Encantamento. Momento lúdico. Magia. É a infância a fase que passeia por sutilezas contundentes de um mundo real. Infelizmente, este instante é “veloz como o vento”. Em “Isaura – veloz como o vento”, de Norma Alves (Editora União, 2012), a palavra se delicia com a imagem. O livro inicia-se com a clássica expressão “era uma vez” e segue mantendo a expectativa do leitor, que é mantida através de jogos de palavras, como a antítese, além de neologismos.
Isaura brincava com a vassoura e com o vento – apostavam corrida. O vento, podemos interpretar como um símbolo do tempo. “O tempo voa”. A menina corre com o tempo para se tornar adulta, pois inconscientemente crê que só conquistará sua autonomia e atenção quando for adulta. Na infância, Isaura está sozinha, mas nem tanto; tem sua imaginação. A ela resta “bruxulear entre a escuridão e a luz”. Seu pai está preocupado com a sua fama e a mãe está mais interessada em fazer dinheiro.
Outro aspecto que chama atenção no contexto narrativo são as alegóricas figuras – Mutuca e Dona Coruja. Mutuca, uma mosca rejeitada quando se dispõe a procurar a “Panaceia”. Só depois da rebelião das suas companheiras do mosqueiro, adquire seu direito de participar da busca pela “cura de todos os males”. Dona Coruja remete à sabedoria.
Isaura ilustra muitas meninas, ou melhor, crianças deste século. Crianças que são devoradas por um mundo virtual, que fazem de tudo para suprirem suas carências de pai e mãe, sobretudo, pois, como sabemos, para sobreviver no mundo real, temos que trabalhar com esmero, “fazer dinheiro” para assim conseguirmos criar os nossos filhos. Temos que nos mostrar competentes como profissionais, o que geralmente acaba prejudicando a qualidade da paternidade/maternidade. Diante disso, Isaura quer crescer, busca na vassoura a cura de um grande mal – a incomunicabilidade. Com esse instrumento, pode voar, vislumbrar outros horizontes.