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Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do ro...

Escrevo de olho numa foto de Antônio David, uma cavalgada de vaqueiros encourados sertão a dentro, preludiando a intrépida batalha do rodeio.

Clic... e surge como um óleo de cores fortes sobre tela que lembra Frans Post, tão exuberante de luz e de força quanto muitas que os pintores holandeses deixaram, nos meados do 1600, para fazer o que David faz neste século exageradamente fotográfico.

Dizem que o pincel de Post não era bom de closes. Nisto, era superado pelo seu parceiro Albert Eckhout, que carrega de rubro os rostos, se excede nos gestos, no detalhe do comportamento ou no tumulto de músculos e de força dilatados num lance extraordinário de dança canibal.

Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a de...

Faz bom tempo, um confrade andou perguntando “quem é esse Castro Pinto?”. Nessa mesma quadra, o prefeito de Bayeux cogitava de mudar a denominação do nosso aeroporto. Há pouco, a mudança foi suscitada de raspão por uma das vozes legislativas. Afinal, quem foi esse vulto que a placa do aeroporto tenta lembrar? Dei um depoimento de segunda mão, impressionista.

Mas gravei seu nome desde que li a “Epítome de História da Paraíba”, escrita por um dos filhos ilustres de Alagoa Nova, Manuel Tavares Cavalcanti, “mandada escrever na Administração do Exmo. Snr. Dr. João Pereira de Castro Pinto”. Nisto fui precoce, li nas férias de 1946 na biblioteca local, sem ninguém que me afirmasse onde caía a tônica da tal epitome

A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista anual editada para documentar as “Noit...

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A foto ilustra a publicação de discurso de Samuel Duarte no número 12 de Paraíba Cultura, revista anual editada para documentar as “Noites de Cultura”, quando o governo do Estado premia os destaques do setor. O ano foi o de 1997.

A foto é do início dos anos 1940, com Samuel Duarte na Secretaria do Interior e Justiça, àquele tempo o cargo mais importante na hierarquia do Estado, logo depois do governador. O Secretário do Interior respondia pelo governador em suas ausências.

Nela reconhecemos, além do secretário Samuel, o professor Emanuel de Miranda Henriques (que está de roupa escura à direita), que viria se destacar como diretor do Liceu no governo José Américo; e José Simeão Leal, (de gravata borboleta) diretor de divisão da secretaria, a Divisão de Serviço Público, cargo que exerceu até 1944. Concentra-se nele, em Simeão, a razão deste registro.

O 4 de novembro, afinal, está sendo levado em conta. Não como feriado vinculado à data herdada do registro histórico de assentamento da p...

O 4 de novembro, afinal, está sendo levado em conta. Não como feriado vinculado à data herdada do registro histórico de assentamento da pedra inicial da cidade. Mas ao ser invocado como referência e motivação para a abertura do Museu da Cidade e anúncio da conversão do Palácio do governo em museu do Estado. Deste último falaremos depois.

Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Pr...

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Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Presidente o destinara: acolher a graça e a fineza espiritual da Paraíba representada pelas futuras normalistas.

Beleza a que não podia faltar, como na vida mesma, o seu contraponto de tragédia. A de Sady Castor e Ágaba, trazida à luz por Deusdedit Leitão.

A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo ...

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A vida começa a sair do quebranto, a bater asas e recobrar o pio dos humanos. Deixo a Casa da Cidadania, no Tambiá, uma invenção do tempo de José Maranhão, que sobrou no livro que assinei com Ângela Bezerra de Castro, a ele dedicado, e veio se consolidar por aceitação real da cidadania. Arrisco uma olhadela para a clientela da praça da alimentação até deter-me no café, a um canto, onde uma moça

Estamos montando um museu. Insinuo-me no plural do verbo por ser dos que se batem, há anos, contra essa carência inexplicável de um mirant...

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Estamos montando um museu. Insinuo-me no plural do verbo por ser dos que se batem, há anos, contra essa carência inexplicável de um mirante produzido artisticamente acomodado à sombra e ao formato de uma casa que não se avista para não lembrar uma das cicatrizes mais arraigadas da nossa história, a de 1930.

