Uma amiga que não posso dizer da minha mesma idade para não ofendê-la pergunta por que não reedito o meu primeiro livro. Acha que ainda existe algum interesse, mesmo de antiquário, por uma coletânea de 1978.
Boa parte das ‘Notas do meu lugar’ foi escrita para o consumo do dia presente. O dia do jornal.
Boa parte das ‘Notas do meu lugar’ foi escrita para o consumo do dia presente. O dia do jornal.
O clube central existia bem vivo, falando e fuxicando pela elite em cena da cidade. O clube e o Ponto de Cem Réis, este como mostruário humano e social de todas as classes. Isso não existe mais. Até fogo pegou no ex-clube, na semana passada.
Aconteceu, então, o que estava longe de minhas suspeitas: foi embora cedo e quase inteira a cidade da minha crônica. Quando não são as figuras, encerradas na moldura final, são as casas dos seus amores, dos seus caprichos, desabando inteiras como ocorre a cada inverno na solidão da Duque de Caxias, das Trincheiras, com sobrados avarandados, de taipa real, modelo do século XVIII. Coisas que só restam nos álbuns de Stuckert e Walfredo Rodriguez.
Eu enfatizava, confiante: “Muitas delas tentam refletir os reclamos da rua, os pleitos que prescindem até de teor para ser formalizados”. Reparem no tempo do verbo: “prescindem”, a vida no indicativo presente.
Na releitura, as “Notas” foram se desatualizando. “Esta cidade não existe mais”. A Torre de que Walter Santos falava, outro dia, em conversa pelos arredores da Fundação casa de José Américo, não existe mais. E a crônica do cotidiano terminou em memória, uma memória desconchavada, com o verbo no presente e a ação no passado.
Como a intenção não era de memorialista, o livro simplesmente envelheceu.