Aprendi a viver com o que tenho e ser feliz com isso. E aprendi isso com meu pai, que não era socialista, pelo contrário. Era humano, e isso...


Aprendi a viver com o que tenho e ser feliz com isso.
E aprendi isso com meu pai, que não era socialista, pelo contrário. Era humano, e isso é muito nos tempos de hoje.
Aprendi a valorizar as pessoas que amo no dia a dia. E aprendi isso com minha mãe. Que não é adepta de nada, além da vontade de amar e demonstrar esse amor, coisa difícil para quem até o amor é medido.
Como diz meu amigo Políbio Alves, "me valorizem enquanto estou vivo".
Depois que fui, de nada adianta fulano dizer o quanto eu era bacana ou importante para ele.



A tecnologia é a oitava maravilha do mundo mesmo.
Acabo de receber mensagem de amigo, que está em viagem por países da Europa e Oriente Médio.
Enquanto conhecia o Museu do Holocausto, em Jerusalém, e dirigia em pleno deserto, ouvia a Difusora Rádio de Cajazeiras e o programa de Chagas Amaro - Amanhecer de saudades.
Pena que nosso Chagas não adira a essa tecnologia para usar zap e saber que está sendo ouvido neste momento lá em Israel.



O escritor, a escritora, tem duas agonias fortes:
Quando conclui seu livro e envia para uma editora e quando publica e espera a opinião dos críticos.
Penso que esta segunda agonia pode ser dispensada.
Quando escrevemos, devemos nos preocupar com a crítica, sim. Isso faz com que tenhamos mais cuidado com a linguagem que usamos em nossa escrita.
Quando publicamos, nossa preocupação deve ser apenas com o leitor. Que pode ser aquele crítico rigoroso, mas também pode ser o leitor comum, que lê seu livro e dá o retorno apenas pela emoção que a leitura proporcionou.
Não, nunca serei cartesiano, embora admire os críticos literários.



Sobre a Bíblia:
Vez em quando leio questionamentos de que nela existem crimes, corrupção, incestos, etc.
Óbvio.
Só podemos falar do bem quando conhecemos o mal.
E é isso que a Bíblia faz. Expõe o mal, para mostrar a importância do bem.
Como qualquer romance que tem personagens más e que no final o bem prevalece.

A catinga formava um aranhol. As cigarras aplaudiam a fulguração triunfal. Flamejava o painel do aceiro – as árvores ígneas e, ...


A catinga formava um aranhol.
As cigarras aplaudiam a fulguração triunfal.
Flamejava o painel do aceiro – as árvores ígneas e, esplêndida, a macaíba com o leque de chamas.
A manhã estava tonta de claridade.



Parecia um inferno orgíaco.
O milharal embandeirava o sitio em festa.
O melão bravo salpicado de ouro formava um ninho acintoso.
As cigarras aplaudiam uma fulguração triunfal.
Mal se distinguia o que corria do céu: se a claridade líquida ou a garoa dourada.



Eu chorava, de manhãzinha, quando os passarinhos começavam a cantar – chorando, que é a forma mais alegre de criança falar.



A minha alma de velho
Anda agora renovada,
Que a paixão é como sonho,
Chega sem ser esperada



Não se vê um olho d’água,
Quando há seca no sertão,
E enche-se os olhos d’água,
Quando seca o coração

(excertos de A Bagaceira)


Fui ver o filme ESTRANGEIRO (Edson Lemos Akatoy). É um daqueles filmes que você tem que ir bem descansado, espírito aberto e disposto a uma ...


Fui ver o filme ESTRANGEIRO (Edson Lemos Akatoy). É um daqueles filmes que você tem que ir bem descansado, espírito aberto e disposto a uma profunda contemplação da natureza. É longo (quase 2 horas).

Me lembrou LIMITE (Mário Peixoto) o tempo todo e a música de Satie (repetidamente) me reavivou essa lembrança. Correto, bem feito, em verdade, abissal, meio existencialista, meio metafísico, supõe refletir a temática da saudade, mas sendo extremamente intimista, me tocou - entretanto - como uma espécie de busca juvenil da personagem que "volta" às origens (?) e "viaja".

Terá sido tudo somente um sonho? Well... o onírico tem sua potência, claro. O filme tem matizes oníricas e brilha nos flagrantes fotográficos da natureza bela das praias paraibanas (principalmente Tabatinga). A sacada de fazer o filme em preto e branco foi genial, pois respalda a proposta meio espectral, nostálgica, fantasmagórica (quanto a isso, nenhum pecado). Bem nordestino, brasileiro (o sotaque não nega, nem ofende), mas é de um outro Nordeste que se trata (longe desse insensato e miserável mundo).

Acadêmico sim senhor, mas há lugar também para uma nova escola de cinema nordestino, por que não?. E provavelmente, "Estrangeiro" terá seu lugar na filmografia nordestina (e brasileira) do futuro.

