem atropelados quando passavam pelo asfalto. Também quero isso, colocar redes para atravessar segura, lentamente, e aproveitar o mistério, porque viver é mistério, que a vida ainda tem a me oferecer.

Às vezes, sinto que tudo o que me rodeia está errado. As pessoas pensam diferente, discutem absurdos, vivem a frivolidade do ser e me assustam com ações, palavras maldosas. Concluo que não adianta tentar entender e muito menos tentar mudá-las. Não adianta me afoguear de raiva em tentativas para consertar o mundo. Posso modificar minhas próprias roupas, cabelo, atitudes, mas os outros, viverão segundo suas próprias verdades.

Ainda pretendo percorrer profundos e intensos caminhos e chegar, talvez, a lugares estranhos, mesmo que não sejam lugares reais, onde se bebe um café, ou se come um pedaço de bolo. Lugares onde exista o inexplicável, onde o afeto seja a maior necessidade, onde o olhar, o toque da pele, uma palavra de carinho, seja o essencial.

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Retorno e termino a arrumação do armário. Tudo volta para as caixas, todos os lençóis estão dobrados, as fronhas com seus pares e a visão disso me conforta.

Meu coração, que viveu múltiplos momentos enquanto arrumava o armário, deixa que tudo se abrande, toda paixão volte ao esquecimento. Para conversar plenamente com o mundo, tenho que me inserir no que me rodeia. Continuar sendo feliz com o simples, desconstruir camada por camada do meu pensamento, abrandar minha natureza impulsiva e agitada, aprender a ser mais silenciosa, mais observadora e sábia.

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