Há anos, luto arduamente para ter um mínimo controle sobre mim. Defendo-me do que pode me converter em marionete das paixões — minhas e alheias.
No silêncio da tarde chuvosa pergunto-me quem comanda a minha jornada. Desfilam diante de mim situações em que ri e chorei, mergul...
Minha alma é tudo que eu tenho
Há anos, luto arduamente para ter um mínimo controle sobre mim. Defendo-me do que pode me converter em marionete das paixões — minhas e alheias.
Há agitações dentro de mim que a ninguém confesso. Algumas sombras particulares que convivem com um lado macio e calmo, que ama autocon...
O sol individual
"Embora a neve de Yoshino esteja amontoada em seu caminho, não duvide que onde seu coração está, seus passos seguirão sua rota”....
Líquidos poemas de amor
Lady Murasaki
O The New York Times chamou de “milagre” o fato de todos os 367 passageiros e os 12 membros da tripulação da Japan Airlines terem escap...
Era outono e as folhas vermelhas caíam ao sabor do vento
Lembro bem do dia em que te conheci. Eu andava distraída, a catalogar coisas bonitas, quando te ouvi espalhando os sons da tua alegria....
A voz da angelitude e o som das lágrimas
A cada encontro nosso, a minha respiração se alterava diante da absoluta beleza que escapava de ti. Teus pequenos milagres me punham um sabor de divindade na boca. Nenhum assunto era pequeno ou desimportante.
No outono de 1684, o grande poeta do período Edo, Matsuo Basho, passou pelo Monte Fuji, que estava escondido por névoa e chuva, mas ...
Nevoeiro e chuva, um dia de Fuji invisível
A maior liberdade a que me permito é não me sentir obrigada a satisfazer expectativas alheias.
Aprendi a silenciar
O sol se deita suavemente na borda azul do mar. Com ele se vai mais um ano da minha vida. Aniversário. A lágrima desliza, descuidada, p...
Agora e depois, o meu amor
Entro no quarto como se pisasse em território sagrado. Da varanda vem uma brisa fresca e os verdes da primavera. Neste lugar, ele mor...
A casa do amado morto
Minutos antes eu caminhara por uma adorável estradinha cercada de árvores. Pássaros cantavam e meu coração feliz respondia. Finalmente iria visitar a casa dele. Há anos eu esperava por isso.
Para os apaixonados pela obra de Edgar Allan Poe, recomendo “A Queda da Casa de Usher”, na Netflix. Não é uma adaptação direta do c...
Atmosfera misteriosa feita de luzes e sombras
Não é uma adaptação direta do célebre conto homônimo de Poe, mas é ousada e engenhosa o suficiente para usá-lo como espinha dorsal a fim de explorar um tema contemporâneo – a pilha de cadáveres vítimas de opioides vendidos pela indústria farmacêutica.
A deusa de róseos dedos põe cores no céu da Califórnia enquanto leio “I am” (Eu sou), de John Clare. Tristeza, solidão e o desejo de...
Tristeza, solidão e o desejo de encontrar a paz
Tantas coisas me ocorrem diante da beleza agoniada dos versos escritos há mais de 150 anos. “Eu sou – mas o que eu sou ninguém sabe” e “mesmo os mais queridos, os que eu mais amei, são estranhos – mais estranhos que os demais” soam familiares a tantos humanos que anseiam por ser compreendidos. Conhecer o vasto e tortuoso território do coração alheio é ilusão que a realidade e a maturidade retiram. Não é apenas o poeta deprimido que se sente um estranho para os amados. Cá estamos nós todos carregando a solidão do ser e, à medida que envelhecemos, cada vez mais conscientes de que a riqueza dos fios entrelaçados que compõem o nosso espírito é captada superficialmente, como um novelo de muitas linhas que, visto de longe, permite identificar apenas um ajuntamento de cores e o formato redondo.
“Eu sou o autoconsumidor das minhas aflições” é um verso que gosto demasiado. Diz tanto sobre o hábito de cultivar e aprofundar as dores. Clare transita pelas flutuações da mente, expondo o tormento das sombras que surgem e desaparecem: agonias delirantes e sufocadas do que chamamos amor – esse tão ansiado sentimento que, mal se assenta à nossa mesa com seu cortejo de plumas e canções, não raro é convertido em chicote e espada. Prova máxima da nossa vocação para o paradoxo, o auto boicote ou a estupidez.