Feito com poucos recursos tem o mérito de captar a beleza do lugar, o silêncio e a generosidade ecológica que os deuses concederam à região. As interpretações das jovens atrizes não comprometem, mesmo porque no centro da cena reina mesmo a Mãe Natureza (talvez idílica, edênica, paradisíaca em demasia, pois sabe-se, a Natureza é também madrasta).

O filme é norteado por uma vibe aguçadamente feminina (guardando grandes enigmas, sutis mistérios). Mas o experimentalismo valeu demais. Principalmente porque a estética é deslumbrante.

No que concerne ao fenômeno cinema, lembrei das aulas de Linduarte Noronha, cinema é "imagem em movimento". Mas e o pathos? A saída foi buscada na música trovejante de Wagner. (Algo que - me parece - não ficou bem resolvido).

No mais, elipses, flashback, fusões... porque a juventude pode também ensaiar novos itinerários de (trans)vanguarda. E... uma ode à paisagem, cheia de encantamentos: chuvas lindas, suavidade, êxtase das crianças correndo à beira-mar, e que coisa bonita as imagens das bolhas de ar em raro flagrante submarino, justo quando a atmosfera do Brasil e do Nordeste real parecem irrespiráveis. Enfim, estranheza poética, e muita poesia!

Zé Bonitinho era feio de doer. Colega nosso de aula. Quem se sentasse atrás da carteira ocupada por ele haveria de exercitar o olfato, re...


Zé Bonitinho era feio de doer. Colega nosso de aula. Quem se sentasse atrás da carteira ocupada por ele haveria de exercitar o olfato, repugnando o mau odor da camisa mal lavada: o suor vencido. Jamais exalou complexo ou se sentiu alijado por preconceito da turma.

Integrava-se com facilidade a qualquer conversa. Contava lorotas, desvendava a origem rasante, sem demonstrar-se dimi- nuto.

Recordo professor José Maria, com sua rígida disciplina, desafiador em defesa do silêncio para começar a explicar as misteriosas nuances da Gramática Portuguesa. Devemos, os que com ele estudaram, o bom português que ainda é serventia a traçarmos (como eu, agora) os pensamentos em feitio de letras impressas; a tônica, a rizotônica explicadas no quadro negro.

Prof. José Maria no costumeiro paletó, sério, irônico, excelente na arte de transmitir à turma as regras do vernáculo.

Zé Bonitinho era atencioso, bom aluno, notas azuis no boletim, atento a todas as disciplinas ensinadas. Inteligente, acompanhava com facilidade todas as matérias expostas. Merecedor de elogios e respeito. Uma vez Rinaldo Silva, que está mergulha- do na luz divina, brincalhão e linguarudo disse, por brincadeira, que Zé Bonitinho era comunista.

Todos ficamos suspensos, a algazarra se formou, a aula vaga, e ele, cabeça baixa, alheio à revelação do colega, continuou a leitura da lição. Não conhecia Marx, nem a patota seguidora dos ditames da linha por onde Engels caminhava. Por fim, se levantou, guardou o livro dentro da carteira e foi ao lanche.

Acudiram os curiosos, pensando encontrar “O Capital” escondido pelo colega. Que nada! Depararam-se com ingênuo romance de Jose Mauro de Vasconcelos, “Meu Pé de Laranja Lima”.

Zé Bonitinho nunca soube da atitude investigativa dos colegas. Ao retornar, reabriu a página marcada, deu um arroto mal-edu- cado e prosseguiu a leitura.

A inspetora chegou nervosa, procuran-do saber o que motivara o alvoroço. Dona Maria marcava em cima do lance, gostava de confusão. Todos em silêncio de pedra. Foi quando um dos colegas começou a cantar: “Não me conformo/com este destino/ Dona Maria quer mandar nestes meninos”. Foi levado à diretoria.

Zé Bonitinho continuou na companhia
de José Mauro, sob a leitura agasalhante do livro, desgarrado de tudo que acontecera. Ensimesmado, ao sabor acre do romance ingênuo. Sem maldade, como Zé.


Preso e condenado à prisão perpétua, Jean Valjean chega a Toulon, a bordo do navio Orion, para cumprir a sua pena. Este é um dos momentos d...


Preso e condenado à prisão perpétua, Jean Valjean chega a Toulon, a bordo do navio Orion, para cumprir a sua pena. Este é um dos momentos dramáticos de Os Miseráveis, quando tudo parece fracassar na vida do personagem, que prosperara e fizera fortuna como o empresário M. Madeleine.

Victor Hugo, no entanto, faz uma das digressões didáticas, muito comuns nos seus romances, para explicar com ironia, como o dinheiro do erário vira literalmente fumaça, sendo gasto com pompas e circunstâncias inúteis, enquanto o povo passa fome.

