Estou em transição – da poesia ao pragmatismo. Não sei se é melhor ter consciência disso ou não saber. Saber dói. Mas, não estou inerte. Estou reagindo para não me perder diante das tantas cobranças que me faço e que o mundo me faz. Prático ou teórico demais? Estou teórico-prático enquanto quero ser poético-prático. A agenda não deve ser meu único guia. Agora mesmo, enquanto escrevo, faço o esforço de dar uma pá da minha mente e uma do meu coração. Quero ser um pragmático romântico, não um romântico pragmático.
Quando ela vem, tudo paralisa. A respiração se altera, sinto um pulsar diferente. Ela é digna de silêncio. Meus olhos são lavados. Uma lágrima já se encaminha. É nesse instante que algo me indica: estou diante da beleza; quando o deslumbramento ocorre, mesmo sendo algo que sempre esteve ali, mas não enxerguei por falta de vagareza no olhar. Tudo que realmente é belo nos remete à arte e poesia.
Descansar a vista em algo ou alguém, hoje em dia, tornou-se um privilégio. Estamos cada vez mais rodeados de excessos: poluição sonora, visual e, principalmente, pelas falsas belezas... Pessoas que se vangloriam por seus bens materiais e esquecem que aquilo que desperta interesse não é a pessoa, mas o objeto. Além dos vários sorrisos que nos são dados; entretanto, repletos de más intenções. Vai-se um preço, um valor sem valor. Beleza hipócrita que nos devora lentamente, até nos darmos conta de que estamos ficando feios.
Há horas nas quais me sinto faminto por beleza. Então, procuro nas plantas, nalgum livro, poema ou numa música. E isso me preenche e me descarrega de uma forma que me sinto uma pessoa melhor. Não que devamos fugir do que nos desagrada, mas que reconheçamos o que nos faz bem e traz o bom. Encarar o que nos ofende também é um exercício artesanal.
O belo não tem tempo certo para acontecer. Na verdade, a sua presença nos leva à outra dimensão, como sugere o poeta Affonso Romano de Sant’Anna:
“A ausência da beleza é quando o tempo se inaugura. E o tempo é falha e ruptura. A ausência da beleza é um erro, o pecado. A beleza é alegria e o avesso do que é triste. A beleza é a notícia de que Deus existe”.
Não devemos dizer que uma árvore não dará frutos, porque ainda não os vemos, ou que um pássaro pousado não voa. Que venha o belo! Mesmo que cause inveja, desdém, pois o belo sempre o será, enquanto o sentirmos, e ainda que não. Sei que é transcendente, permeado de som, cheiro, imagem. E que o poeta será poeta, ainda que não faça mais poemas. Em outras palavras, o amor borda.
Um lugar encantado. Uma praia poderia ser. Sentir a água dançando nos pés. Sentir um lábio trêmulo tocando noutro. E, mesmo que a transformação seja transposta na harmonia entre formas, cada traço representará resquício de seu contraste. Embelezar a vida com brutos tons e aos poucos retirar-lhes as sobras. Já estou começando a divagar. Estou com sintomas de taquicardia...
Viver não é fácil. Isso já não constitui uma novidade para muitos de nós. E ser adolescente? Nem se fala! Essa fase de ruptura, entremeada pela infância e pela fase adulta, é aterrorizante. Mas, os pais não devem perder o pulso. Tampouco a pulsação dos olhos diante de seus filhos que, por causa da correria do cotidiano, têm passado como vulto.
Conheci Marly de Oliveira através de Clarice Lispector, mais especificamente, com a leitura do livro “Entrevistas”, da C.L. Mas, quem foi Marly? Antes de tudo: uma poeta que começou suas publicações muito jovem, no final da década de 1950, também foi professora de língua e literatura italianas e de literatura hispano-americana, na PUC, na Faculdade Católica de Petrópolis e na Faculdade Católica de Friburgo, além de tradutora. Pertenceu à Academia Brasiliense de Letras.
Encantamento. Momento lúdico. Magia. É a infância a fase que passeia por sutilezas contundentes de um mundo real. Infelizmente, este instante é “veloz como o vento”. Em “Isaura – veloz como o vento”, de Norma Alves (Editora União, 2012), a palavra se delicia com a imagem. O livro inicia-se com a clássica expressão “era uma vez” e segue mantendo a expectativa do leitor, que é mantida através de jogos de palavras, como a antítese, além de neologismos.
O filme “Precisamos falar sobre Kevin” conta a história de Eva Katchadourian, mãe de um “garoto Columbine”, como ficaram conhecidos os meninos que assassinam colegas de escola. Seu primogênito, Kevin, assassinou friamente onze pessoas no colégio onde estudava. Eva levava uma vida tranquila, casada com um homem romântico e bem-sucedido. Porém, a maternidade a transportou para um mundo cheio de incertezas e regras.
Tempo. Será ele igual para a mente, o corpo e a alma? E para os jovens? Os velhos? Evidentemente, não. Podemos dividir o tempo em três categorias básicas: físico, mental e espiritual. O físico corresponde ao tempo do relógio, também chamado de cronológico, Cronos, tempo que nos envelhece, que mata o corpo, coloca-nos rugas, tira-nos o vigor físico.
