Por que, mesmo quando temos todos os motivos para estarmos alegres, ainda assim nos alimentamos de uma tristeza aparentemente inexplicável? Que melancolia é essa que insiste em se instaurar em nosso ser? Estaremos retraindo a felicidade por medo de perdê-la ou dando vazão à angústia por desejar que esta desapareça? Que vocação irresistível é esta para a dramatização,
M. Obstoj
de chorar no travesseiro, de ouvir aquela música na madrugada, que incorpora a melodia dos nossos desencantos... ou de ler aquela poesia que nos enche de lágrimas?
Que pesadelos são esses que nos imergem na sensação de abandono? Que medo de perder se nos sentimos tão amados? Acionamos o alarme do afeto, porque os laços estão frágeis. Os “amores líquidos”, como diria Bauman, estão sempre escorrendo pelo ralo. É um sinal que soa para nos recordar de que todo sentimento é efêmero, mutável e frágil. Se tudo é tão frágil, então cuidemo-nos mais.
Mini Labubu, bebê reborn, chupetas, revistas para colorir e toda sorte de brinquedos e apetrechos têm “invadido” o mercado como forma de dar amparo emocional a adultos. Isso revela uma tendência: a infantilização dos adultos. Homens e mulheres, mesmo em plena vida produtiva, se engajam em práticas, consomem produtos e cultivam hábitos e comportamentos associados à infância. Esse movimento revela aspectos sociais, culturais e psíquicos da contemporaneidade.
Subverto a ordem do nascer. Nasço diariamente, porque morro. Viver é recolher os lutos diários. Coloco-me no colo, mas não me balanço. O mundo se encarrega disso, de modo a me fazer chorar. Clamo. Parem, por favor, quero descer. Nessa parada desejo encontrar algum saber oculto que me faça recobrar o que é ser coerente. O que sinto e como ajo se duelam num quotidiano imerso por pragmatismo. Sei que sou romântico, sei que a poesia me convoca,
Como você se identifica? Qual é a característica que prevalece sobre seu ser? Legal? Chato? Extrovertido? Introvertido? Estamos o tempo todo nos avaliando, o que não quer dizer que estamos refletindo efetivamente sobre a nossa personalidade, sobre quem estamos sendo ou gostaríamos de ser. Afinal, não é fácil mexer nesse vespeiro da identidade, sob o risco de ficarmos mais (des)integrados diante da balbúrdia da contemporaneidade.
Há muitos fazendo poemas e, poucos, poesia. Explico: o que existe em profusão é a escrita feita através da disposição de versos, que produzida em alta escala padece de uma linguagem mais elaborada, sem estranhamento, com pouca exploração das figuras de linguagem.
Depois que os produtos industrializados começaram a estampar ‘alto em sódio’, ‘alto em açúcar adicionado’, comecei a me perguntar como seria se os humanos também viessem com embalagens rotuladas. Imagine encontrar alguém e, antes de dizer “bom dia”, deparar-se com um selo: “Contém traumas não resolvidos”. Ou aquele vizinho sorridente, rotulado com “ressentimento elevado”.
A angústia da folha em branco atinge até os mais experientes escritores. Quem está de fora do processo acredita que escrever é muito fácil para quem está em constante exercício. No entanto, mesmo nesse espaço que ora escrevo, por vezes fico tateando as palavras, às cegas, como se desejasse senti-las em suas diversas possibilidades do dizer. Há anos lecionando Língua Portuguesa, nas aulas de produção textual vejo com frequência o sofrimento daqueles que demoram a colocar a primeira
Hiperativos, imperativos. Comecei a semana dizendo “não” para poder dizer “sim” a um outro “eu”, que não se manifesta e que está cansado de ser demandado – e sufocado – pela vontade alheia. Cancelei compromissos que me impus para atender o outro, retirei cursos da lista, me desinscrevi de canais de Youtube, risquei livros da lista, doei alguns, suspendi a assinatura de algumas plataformas de “streaming”, organizei computador, pastas digitais, documentos, tudo isso na tentativa de organizar minha mente.
Na antiguidade, a amizade estava entre uma das mais altas, senão a mais alta das virtudes. Será assim hoje? Segundo Aristóteles, há três tipos de amizade: amizade de prazer, amizade de utilidade, amizade na virtude. Sendo todas elas essenciais à vida plena. Os melhores amigos (raros) serão aqueles que unirão essas três relações.