Museu por si mesma, a casa está pronta, restaurada, e me foi dado ingressar e ver por dentro o aposento onde demorou por pouco tempo a família e a intimidade do homem particular que o palácio ou a causa pública sacrificou. Assassinado há 91 anos, e desaparecida a república que invocou sua luta e seu nome para instalar-se, nenhum outro paraibano tem demorado e subido mais pronta e emocionalmente à memória do seu povo. “Ainda hoje me emociono” – palavras envelhecidas de Celso Furtado, cientista social de universais cenários, recordando impressão da infância.

Só alguns traços, o vinco da boca, a testa bem pronunciada e a cabeça pra cima, como cego, passavam-me a impressão de estar vendo meu amig...

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Só alguns traços, o vinco da boca, a testa bem pronunciada e a cabeça pra cima, como cego, passavam-me a impressão de estar vendo meu amigo, a mais elogiada referência da antiga revisão de A União.

Do final dos anos 1940 até o dia em que o jornal informatizado excluiu dos seus quadros a revisão de provas, ninguém teve o direito de ser melhor na função do que ele. Era o maior de todos nós, dizia Oswaldo Duda Ferreira, depois juiz, tão apegado ao castiço que nem nos sobressaltos consegue esquecer a gramática.

A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento ...

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A nossa opção por Tarcisio Burity ao lembrar seu nome num painel de homenagens aos 80 anos da Academia Paraibana de Letras, acontecimento a que se associa a Fundação Joaquim Nabuco, pode ser vista até sob suspeição, diante da pontinha que fui chamado a fazer em suas duas gestões no governo do nosso Estado. No primeiro, como auxiliar direto, no segundo governo como coautor de publicações destinadas à preservação em álbuns de tratamento gráfico compatível com a singularidade histórica e monumental da terceira cidade mais antiga do Brasil.

Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a via...

Restou-me de alguma leitura uma frase que, como a água do pote a que se refere, parece-me inesgotável. A frase de duas linhas sugere a viagem de quem foi e nunca deixou de ser esperado. E com dureza de itacoatiara não larga minha memória:

“A jarra está com a mesma e igual porção que ele deixou quando partiu, há mais de meio século.”

A ela vem juntar-se o parecer de um velho advogado da antiga amizade que me vendo chegar e sentar a seu lado, no lugar e hora de sempre, em tempos da sede central do Cabo Branco, tentou me adivinhar: “Você ri como defesa, para se enganar, mas o banzo é seu natural”. Ficávamos na calçada do clube, sob uma empanada que encobria a visão inquisitorial da Misericórdia. Já aposentado, doutor Jeremias Maurício de Sena mantinha lugar cativo entre os convivas, sempre reservado, ouvindo uma hora para falar um minuto. Eu ainda moço, sem escola formal, era atraído pela sabedoria menos despretensiosa daquele amigo velho. Sabedoria da lei e da vida.

Dez páginas, apenas e tão somente dez páginas em corpo 10 dos velhos magazines de linotipo!... E que páginas! Há prefácios assim. Esse d...

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Dez páginas, apenas e tão somente dez páginas em corpo 10 dos velhos magazines de linotipo!... E que páginas!

Há prefácios assim. Esse de meus frequentes retornos é assinado pelo professor José Pedro Nicodemos à edição feita para publicar pela Universidade Federal da Paraíba, através de sua editora, sob recomendação de um conselho editorial dirigido por Francisco Pontes da Silva.

Não atuei como desejava em minha estreia no canal Youtube. Propus-me participar dos 80 anos da Academia de Letras, na comemoração a que...

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Não atuei como desejava em minha estreia no canal Youtube. Propus-me participar dos 80 anos da Academia de Letras, na comemoração a que a Fundação Joaquim Nabuco se associou, e me vi abafado com meia dúzia de páginas a Tarcísio Burity. Sou movido por lembranças, emoções, e nunca soube organizá-las, na escrita, como um Juarez Batista ou um Celso Mariz, para ficar nos nossos. Nem lembrar José Américo, o melhor deles e de todos nisto de modelar emoções.

Li meu trabalho de voz apagada, quase afônico, eu que sempre tentei me mostrar em público como o antigo revisor de leitura alta de A União, recém-chegado de Campina, lendo as provas tipográficas naquele timbre radiofônico da antiga Rádio Borborema.