Na chegada do Orion ao porto de Toulon, o navio é saudado com onze tiros de canhão, aos quais responde, um a um. São vinte e dois tiros, ao total, portanto. Hugo faz uma conta rápida e chega à conclusão de que o dito mundo civilizado gasta, por dia, com tais formalidades vãs, 150.000 tiros de canhão inúteis. Ao preço de seis francos, atualizaremos para seis euros, gasta-se a fortuna de 900.000 euros por dia e a bagatela de 300 milhões por ano, em, literalmente, fumaça. Complementa Hugo: "Ceci n'est qu'un détail. Pendant ce temps-là les pauvres meurent de faim". ("Isso é apenas um detalhe, durante o qual os pobres passam fome”)

Salamaleques não nos faltam, além dos desvios proverbiais, por onde se esvai nosso dinheiro. Mas os novos tiros de canhões que fazem nosso dinheiro virar fumaça são a imoralidade do fundo partidário, devidamente apoiado por políticos que se dizem de esquerda e do lado do povo. Como disse Hugo, é apenas um detalhe; enquanto isso, os pobres morrem de fome.

E o criminoso, coitado, é Jean Valjean. Por causa de um pedaço de pão, que não logrou levar para matar a fome dos sobrinhos.

Vivam Victor Hugo e esta obra memorável, sempre à cabeceira.


“Manter a mulher confinada aos limites do lar fazia parte deste processo ideológico de submissão que também imprimia à palavra liberdade um...


“Manter a mulher confinada aos limites do lar fazia parte deste processo ideológico de submissão que também imprimia à palavra liberdade uma conotação depreciativa. Referindo-se ao ser feminino, liberdade sempre se confundiu, propositadamente, com devassidão ou libertinagem. Até bem pouco tempo. E a ameaça da mancha moral, mais devastadora que a lepra, foi a grande força repressiva na manutenção da mulher submissa, dependente, sem vez e sem voz.”

“Uma sociedade que não enxerga a educação como valor essencial, também é insensível à preservação da memória, indiferente à necessidade de transmissão da cultura. Por mais duro que seja admitir, não é outra a realidade.”

“A inclusão da crônica entre as formas ou espécies literárias não comporta mais discussão. Mesmo que a teoria e a crítica tivessem silenciado a respeito deste gênero ou pós-gênero literário, como classificou pioneiramente o professor Eduardo Portella, bastaria a intensidade da produção para que a crônica se impusesse como fato consumado. Diante de Rubem Braga, de Rachel de Queiroz, de Carlos Drummond de Andrade, como negar identidade literária à expressão que integra, na conformação da narrativa, a densidade poética?”

“São tantas as afinidades entre as Memórias e a ficção romanesca, que a aproximação entre as duas espécies narrativas se impõe, naturalmente. Encontrando-se algo de romance em toda memória e muito de memória em quase todo romance.”

“O amor à terra natal é uma motivação que se afirma em muitos projetos humanos, mesmo sendo este amor discutível em sua origem, polêmico em sua razão de ser. A ele costumam ser creditadas realizações de naturezas as mais diversas, transparecendo a sua influência, de modo mais ostensivo, no campo da atividade intelectual.”

“O tempo que aniquila é também acumulação e memória. Duração da consciência, como, queria Bergson . Experiência vivida que se insere num infinito continuo de durações, segundo a compreensão da fenomenologia de Husserl. Perspectiva essa que permite o dimensionamento da visão de imortalidade, em termos que corrigem não apenas a distorção da utopia, mas também o desvio do culto à individualidade.”

(Excertos de "Um certo modo de ler")


Sigo... a água... que a sede pede e que me desce pela garganta... até que a sede cede. Sei que não há, por exemplo, na Natureza, Ju...


Sigo... a água... que a sede pede
e que me desce pela garganta...
até que a sede
cede.

Sei que não há,
por exemplo,
na Natureza,
Justiça como a entendemos
e

( se previna ),
nem - como você aprendeu num templo - a... Divina.

A mim me fascina... não ser de Tupã o trovão,
e que a ira tenha outro nome:
fome, na onça, lobo
e leão.



Mas o mundo... é curioso:
mesmo... misterioso,
nele existe o afeto... por coisas como um conto infantil
em que flor
é um heliporto de inseto.

Tire-se o joio do trigo,
de Troia,
dos Desastres de la Guerra de Goya,
e,
do trio teremos... a
joia.



E a Grécia — clássica,
fantástica,
do Partenão,
ainda deu...
Sófocles e Platão,
Aristóteles... com Zenão!
Deu,
ainda,
o Demócrito,
fera que viu o átomo
em Abdera,
enquanto — com brilhantismo — o heliocentrismo foi detectado por
Aristarco,
em Samos!
Além do que — convenhamos:
Arte por toda parte!




... e a conclusão
triste,
mas linda,
de que o ontem... já não existe...
o amanhã... inexiste ainda,

... o que torna o relógio - bússola do Tempo - o absurdo com
que mais me aturdo,
pois quem,
salvo engano,
navega sem oceano?

