No silêncio da tarde chuvosa pergunto-me quem comanda a minha jornada. Desfilam diante de mim situações em que ri e chorei, mergul...

Minha alma é tudo que eu tenho

paisagem tempestade consciencia interior
No silêncio da tarde chuvosa pergunto-me quem comanda a minha jornada. Desfilam diante de mim situações em que ri e chorei, mergulhei em agonia, ansiedade, raiva ou euforia por influência externa.

Há anos, luto arduamente para ter um mínimo controle sobre mim. Defendo-me do que pode me converter em marionete das paixões — minhas e alheias.
paisagem tempestade consciencia interior
T. Cole, 1846
Nem sempre triunfo, mas de imediato retomo o esforço.

O desejo pode me subjugar, assim como a repulsa. Mantenho vigilância constante sobre ambos. Um desejo frustrado pode desencadear sofrimentos profundos. Ocorre no mundo há milênios. Desejo e frustração são gêmeos.

Moderação e equanimidade são as minhas metas. Por que ser feliz apenas quando os desejos estão saciados? Por que se deixar dominar pelo desespero perante perdas e dificuldades? As perguntas se avolumam, provocam reflexões. São bem-vindas.

O que cultivo hoje é a tranquilidade na mente, o respirar calmo, o sentimento puro e descomplicado, as coisas mínimas e cheias de significado.

Tento não perturbar nem me deixar perturbar. Se meu corpo adoece, mantenho a alma quieta. Não sou melhor que nenhum outro ser humano: meu organismo é suscetível como o dos demais. Paciência, pois.

paisagem tempestade consciencia interior
T. Cole, 1844
Diante das injustiças, a mão treme e eu a contenho. É natural sonhar com a reparação aos injustiçados, desejar a punição dos maus e dos manipuladores. Contudo, esforço-me para discernir entre ações possíveis e inúteis. No ir e vir do mundo há muitos vendedores de ilusão aplaudidos e amados. Esclarecer suas vítimas é risco alto. Quando egos se inflamam, vaidades e paixões fervilham, silencio e observo – talvez no futuro surja o momento adequado para fazer o alerta. Se não vier, terá sido válido o aprendizado. Penso que é perigoso cumprir deveres alheios e despejar opiniões não solicitadas.

Face às fugazes felicidades provenientes de elementos externos, mantenho a cautela. Examino-as com rigor, pois podem me insuflar o orgulho e comprometer meu discernimento,
paisagem tempestade consciencia interior
T. Cole, S.XIX
cegando-me para coisas essenciais. Pior, podem instalar apego e o medo de perdê-las. Assim, recebo elogios e aplausos com o coração grato e a mente alerta. Busco não me tornar dependente deles. Um dia poderão me faltar e sua ausência não deverá ser fonte de sofrimento. Às vezes, são sinceros e amorosos; em outras, tentativas de me enredar. É preciso estar desperto para distinguir.

Sigo não permitindo que a raiva alheia me contamine pão e cama. Tento viver cada dia com a consciência em paz, certa de que sou frágil e pequena e que qualquer passo em falso pode me atirar ao abismo.

Aliás, gosto de me desafiar. De vez em quando me pergunto: “Quanto vale a sua consciência? O que você faria se perdesse isso ou aquilo?”. Gravo as respostas em letreiros de neon que piscam sem parar.

Nada disso é fácil. Está longe de ser simples. A batalha pelo autocontrole exige coragem, vontade férrea e perseverança, mas é o caminho que escolhi. Cuido da minha alma como jardineiro atento a uma flor rara e frágil. Ela é tudo o que tenho.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também