Cansaço da idade, acredito que não, pelo menos na voz.

Perdi o tom, uma hora antes da gravação, com a notícia da morte de Clodoaldo Muniz, admiração de infância, da mesma cruzada, do mesmo grupo escolar e, diferente dos outros, preso em si mesmo, contido.

Fomos irmãos dois anos somente, de 1943, quando vim morar na rua principal de nossa cidade, a 1945, quando tive de ficar interno no Pio XI para o admissão, não só ao ginásio, mas ao seminário. Clodoaldo ia também ser padre, por vocação, mas ficou se preparando como pôde, por si mesmo, em Alagoa Nova. Viera do sertão, penso que de Catolé, tangido pela seca.

Meus outros colegas eram para as traquinagens de rua, as safadezas, eu no meio deles. Com Clodoaldo, não, era um menino que pensava, entretinha-se com a cabeça, vendo o mundo sempre bem lá fora, do batente de casa, e aprendendo na escola pública e na cruzada de padre Borges. Aprendemos juntos a ajudar a missa em latim, Teodomiro, o sacristão, na parte prática, D. Antonina, minha mãe, no dizer das palavras do acólito. Minha mãe fora criada por freiras ministradas por um padre antigo da história da terra, o padre Antunes.

Foram apenas dois anos, volto a dizer. Os setenta e seis que a vida veio nos oferecer depois foram de ausência quase completa, um sabendo do outro por ouvir dizer. Ele diácono, não chegara a padre, professor, construtor de colégios e mentor espiritual de duas freguesias, em Campina Grande e Alagoa Nova. A nota de pesar da Diocese expressa seu labor e suas virtudes.

Há um poeta, creio que Rimbaud, de quem gravei de alguma leitura uma exclamação solta, que, por isso mesmo, vem calhar em certas situações: “Como os pássaros e as nascentes ficam longe!”

Eu estava com Raimundo Asfora numa homenagem de Alagoa Nova a Luiz Avelima, poeta e militante cultural de minha terra, ele vendo e lendo tudo de São Paulo, onde se aninhou, quando Clodoaldo me avista no discurso que fazia, merecidamente, a nosso conterrâneo. E sai dele um instante: “Estou vendo daqui o filho de dona Antonina, nosso irmão.” Ora, fazia uns cinquenta anos que não nos víamos. E como o pássaro distante que vinha de longes céus e remotas fontes posar no microfone, não se contém e canta: “Dona Antonina não, corrijo-me, Santa Antonina”.

Engoli o choro, Asfora ombreando-me ao lado, chamando-me ao aperto, para desafogarmos logo depois, no primeiro bar, sem Clodoaldo, que não bebia.

Agora, nesta semana, faltando uma ou duas horas para gravar um pouco dos meus guardados de admiração e amizade a Tarcício Burity, o telefone toca. Avelima, de São Paulo, me dá a notícia, e não teve água com sal que, daí em diante, limpasse meu discurso.

Uma amiga que não posso dizer da minha mesma idade para não ofendê-la pergunta por que não reedito o meu primeiro livro. Acha que ainda ...

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Uma amiga que não posso dizer da minha mesma idade para não ofendê-la pergunta por que não reedito o meu primeiro livro. Acha que ainda existe algum interesse, mesmo de antiquário, por uma coletânea de 1978.

Boa parte das ‘Notas do meu lugar’ foi escrita para o consumo do dia presente. O dia do jornal.

Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Ch...

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Num livro de canto, no térreo da estante, encontro recortada, com algumas correções, crônica que assino em 31 de janeiro de 1979 sob o “Choque do futuro” de Alvin Toffler. Não a reproduzi em nenhum dos livros. E me surpreendo, agora, decorridos mais de quarenta anos, reagindo da mesma forma, sob o mesmo espanto, como se o choque saísse do instantâneo para o permanente. Toffler, ao tempo de sua reflexão, sente-se “esmagado pela rapidez com que se verificam as mudanças e alterações sociais na chamada sociedade tecnológica”.

A Paraíba não festeja o que tem, muitas vezes nem faz conta disso, nem se lembra… E o que é que a Paraíba tem, ou mais tem, além de Augus...