Pergunto,
mergulhando no assunto:
Como
se espera - nesse inexistente futuro - um dia comum,
de dois mil... e sessenta e um,
( sem ficção de apocalipse em cósmica revolta )
em que o que se destaca é o cometa Halley
de volta?

Será isso um sinal... do juízo,
afinal?

(excertos de "Vida Aberta - Tratado Poético-Fiosófico")


Primeiro cuida do jardim. Depois convida os pássaros e as abelhas. As borboletas e as lagartas. Beija-flores e vagalumes. Estamos cuidand...


Primeiro cuida do jardim. Depois convida os pássaros e as abelhas. As borboletas e as lagartas. Beija-flores e vagalumes.

Estamos cuidando do quintal no Casarão dos Azulejos. Eis aqui o Jardim das Palavras, onde acontecem projetos como o Quintas de Primeira, o Conversas Tocadas...

Livros, violinos, trompetes, flores, pássaros... e gente. Gente que gosta de gente. Gente que gosta de bicho. Gente que gosta de arte. Gente que gosta de cuidar...

Eis a revolução!



Escutei de longe André falando sobre leitura e lembrando das histórias que sua mãe contava.

Então lembrei da minha mãe. Dona Joanna também me contava histórias. Lia cordéis pra mim. Me contava as histórias de cangaço contidas nos cordéis. Me trouxe contos de castelos e princesas, do bem e do mal, histórias de bondade, de aventura, de humanidade.

Mas também as trágicas como a história do sapo que foi de carona para uma festa no céu e voltou voando sozinho. Agora imaginem o desespero da narração. Ao ver que iria cair sobre uma pedra, o sapo dizia: “abre-te pedra se não te racho”. (hahaha)

Minha mãe não só me ajudou a gostar de histórias. Ela me ensinou que ler é inevitável e que, portanto, a gente precisa aprender a ler cada vez mais e melhor.

(Excertos do cotidiano web)

Foi não foi, estou indo com a cara na cara do Juca que eu conheci menino, morando na mesma rua onde eu morava. Um dia, contando com o concu...


Foi não foi, estou indo com a cara na cara do Juca que eu conheci menino, morando na mesma rua onde eu morava. Um dia, contando com o concurso do Cabeção acertamos de fundar um jornal, isto no ano remoto de 1907. E o órgão veio à circulação com o seu titulo apavorante: "O Mofo".

O José Rodrigues, que hoje é coronel engenheiro do Exército, com o pé no generalato, era naquele tempo apenas moleque branco de rua. Os três mereciam a mesma classificação. O jornal era manuscrito e caía furioso contra o prefeito Osvaldo Pessoa. Mas, há de ser bom dizer que o prefeito, naquele tempo, exercia todo o seu tino administrativo por sobre um carneiro de sua propriedade. Logo, não era prefeito, era um vagabundo, da mesma marca dos redatores d’"O Mofo".

Um dia, porém, a redação deu para o mundo. Brigamos. Deixei a Paraíba, como já deixara a Bahia de Todos os Santos e o Piauí de todos os diabos. Nunca mais vi o Juca, porém esquecer nunca pude a quadrinha que ele escreveu dedicada ao carneiro de Osvaldo Pessoa.

Recordo-me também que, por causa d’"O Mofo", o Cândido Pessoa quase partiu a cara de um português que tinha um bilhar.

Pergunto: quantos anos tenho de jornalismo?

Em 1910, eu, Esdras Farias e Antônio Gitirana, em Beberibe, lançamos "O Símbolo", órgão do Grêmio Hermes Fontes. Até mestre Laurindo Leão era leitor do nosso órgão. Mas, lá saiu um soneto maldito e frei Afonso excomungou o jornal.

Faz muito tempo que pratico o jornalismo! Mais antigo do que eu, somente o Ildefonso Lopes que editava "O Mês", periódico que aparecia de dois em dois anos. Depois disso, veio "A Coluna", com Célio Meira e Samuel Campeio, o bissemanário de Vitória de Santo Antão, jornal que manteve forte polêmica com o vigário Américo Vasco.

Faz muito tempo que pratico o jornalismo!

E só isto, nada mais. É bonito praticar o jornalismo. Dornício Rangel morreu arrastando os pés, surdo, e de vista curta. É bonito.

Nada como ter muitos anos de jornalismo!
— Que é que aquele homem tem na vida?
— Aquele é um jornalista!
— Que é que ele tem?
— Muitos anos de jornalismo.
— Então, está bem. Está com tudo.

esta lua turca cai feito uma luva na praia da urca, na pedra da gávea. esta lua cheia é um túrgido ubre espargindo leite sobre a madruga...


esta lua turca cai feito uma luva
na praia da urca, na pedra da gávea.
esta lua cheia é um túrgido ubre
espargindo leite sobre a madrugada.
pálida e sem luz esta lua minguante
é leite com água, chama dos amantes.

candeeiro de luz bruxuleante,
hóstia andante de uma irmã de caridade,
esta lua é o branco marfim de um elefante
perfurando do céu o toldo estrelado,
mastodonte manso, pacificado,
urinando gotas de luar no gozo
dos amantes tristes e extenuados.

esta lua é o osso adamantino dos cachorros
que a farejam como detetives loucos,
noite e dia, dia e noite, a toda hora,
lambendo os dedos róseos da aurora.

