Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no corpo crescido. Hora de refazer os planos, entregar os pontos do que não foi resolvido.
VARREDURA Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no cor...
Hora de limpar gavetas
Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no corpo crescido. Hora de refazer os planos, entregar os pontos do que não foi resolvido.
DO NATAL O sorriso no rosto, a roupa nova no corpo. O peito inquieto, o olho na porta. A comida farta, a mesa pronta. ...
Minha árvore de Natal
O sorriso no rosto, a roupa nova no corpo. O peito inquieto, o olho na porta. A comida farta, a mesa pronta. As mãos postas, a prece insólita.
Gosto muito do mês de dezembro. Mesmo sendo o último do ano, para mim funciona como se fosse o primeiro. É nesse mês que eu me sinto...
A lista de dezembro
É nessa época que costumo fazer uma retrospectiva de minha vida, avaliando o que deu certo, o que deu errado, o que falei, quando devia ter me calado, o que calei, quando precisava mesmo era ter falado.
FESTA DA PADROEIRA O pavilhão armado, todo enfeitado com bandeirinhas de papel de seda, azuis e vermelhas. A procissã...
Amanhã, seremos nós os morrentes
O pavilhão armado, todo enfeitado com bandeirinhas de papel de seda, azuis e vermelhas. A procissão de nossa Senhora da Conceição, se arrastando, sem pressa, pelas ruas da cidade. O som do sino da igreja matriz e a cadência das matracas, marcando os passos dos contritos fiéis.
Nunca gostei de levantar bandeiras nem de participar de levantes panfletários. A vida toda me entendi como pessoa e isso sempre me b...
Do Mulherio das Letras
Menina pobre do interior da Paraíba, que começou a estudar aos sete anos, numa escola pública, e que nunca pôde comprar um livro sequer, até entrar na universidade e arrumar o primeiro contrato de trabalho (auxiliar de ensino), fui levando minha existência com muitas dificuldades e falta de tudo um muito.
A difusora A Voz de Pocinhos, idealizada por meu pai, Hermes de Oliveira, foi ao ar pela primeira vez em 10 de outubro de 1951, execut...
A Voz de Pocinhos resiste
Meu pai era, por assim dizer, um multimídia: músico, alfaiate, eletricista, ativista cultural, locutor, animador de festas, chamador de bingos e leiloeiro de galinhas nas festas da padroeira da cidade, entre outras coisas.
FLOR DO OLHAR Meu olhar para as flores é o de quem, extasiada, deseja que o mundo resolva parar e nada mais saia do lu...
Meu olhar para as flores
Meu olhar para as flores é o de quem, extasiada, deseja que o mundo resolva parar e nada mais saia do lugar, até que a primavera possa, de fato, em minha vida se espalhar.
NOV(IDADE) A gente nasce, cresce, se reproduz, envelhece e, depois, quer fazer tudo de novo, como se isso houvesse...
O peito inquieto, o olho na porta
A gente nasce, cresce, se reproduz, envelhece e, depois, quer fazer tudo de novo, como se isso houvesse...
NOVO EXÍLIO terra palmeira sabiá vazio aqui ou lá espaço tempo lugar
Uma beleza assim: que brota do nada
terra palmeira sabiá vazio aqui ou lá espaço tempo lugar
DE OUTRA SOLITUDE A lua vaga. Um cão ladra. Meu sono tarda. DE OUTRAS LIBERDADES Alguém abandonou um papagaio q...
Mistérios
A lua vaga. Um cão ladra. Meu sono tarda.
Alguém abandonou um papagaio que vivia, há anos, aprisionado. Liberto, leve e solto, ele pôs-se a gritar o nome do dono, no telhado do vizinho.
PONTEIO O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que dei...
Luz que irradia
O que faço com as vírgulas, que me sobram e emperram minha escrita? Por que insisto nas reticências, que deixam em aberto mesquinhas suposições? Onde coloco os dois pontos cruciais, que me obrigam a dar inúteis explicações?
POEMINHA AMOROSO Procurar dentro do fogo que é teu olhar. Desejar envolver, abraçar. Tocar a pele, o corpo, o coração.
Marulho
Procurar dentro do fogo que é teu olhar. Desejar envolver, abraçar. Tocar a pele, o corpo, o coração.