Ponho os versos mais sofridos de John Clare na conta da depressão do poeta. Assim como van Gogh e Virginia Woolf, Clare batalhava contra a própria mente. Transpôs tudo para versos impactantes (“no mar vivo dos sonhos despertos não há sentido da vida ou alegrias”) e depositou suas esperanças em um futuro pós-morte, em que adormeceria docemente, como na infância, aconchegado nos braços de seu Deus, em cenários tecidos de sonho e jamais tocados pelas paixões humanas. Um lugar em que se deitaria, imperturbável, sentindo a grama abaixo do corpo, e tendo acima a abóbada do céu. Tal imagem me remete a outra cena criada por um escritor brilhante, Liev Tolstoi, em “Guerra e Paz”: a do príncipe Andrei caído no campo de batalha, sereno, contemplando o céu azul, pondo a existência em perspectiva, focado no que realmente importa.
Retiro da ordem e subverto o sentido de um verso para encerrar este texto: “E, ainda assim, eu sou e vivo”. Afasto as tristezas do poeta e celebro a minha própria vida, transbordando de gratidão por esse tempo curto em que experimento a alegria única de existir.
Eu sou. Eu vivo. Nas minhas veias ainda flui o sangue, meu rosto se ruboriza de prazer ou de vergonha, carrego experiências únicas. Eu sou um mundo semidesconhecido, um planeta inteiro de sonhos e tropeços, que gira como bailarino em uma galáxia imensa. Ao meu redor há tantos vizinhos. Neles percebo a vida pontuada por delícias, aflições e espantos. Não disfarço o encantamento. Nada pode ser mais fascinante que estar aqui, agora, testemunhando o teatro cósmico, pleno de som, fúria e flertes com a felicidade.
Há uma diferença básica entre artigo de opinião e reportagem. Nesses tempos árduos, vale a pena repetir que um jornalista deve, por dev...
A bênção do jornalismo independente
Os dinheiros muitos, os luxos me são estranhos. Não saberia pisar sem receio tapetes excessivamente macios. Sou desajeitada. Tenho me...
Contento-me com tão pouco
Sou dos que se distraem com os pequenos favores do cotidiano. Respirar, por exemplo, é meu luxo particular. Pois tenho asma. Também me alegra achar morangos bem grandes e vermelhos na feira, ou descobrir árvores cheias de flores.
“Eu sou Kala, o tempo, destruidor de mundos, manifestado em minha plenitude para o extermínio da linhagem humana. Nenhum sequer dos...
O que realmente importa
Krishna. Bhagavad-Gita.
Quando o que fui neste mundo estiver reduzido a cinzas, o que terá valido a pena? Penso enquanto o carro percorre uma estrada empoeirada.
Poucas coisas são tão poderosas quanto voltar a um lugar em que se foi feliz na infância. Rever paisagens em que seus risos de criança...
A sua bênção, meu rio
Em Veneza há uma lenda consolidada, a de que os amantes que passam de gôndola debaixo da bela Ponte dos Suspiros estarão apaixonados pa...
A Ponte dos Suspiros
Mas há outra versão, muito distante dos suspiros de amor. Um dos mais famosos pontos turísticos de Veneza, a construção em estilo barroco data de 1603 e foi projetada pelo arquiteto Antonio Contino. Com 11 metros de largura, inteiramente feita de pedra de Istria, uma rocha calcária, a Ponte dos Suspiros é toda fechada e coberta. Tem apenas duas janelas com barras de pedra. É que ela servia para ligar dois prédios, o Palácio Ducal e as Prisões Novas, o primeiro edifício do mundo a ser construído para ser uma prisão.
Queridos amigos, nesta segunda-feira (24/7) vou iniciar uma última jornada como repórter. Quero encerrar a carreira jornalística escrev...
Última jornada
Ontem, eu olhava o pôr do sol nesta terra incendiada. Havia fuligem a flutuar, junto com um cheiro de coisas perdidas. Estava tão distr...
É lá que vou te esperar
Estendemos uma toalha – dessas de piquenique – sobre o gramado. E comemos doces, lambendo os dedos, rindo de coisas tolas.
A umidade me é familiar; ela me envolve como um útero materno — penso, enquanto contemplo o sol nascer no deserto de Nevada. Ardem as p...
No deserto
Em 8 de dezembro de 1980, John Lennon foi empurrado para o território das sombras. Tinha completado 40 anos dois meses antes, era pai ...