...
lua dos haicais, amassada pelas águas.
lua que flagra o súbito peixe-espada
esgrimindo no ar a lâmina prateada.

esta lua ilumina a copa dos cajueiros
onde os ventos alíferos, ligeiros,
com dedos de hábil carpinteiro,
envernizam as castanhas, rolimãs
que giram, enluarados seixos,
castanholas que estalam, tatalam,
batendo de frio o impaludado queixo.

lua que se banha numa poça de piche,
nada há que a tisne, seja o azeviche
ou a lama, continua lua-alvaiade,
lua-cisne, lua-argêntea, lua-porcelana.

louça louçã, esta lua já entornou a via láctea
nos olhos abertos dos que hoje dormem
(sob mil pálpebras) o sono de pedra das estátuas.

lua-amazona, que com a roseta das estrelas
esporeia o negro ventre da poldra desvairada,
que relincha, resfolega, bate os cascos inquieta,
luzindo uma branca lua de pelos sobre a testa.

luas espetadas, roletes de cana, de néctar,
redondas, feéricos buquês das namoradas.

lua das canoas do parque, transatlânticos
singrando as águas da infância, indo
muito além da taprobana e de pasárgada.

esta lua é a gambiarra da ponta do seixas,
ribalta em que as espumas das ondas
são brancas lãs de ovelhas tosquiadas,
balindo, balindo mansas, na beira da praia.

raios de lua extraviados são filhos enfurecidos,
proscritos, exilados, raios que ribombam –
ventríloquos – pela garganta do trovão.
nos céus do inverno, relâmpagos espionam,
emissários do verão.

Há quatro anos decidi começar o curso de Psicologia, levada pelo desejo de expandir meus conhecimentos e minha área de atuação profissional...


Há quatro anos decidi começar o curso de Psicologia, levada pelo desejo de expandir meus conhecimentos e minha área de atuação profissional. Queria estudar Psicologia Analítica, o que me levou à Psicanálise e, consequentemente, à Psicologia. Poderia ter seguido a minha formação psicanalítica sem necessariamente ter feito o curso de Psicologia, mas minha sede de conhecimento me impulsionou a querer ir além, e entender a Psicanálise dentro da Psicologia.

E essa decisão só me trouxe ganhos, pois venho aprendendo muito, não apenas em termos de conteúdo, mas sobretudo, em relação à vida.

Voltar a cursar uma graduação depois de já haver passado por todos os estágios que a formação acadêmica demanda, a saber, graduação, mestrado e doutorado, além de exercer a profissão de professora, ministrando aulas e orientando trabalhos há quase quinze anos na Universidade, sem dúvida alguma, possibilitou-me ter um outro olhar sobre mim mesma e sobre o lugar que ocupo e onde me realizo profissionalmente.

Sou apaixonada pelo Grego Antigo e pelo Latim, além da Literatura Clássica e pela Cultura desses tempos primevos, e poder falar disso, ensinar isso em minhas aulas é uma grande realização. E quão grande foi a minha alegria ao descobrir que o pai da Psicanálise também foi beber nessas fontes para desenvolver sua teoria!

Hoje, como consequência natural dessa trajetória, realizo-me ainda mais, tendo a oportunidade de juntar a fome com a vontade de comer. Dar aula sobre Psicanálise, tendo como arcabouço os estudos clássicos, para pessoas interessadas e amantes, assim como eu, desse universo, que ratifica a nossa condição de seres desejantes.

O telefone iluminando a manhã. E a pergunta contida, alterando levemente a voz quase imperceptível, mas de dispensável identificação. — ...



O telefone iluminando a manhã. E a pergunta contida, alterando levemente a voz quase imperceptível, mas de dispensável identificação.

— Leste os jornais de hoje?

Um atraso na entrega. Ainda não lera. Que traziam de especial?

— É Sindulfo. Escreveu sobre minha besteirinha de ontem, dizendo umas coisas. Não sei. Estou sem jeito.

Como eu insistisse, pude escutar, em seguida, as palavras entusiásticas às quais não se ajustava o tom de voz. A voz traía a emoção da surpresa. Do espanto. Um homem encurralado pelo reconhecimento.

Habituado a fazer transitar pelos seus registros uma multidão, a Paraíba inteira, o cronista experimenta inesperadamente outra situação. Agora, ele é personagem e matéria para o companheiro de ofício que, extasiado ante a qualidade de sua criação, com ele se regozija.