A meu pai, que se foi cedo demais VIDA-RODA Vida, vida, vida-roda, que rola, enrosca e sufoca as vontades que a ge...
Vida-roda, roda-vida
Vida, vida, vida-roda, que rola, enrosca e sufoca as vontades que a gente tem. Roda, roda, roda-vida, que se abre como ferida e rasga
DAS INÚTEIS REFLEXÕES O que pensa um gato, quando dormita em sua casinha de plástico? O que ouve um gato se, com voz d...
Entre cochilos e sobressaltos
O que pensa um gato, quando dormita em sua casinha de plástico? O que ouve um gato se, com voz de afeto e agrado, falo fininho, em falsete apaixonado? O que espera um gato, dia após dia, entre cochilos e sobressaltos? Sem respostas, prossigo e desisto de dar sentido ao que em mistérios já nasceu envolvido.
Alguém abandonou um papagaio que vivia, há anos, aprisionado. Liberto, leve e solto, ele pôs-se a gritar o nome do dono, no telhado do vizinho. De tanto estar preso, não sabe ser livre e quer voltar para quem o largou sozinho.
Uma homenagem a Anayde Beiriz, pelo que foi e pelo que ainda é PELO SIM, PELO NÃO Não, não quero amargar sentimentos...
Dualidade de ser
pelo que foi e pelo que ainda é
Não, não quero amargar sentimentos de perdas por não ter feito o que quis. Prefiro correr o risco e encarar o perigo de ter minha vontade como força motriz.
RETROSPECTIVA Ando vasculhando meu passado remoto. Às vezes, me reencontro; em outras, me desconheço. Onde foi que eu ...
De um passado remoto
Ando vasculhando meu passado remoto. Às vezes, me reencontro; em outras, me desconheço. Onde foi que eu errei? Em qual esquina me perdi? No que fui certeira e não me confundi? De tudo, carrego dúvidas e a sensação de que os erros não me resumem. De nada, entretanto, adianta eu me culpar, já que, se eu pudesse reviver, no presente, minhas lutas, tropeços, conquistas e breves alegrias, seria igual tudo o que eu faria.
NAVALHA O fio da navalha corta o cio. Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água q...
A roupa do corpo é a pele
LUGAR DE FALA Em qual lugar minha voz se instala, se é no silêncio que o que digo mais se declara? DO BEIJO a voz cala...
Ponteio (II)
Em qual lugar minha voz se instala, se é no silêncio que o que digo mais se declara?
a voz calada em nós a vez agora a sós o desejo cálido e veloz
O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasil...
Ponteio
![poesia livro ponteio bordado](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFIdwDZiLzUeWuyGzAwNE5k7aEwmcLfVaUxhzjdWOfJ-SWPgBkJgHkr_U5YCyxPvHfjOfm4AH2rIDKdjyNxt5XlclhP3ruwqEinykenRwtz9vw2C_gH_9kF-NaSqiq0VwzRf56JzGqpX1SZqPQK4RgzhEfT0CfgudWd4DCum8tKU5i4Bw31AV1NC_t/s1600/3%20VERT%20COMUM.jpeg)
Para cada poema, na página esquerda ao lado, há um “ponteio”, que pode ser entendido como um mote, uma epígrafe, um refrão, um pensamento, uma filosofia. Os temas desenvolvidos nos textos são os mais diversos, porém sobressaem angústias e reflexões diante do tempo, do envelhecer, da finitude da vida e da morte iminente. Com projeto gráfico do poeta Juca Pontes, fotografia de Antônio David Diniz e capa e elementos ilustrativos da arquiteta e artista visual Valéria Antunes, o livro traz apresentação da professora Neide Medeiros, que é membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba e da União Brasileira de Escritores da Paraíba (UBE-PB).
Teço e demarco, em linhas e traços, as partes extremas de mim: a do começo, com minhas expectativas pontuadas; e a do fim, uma história
DA ESPERA Vivemos um tempo de esperas. Esperamos, a cada dia, que o dia seguinte seja mais promissor. Esperamos ...
Cotidiano II
Vivemos um tempo de esperas. Esperamos, a cada dia, que o dia seguinte seja mais promissor. Esperamos que as horas maçantes, vazias, passem logo.