O ofício do escritor é geralmente vinculado a uma atividade de extremo esforço e/ou de recursos mágicos para a produção do texto. Embora para escrever não existam fórmulas infalíveis, dado que é necessário que o redator esteja ao menos dotado de proficiência em sua língua, é relevante a existência de manuais que o auxiliem. Isso porque o que diferencia um usuário comum da língua de um mais competente é a consciência dos recursos
Apesar de cada vez mais desrespeitada, a figura do professor ainda suscita idealizações. Aquele que é detentor de um saber, que inspira por ser mais experiente. Por vezes, espera-se que o docente seja perfeito, sem nenhum desvio de caráter, sempre cordial, gênio, semideus. Esquecem os alunos de que se trata de um ser humano como outro qualquer – com defeitos, fraquezas.
“Os ‘loucos’ são os que acreditam em si mesmos, que amam seus personagens mais do que a si mesmos, pois eles se transformaram, sem saber, em personagens de si próprios”. (Christian Dunker e Cláudio Thebas, em O Palhaço e o Psicanalista)
“O amor é um egoísmo a dois”. Essa frase de Madame de Stael comporta aquilo que o psicanalista Freud e o sociólogo Bauman trabalham em suas obras. Será mesmo essa a nossa essência: amar o outro como a um espelho ou como um objeto cujas projeções estão pautadas em nossos desejos, carências? E, hoje, na menor das não correspondências, somos legados ao abandono, porque raros são aqueles dispostos a construir laços concretos? O mundo da pressa, da ansiedade, do querer globalizado e pouco centralizado nos põem à margem. Irônico.
Um dos elementos mais fascinantes da literatura ficcional é a personagem. Quem não se lembra de figuras marcantes como Capitu, de Dom Casmurro, de Machado de Assis, com seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada; Fabiano, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, com sua luta bruta contra a miséria e a seca; a Gabriela, de Jorge Amado, com seu cheiro de cravo e canela,
Tanto o panóptico quanto o girassol representam estruturas em que o poder está relacionado ao ver e ser visto. Um gira-se para a luz, o outro comporta-se por temor do olhar invisível. Em “Panópticos e girassóis”, de Isa Corgosinho (Urutau, 2024), seu segundo livro de poemas, a vigilância sobre o essencial da vida e a essência do eu poético se entrecruzam num jardim de possibilidades existenciais de um eu lírico marcado pelas influências
Em Pervertido Querubim (2024), Chico Viana estreia na poesia trazendo à tona memórias íntimas, reflexões existenciais e lirismo. A obra não segue roteiro fixo, nem doutrinas – surge do tempo cultivado e da inspiração aliada ao labor. Professor, cronista e agora poeta, Viana busca oferecer beleza e provocar reflexões sobre a vida e a morte.
É preciso dizer que é quase impossível esperar que o aluno desenvolva habilidades competências de leitura e, principalmente, o apreço pelo ato de ler, se o professor não for um leitor contumaz. Isso inclui o docente realmente gostar de ler, passando por diversos gêneros textuais, autores e épocas. Como diz Isabel Solé no livro “Estratégias de leitura”:
A literatura – tradicionalmente reconhecida como imprescindível no ensino de Língua Portuguesa, sobretudo quando amparada por leituras integrais de textos canônicos – tem sido gradualmente excluída dos conteúdos programáticos de muitos concursos públicos para professores da área. Essa exclusão suscita sérias preocupações quanto ao empobrecimento da formação docente e ao futuro da educação linguística e cultural no país.
“Cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais”. Essa frase, cuja autoria desconheço, é um lembrete do quanto temos nos esforçado para preencher nossos vazios com o pragmatismo sacal do cotidiano que está repleto de demandas, mas falta-lhe significado. Estamos ocupados demais ou culpados demais? Culpados de quê? Cada qual deve tentar responder...
Viver em uma sociedade etarista impõe desafios diários para aqueles que desejam envelhecer com dignidade. O preconceito contra a idade se manifesta de diversas formas, desde a desvalorização do conhecimento e da experiência até a exclusão de espaços e oportunidades. Diante desse cenário, torna-se essencial lutar pela própria autonomia, tanto física quanto mental, garantindo qualidade de vida ao longo dos anos.