Gonzaga sabe de seus inumeráveis leitores. De quantos o esperam para o encontro marcado de todas as manhãs. Mas este traz de especial a responsabilidade da permanência. o peso da leitura escrita que analisa e avalia. Embora apaixonada a expressão, não está ali o elogio gratuito, vazio. O homem culto, de sensibilidade, isenta-se de "arrumar palavras convencionais na conformidade das regras". Aprendeu com o poeta (e o mar, agitado ou sereno, também lhe diz) que apenas “navegar é preciso". Por isso, entregou-se à correnteza. Deixou-se levar. Mas não, sem antes estabelecer o rumo e a bandeira da descoberta.

No alto do mastro, a inscrição definitiva: Um Novo Trevisan. E o companheiro de geração exposto, no processo comparativo que a translação implica.

Pela síntese intuitiva e, reservando-se o prazer da alegria, Sindulfo dispensou-se do detalhamento analítico. Das formulações teóricas — necessárias — porém, muitas vezes, bloqueadoras da sensibilidade e da comunicação. Preferiu a confiança do gesto espontâneo, para surpreender o menino acanhado em suas artes.

Não falou de adesão à síntese renovadora, do mesmo tom pungente, da obsessão pelo essencial. Não referiu a identidade de tema, de situação ou de personagem. Nem mesmo, a preocupação com a fragilidade e desamparo do homem pelas ruas da cidade. Não houve tempo.

Pois, mal começou a ler, já estava no meio da rua "sem um pingo de sangue". Dividindo com seu Luís e a mulher gorda o mesmo agoniado espaço e a pesada expectativa. Conduzido pela movimentação do diálogo, pela tipificação exemplar, pela certeza do verossímil. Completamente envolvido pela urdidura do desfecho (de ouro?) que valoriza e aprofunda o acento trágico da narrativa, deslocando para seu centro o inesperado e silencioso personagem. Desarticulando a perspectiva estratificada do perigo.

Assim, um meninote vindo não se sabe de onde, com apenas um gesto e dizendo quase nada, toma conta de tudo. Resolve, com um tempo de verbo, as perguntas que ficaram no ar. E abre com o seu silêncio a voragem, o precipício.

Lição de mestre a indicar que a morte em si não constitui o verdadeiro problema. Mas a fragilidade do desespero ou a gravidade da aceitação.

Que importa o convencional limite entre as formas narrativas ou sua discutível hierarquia?

Diante deste meninote, que o Mago Gonzaga faz aparecer e crescer com suas encantadas poções de palavras, é outra a questão que se coloca. A de sua inflexível vocação de narrador, transcendendo o limite jornalístico da crônica que fosse apenas relato, registro do episódico.

É sempre assim, quando encontra um motivo e o tempo está a seu favor. Senhor das palavras em suas "mil faces secretas". Reinventando a realidade, no reino da linguagem. Salvando, na forma ou na força do dizer, a substância humana que o cotidiano reduz e amesquinha.

Este Momento na Rua não será, portanto, uma realização isolada no universo já consolidado do cronista da terra. Permito-me associá-lo a outros em que o lirismo trágico domina por completo a narrativa. Conto ou crônica, nesta direção inexiste a possibilidade de falha para o escritor. Sobretudo, se a matéria provém de uma daquelas criaturinhas deserdadas, a exemplo do que ocorre em Printed e Só fez olhar. Como em várias outras, onde Nino se vai fracionando ou multiplicando na expressão densa e comovida que é, a um só tempo, sentimento e denúncia. Consciência e recusa da desordenada ordem social. Realização lírica na concepção teórica mais atual.

Gonzaga já não pode conter esses meninos — personagens que lhe saltam dos dedos para viver um instante de inocência, eternizado no mais pungente desamparo. Será esta a vertente mais significativa de sua obra, longe ainda de ser esgotada. Mas é provável que o autor, diversificando tanto seus temas, ainda não se tenha apercebido de quanto pode esta infância em suas mãos.

(Jornal O Norte, 4/5/87)


João Pinto é calado. Olhos sempre abertos e perscrutadores, olhando para você como se quisesse ver na sua alma. Magro, mas sem o raquitismo...


João Pinto é calado. Olhos sempre abertos e perscrutadores, olhando para você como se quisesse ver na sua alma. Magro, mas sem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral; pele acobreada, parece saído de um rabisco das grutas da Serra da Capivara. Tenso, cada músculo seu reflete o conflito de quem está sempre examinando mundo.

Piauiense de nascimento, trocou a faixa estreita de sua terra pela largueza dos rios e florestas da Amazônia. Ali, fez-se caboclo, imiscuindo-se entre pirarucus e igarapés, descobrindo a imensidão das águas e o portento das sumaúmas; ali, escolheu uma das iaras de Manicoré, para perpetuar o gene resistente.

Fala pouco. A boca é um risco. De suas mãos e dedos longos, no entanto, correm poemas e histórias, tão sedutoras e profundas quanto a blandícia do boto tucuxi.

Companheiro das Letras, vivemos um desafio poético nos difíceis anos 70, para depois reencontrá-lo no mundo amazônico, onde abraçou e pelejou a boa peleja na sofrida e deliciosa profissão de professor.