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A Paraíba não festeja o que tem, muitas vezes nem faz conta disso, nem se lembra…

E o que é que a Paraíba tem, ou mais tem, além de Augusto dos Anjos, da Igreja de São Francisco, dos vultos que entraram na História e das terras de beira de rio para a cachaça que mineiro nenhum bota defeito? Tem minério cultural. Vocações e mais vocações. Mais do que vi, senti isto nos três anos que morei entre os oitenta da Casa do Estudante. Quem não tinha vocação para a música, as letras, a medicina, o jurídico, tinha desenvoltura para a política como Braga, Françoá, Soares Madruga.

É exclusivo do homem, de sua composição, que o espírito, a alma, seja que nome tenha, disponha de um corpo, transmigre com ele em format...

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É exclusivo do homem, de sua composição, que o espírito, a alma, seja que nome tenha, disponha de um corpo, transmigre com ele em formato próprio, peculiar entre bilhões e bilhões, visível e tátil aos demais sentidos. Corpo, forma distinguível, aparência, mas dependendo desse espírito, guiado e caracterizado por ele.

Os governadores todos, eles todos, sem exceção, sabem perfeitamente que estão perdendo o tempo em querer modificar a natureza desse presid...

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Os governadores todos, eles todos, sem exceção, sabem perfeitamente que estão perdendo o tempo em querer modificar a natureza desse presidente que, num equívoco da maioria de cabeça feita pela Globo, o Brasil elegeu.

O erro já vinha de trás, quando o PT, na ambição de se manter colado na cadeira, guarnecido de meios para garantir sua política, lançou mão de uma mulher sem jogo de cintura, dura para sentar na cadeira mais demandada e

A calçada é ou era uma extensão da casa, feita e conservada pelo proprietário, mas de uso garantido e disciplinado pelas Posturas Municipa...

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A calçada é ou era uma extensão da casa, feita e conservada pelo proprietário, mas de uso garantido e disciplinado pelas Posturas Municipais. Temos uma Lei de Posturas sancionada há 26 anos pelo então prefeito Francisco Monteiro da Franca.

Lembrei-me da existência dessa lei ao descer do carro, esta semana, no início da Pedro I, logo atrás do Palácio do Carmo, e ser impedido de tomar a calçada. Não existe calçada, toda ela, de uma esquina a outra, um farelo esburacado, destroçada pelo abandono, reduzida a um montão de cacos, ínvia como diria a mais catedrática titular do português

Pretextei uma consulta para rever, conversar, nem tanto com o médico que me atura há décadas, mas o cultor sensível da paisagem humana e c...

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Pretextei uma consulta para rever, conversar, nem tanto com o médico que me atura há décadas, mas o cultor sensível da paisagem humana e cultural da João Pessoa que ele adotou desde a passagem pelo nosso Liceu, vizinho de carteira e parceiro de cineclube de Martinho Moreira Franco.

- Nosso Martinho... não é, Gonzaga!

Não havia outro modo de nos rever senão o exclamativo. Jaime (falo de doutor Manuel Jaime Xavier Filho), como eu, não deve ter ido se despedir do amigo de tantas afinidades.

Já não disponho, na mente, do mapa em detalhe ou mesmo geral da nossa João Pessoa. Um avanço além da cidade de quando cheguei e me vejo per...

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Já não disponho, na mente, do mapa em detalhe ou mesmo geral da nossa João Pessoa. Um avanço além da cidade de quando cheguei e me vejo perdido.

Que diferença! Num sábado de véspera, esgotado o papo que nos caldeava a alma e o berço de origem na velha Casa do Estudante, Dorgival Terceiro Neto, ao nos recolhermos, veio com a ideia de, cedinho da manhã, sairmos num périplo pela cidade de então, que morria ao sul na Santos Stanislao de Oitizeiro, enviesava a sudeste pelo ABC da Joaquim Hardmann ou rua da Jaqueira, cortava o rio subindo o Varjão e torcia, escorregando pela beira da mata, deixando de lado o bairro de Jaguaribe.

José Américo ainda estava se preparando para calçar a Epitácio, contrariando o sonho do seu antigo presidente, João Pessoa, que, da sacada do Palácio, gizava na mente o que três prefeitos levaram uns cinco anos para fazer com a Beira-Rio.