A morte de um médico sempre nos desconcerta. Ele, que cuidou de tantos, prolongou tantas vidas, não pôde salvar a si mesmo. Um operário das letras, um cirurgião na medicina: Moacyr Scliar. “Moacyr”, filho da dor. “Scliar”, vidraceiro (vem do russo). Esse escritor compôs seus vitrais com afinco, com seu intelecto e amor.
Isso não é um ensaio. Uma vida não se ensaia. Quem sabe, talvez, um relato de uma epifania. Olhos oblíquos, visão periférica, como toda mulher tem. Uma língua “presa”, que se libertava quando tocava na máquina de escrever. Maçãs no rosto que, mesmo no escuro, eram de se notar. Clarice Lispector...
Quando os Lutos já não cabiam na dimensão do dia a dia, resolvi transpô-los para o papel. Já não havia tanto espaço no meu esquife interior. Tive que sair do luto à luta. Foi aí que nasceu o “Lutos diários”, meu 3º livro de poemas, uma tentativa de renascer a partir de cicatrizes. Para cada experiência de luto que tive só aumentou a consciência de redobrar a força.
Por que você escreve? Há quem faça para não ser esquecido, para “desabafar” (catarse), pela vaidade de ser lido, por amor. Vivo esse ofício por tudo isso. Não me importo se serei entendido ou aplaudido — quero suscitar sensações.
Limitações são sempre sugestivas e subjetivas. Vêm da zona do dever e seguem até a do poder. Limites andam acompanhados de incompreensões, mas quando é explicitado que sua função é gerar uma felicidade, então seu denominador deve ser reavaliado.
Incitação da insígnia do pensamento é como eu definiria um insight. A mim é uma grande tarefa (risco) tecer alguns comentários sobre o poeta, a pessoa de Carlos Aranha e o seu primeiro livro de poemas, “Nós – an insight”
Uma das maiores preocupações das pessoas é a estabilidade financeira. A ansiedade dispara constantemente quando não se sabe quanto se ganhará no mês, se o dinheiro estará na conta no dia prometido, ou se o emprego estará garantido no próximo ano. Em virtude disso, há muitos anos só aumenta o público que se dedica a concursos públicos almejando um cargo, ainda que não seja, de fato, aquele trabalho dos “sonhos”. Mas a sensação de segurança é determinante para que se busque a aprovação nos certames. Em virtude disso, propagam-se as oportunidades
Machado de Assis, em seu romance “Quincas Borba”, escreve que a inveja é “a admiração que luta”. O professor e historiador Leandro Karnal a define como a tristeza pela alegria alheia. O que bem dialoga com o pensamento do Bruxo de Cosme Velho. Parece, então, ser bem difícil lidar com o sucesso alheio. Para alguns, é preferível negá-lo a reconhecê-lo.
Sempre fui uma dessas pessoas que curte a solidão e fica curtindo nela. Curtindo mesmo porque, para mim, ela é curta e porque nela fico em banho-maria, aproveitando o silêncio.
Constantemente, estou em meio à multidão. Faz parte de meu ofício estar entre muitas pessoas. Afinal, um professor deve ir aonde o aluno está, mesmo que virtualmente. E com tantas redes sociais acabamos ficando conectados demasiadamente. Então, preciso me desligar.
“Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então.”Clarice Lispector
Eis o nosso grande desafio cotidiano: ser. Ser jovem é mais que estar jovem. Ser velho e não estar velho. A gente precisa se reinventar todo dia. Essa dinâmica da vida exige que tenhamos um desprendimento muito grande da pessoa que queremos ser e ainda não temos os instrumentais que, de fato, nos guiem. A linguagem me é essa bússola para que eu não me perca nesse mundo de possibilidades. Em contrapartida, há momentos em que nos deparamos com pessoas que não nos deixam ser.
Muitos pensam que ser revisor de textos é exercer um ofício que se restringe a viver à cata de erros de ortografia, concordância, crase, regência, colocação pronominal, acentuação, pontuação, repetição de palavras, etc. Bem, dado que muitas são as pessoas que não dominam a gramática normativa (incluindo pré-concluintes do curso de Letras), já se deve considerar que o conhecimento desse aspecto da língua é um grande feito. Todavia, a revisão vai para além do normativismo, ela visa o aperfeiçoamento do texto, o que implica considerar questões relacionadas à precisão vocabular – a busca pela palavra “exata”,
Compreende-se a leitura como sendo uma das formas de um sujeito adquirir o letramento escolar para que assim possa atuar socialmente e exercer sua cidadania. Não há como pensar a ideia de pertencimento sem fazer a travessia pela leitura, dado que cabe à escola apresentar tradições, costumes, a cultura da comunidade local e mundial para que os estudantes tenham ciência de sua atuação dentro do contexto sócio-histórico em que se encontram.
Tenho refletido sobre a velhice, ao me deparar com o avançar do tempo que recai sobre todos nós – de crianças a adultos, incidindo com mais força a quem já passou dos 60 anos. Embora envelhecer seja encarado como um processo biológico, prefiro enxergar sobretudo pela perspectiva, deveras clichê – mas quem disse que os clichês não têm o seu valor e seu caráter de verdade, ainda que relativo? Refiro-me ao fato de que o envelhecimento é mais lamurioso quando abandonamos a potência de ser, de sonhar, do deslumbramento diante da vida.