Simbiótico, suas águas amigas não rejeitam outras águas, misturando a sua fala mansa e precisa, e seu afeto contido, mas imenso, a qualquer que lhe saiba compreender os segredos e mistérios da criação que pululam em sua mente.

Rodapé à epígrafe: " Passei a vida atrás de novidade. E quem faz isso, subverte a fala que fala a mesma coisa. Cria o riso que alguém já sorriu, ou a morte que alguém já matou. É por isso, minha senhora, o que eu quero te dizer seja aquilo que nunca te disse. Só assim te puxo para dentro da minha gaiola" (João Pinto)


(Eduardo Varandas Araruna) A maior parcela da minha vida foi dedicada à defesa dos hipossuficientes. Lutei contra a exploração do trabalho i...


(Eduardo Varandas Araruna)

A maior parcela da minha vida foi dedicada à defesa dos hipossuficientes. Lutei contra a exploração do trabalho infantil promovendo a primeira ação coletiva contra a exploração sexual no Brasil e uma das poucas do mundo. Integrei a comissão que fundou, junto com colegas, a coordenadoria nacional de combate ao trabalho escravo. Temas áridos perpassaram pela minha mesa e todas as lesões, sem exceção, foram denunciadas à Justiça com lisura e bravura. Anos se sucederam na defesa inquebrantável dos direitos sociais com embates, sofrimentos e algumas vitórias.

A gente não pode esconder quem a gente é. É calvário, é cativeiro. Eu creio nos direitos humanos e na sua essencialidade para o Estado de Direito. Creio na misericórdia, compaixão, empatia e principalmente no amor.

O beijo não é um ato sexual e tampouco lascivo. É afeto, é amor, é uma lindeza e, na Ciência Jurídica, qualifico-o como um direito potestativo, subjetivo e inalienável daqueles que amam.

Quando o prefeito do Rio de Janeiro procurou censurar uma revista em quadrinhos (HQ) por um simples beijo entre dois personagens masculinos, vi o quanto estamos diante de seres retrógrados que almejam impor sua moral pessoal acima da dignidade do ser humano (primado da República).

Eu defendo crianças e adolescentes sexualmente explorados. Conheço a sua dor e vi os efeitos da monstruosidade da violência sexual que é praticada no Brasil em todos os ambientes, inclusive em igrejas. Um mero beijo não agride crianças. O amor alheio não há de corrompê-las se a educação for adequada.

Assistir a um beijo não torna crianças gays ou heterossexuais, até porque sempre crescemos com estórias de príncipes valentes que beijam princesas recatadas ao final e, nem por isso, todos nós somos heterossexuais.

Com meu inarredável compromisso aos direitos humanos, colocando minha face às pedradas, publico meu beijo, oriundo de um relacionamento (JÁ FINDO) que tive por 6 anos, onde pairou o respeito, o amor, a bênção familiar e a paz.

Repensem seus conceitos, renovem seus sentimentos. Temos um país tão cheio de problemas para a preocupação com afetos alheios.

Um beijo a tod@s...
Com carinho
Eduardo Varandas Araruna

(Ps. Aquele que está de costas sou eu. Comentários depreciativos serão encaminhados ao poder policial para abertura de inquérito)

(José Nunes) Retornar às paisagens onde desfrutamos bons momentos ajuda-nos a retocar sonhos que, ao passar do tempo, estão acomodados no re...


(José Nunes)

Retornar às paisagens onde desfrutamos bons momentos ajuda-nos a retocar sonhos que, ao passar do tempo, estão acomodados no recanto da memória. Portanto, é formidável regressar a certos lugares que nos são íntimos para que os poemas não se percam na composição dos capítulos da vida.

Tenho Serraria nas imagens que carrego no meu coração, na poesia que me inspira ou, como agora, quando lá estive para compromissos familiares.

Numa crônica publicada há décadas, a primeira tentativa de ser escritor, que foi a minha estreia no mundo das letras, falava justamente do amanhecer em Serraria. Naquela manhã de fevereiro de 1975 estava cheio de saudades porque voltava de uma temporada em que eu estivera afastado da cidade, num retiro involuntário. Eu recordava no texto as emoções de um tempo da infância que não esqueci. Emoções estas que me acompanham por onde ando.

Na quietude da madrugada de agora com vento fino, escutava os galos cantando à distância, talvez no terreiro de alguma casa. Logo depois, os pássaros festejavam o novo dia no matagal existente detrás da casa e também na praça central. Fechava os olhos para melhor traduzir o alvorecer festivo, porque o antemanhã em Serraria é esplêndido.

Depois de uma noite de comemorações, cedinho, abrindo a porta da casa onde pernoitei, uma centenária casa que servia de residência do comerciante Zezinho Afonso, hoje mantida com zelo pelos seus filhos, contemplei a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, coberta de esparsa névoa e de silêncio. A brisa fria ainda aspergia a cidade quando eu, solitário personagem da rua, olhava a paisagem silenciosa onde alguns cães andavam e um galo, igualmente sozinho, perambulava e executava a sua sinfonia matinal.

