“... A carne, sem pão, encontrada no chão, é de todos nós, e que já era mais que tardia a nossa apatia e cinismo em insistir na ação de não reconhecermos nela nossa fisionomia”.
Carlos Fabian de Carvalho
(Pastoral do Povo de Rua)
(Comissão da Promoção da Dignidade Humana)
O poeta espalha a enormidade lúdica do desengano.
A sombra sinaliza ao homem o poder da luz que não
nos deixa esquecer que estar de pé é uma
circunstância, uma transitoriedade.
A sombra é a seta que o céu projeta sobre a soberba
da consciência bípede.
Vitor Nogueira
Não me vesti de mim,
não me cabe ser algo que não preencha o meu vazio.
O chão e o naufrágio são umidades sem esperança.
O que reveste a santidade além do manto?
Consequências ignoradas, oportunidades perdidas.
Os anjos são rústicos.
Qual verdade lustra os pés descalços?
Vitor Nogueira
O desespero é saber-me vivo, assim,
na primeira pessoa, despido.
O nome do meu destino?
Saberei dizê-lo mais adiante, bastará olhar para trás.
A juventude que não tenho
era a casa de meus pais.
Vitor Nogueira
Eu sou o elo cravado na carne,
a marca da besta nos braços dos inocentes.
SEDE
Repare que a língua extinta em sua boca segue úmida
Ela prolifera no submundo das vertigens,
onde a indiferença é o nome que cabe
a cada causa perdida,
onde se grita e se ruge,
e se desconhece a paz
que não seja entranha,
a luz, que não seja busca,
e os beijos, que não sejam desejo.
Vitor Nogueira
VERMELHO E O PRETO
Eis a última pele,
a palavra-imagem
que segue inapta em exprimir
os múltiplos tons da verdade.
Vitor Nogueira
Poemas do livro O mais Eu de todos em mim
vive me desconhecendo ■ de Vitor Nogueira e Jorge Elias Neto, disponível no site da Editora Cousa.É impossível não pensar no aniquilamento, no apocalipse, “no lugar de toda pobreza”, nos algoritmos da soberba, na força centrípeta vencida dos muros, no “deus mercado”, na impassibilidade crescente da artificialização da inteligência, na indigência, na condição humana. (Jorge Elias Neto)