Na crônica do passado, lembrava minha infância quando meus pais, meus irmãos e os amigos que fizeram de Serraria a paisagem de suas vidas, como meus ancestrais que ali chegaram de mansinho, desbravaram as terras e cultivando esperanças nas sementes que jogavam no chão, nos trouxeram até a presente data.

Naquele dia, as bordas da cidade lembraram-me dos homens que deixaram o mundo urbano para produzir sua literatura. Tolstoi voltou para Yasnaya Polyana a fim de recolher as inspirações do mundo onde nasceu e, munido de sonhos, escrever belas páginas da literatura mundial. Manuel de Barros apoderou-se do Pantanal e da terra retirou os poemas que nos comovem.

Como versejou o poeta “um galo sozinho não tece uma amanhã”, assim se deu no meu amanhecer em Serraria, igual a todos outros amanheceres quando muitos galos cantavam. Galos que anunciavam o alvorecer com o sol soltando fios sobre os telhados úmidos pela fina neblina, que esperei ansioso pelo alvorecer.

Enquanto olho para Manoel de Barros e Tolstoi, como modelos de poeta e de escritor, sinto em minhas mãos e no coração o cheiro da terra que alimenta minhas tentativas de aprendiz da arte de poetizar.

Por isso retorno à Serraria, muitas vezes na minha imaginação, carregando comigo o desejo de que o resto do massapê nunca desgrude de minhas mãos, mas inspire a minha literatura.

Há algo de ausente que me atormenta (Camille Claudel) Esse é o título do livro de Andrew Solomon sobre Depressão. É um livro referência ...



Há algo de ausente que me atormenta (Camille Claudel)

Esse é o título do livro de Andrew Solomon sobre Depressão. É um livro referência para esse estado d´alma que se tornou a epidemia do século XXI. Mas não só.

Um tema tabu e que viveu às escondidas, hoje se abrem os véus sobre a do-ença. Perde-se o medo e o pudor de se falar sobre os transtornos de ansiedade e outros picos esquisitos do ser humano. Vi um domingo desses o Dr. Dráuzio Varela em um quadro do Fantástico – Não tá tudo bem, mas vai ficar. Entrevistando famosos e anônimos, que falavam das suas experiências na outra margem do rio. Uma tentativa de mostrar que esses transtornos acometem a todos. Falar é preciso!

A reflexão sobre a melancolia remonta à antiguidade. A palavra vem do grego melankholia e significa bílis negra literalmente. Uma substância do corpo e que em excesso, provocaria uma desordem nos pensamentos. A questão da bílis negra, dos humores e dos seus componentes (sangue, bílis amarela e a pituíta), fazia da melancolia, antes de tudo uma questão biológica. Somente na era moderna, ela vai ser compreendida como uma doença da alma.

Muitos filósofos escreveram obras sobre a depressão. Freud, Luto e Melancolia, para falar do estado melancólico como estado doloroso, de suspensão de interesse pelo mundo externo e depreciação do sentimento de si. Também O mal-estar da Civilização, sobre a dificuldade do homem para ser feliz. A escritora búlgara/francesa Julia Kristeva, Sol Negro – Depressão e Melancolia, argumenta sobre o desamparo. O filósofo, Schopenhauer, Dores do mundo: “a vida é uma guerra sem tréguas, e morre-se com as armas na mão”. E Soren Kierkegaard, O conceito de Angústia – fala do “nada” que nos atormenta. E a nossa Adriana Falcão define melancolia como “uma valsa triste que toca dentro da gente de repente”.

Eu Já tive Depressão! Sei que ela não tem cura, mas a minha experiência, embora extremada, foi pontual. Em ocasiões limites abissais da vida, e por isso, falo no passado. Mas é preciso estar atento e forte! E tomar as nossas precauções.

Primeiro, tive síndrome do pânico. Ainda não conhecia o nome, nem a síndrome. Foi certeira. Muito jovem enfrentava as primeiras perdas do amor e da vida. E o mundo ruía aos meus pés. Sentia-me pequena, frágil e envergonhada. Com uma sensação infinita de fracasso.

Depois tive tudo elevado aos cubos quando viajei para estudar/morar na Inglaterra por quase um ano. Deixara um filho pequeno com menos de três anos, e, sentia-me outsider, diferente, melancólica e triste. Procurei ajuda médica e enfrentei a escuridão. Difícil? Inimaginável.

O pânico teve o seu auge com a doença e morte do meu pai. E aí veio depressão mais profunda. O acordar era sem perdão. Um dia todo pela frente! E entrei no pavor. Fui ler sobre o assunto (Perto das Trevas de William Styron) e procurar ajuda profissional que tenho até hoje. O tempo? Uma abstração em momentos extremados de dor e sofrimento.

Aprendi a me observar, respeitar meus gatilhos, contemplar, perambular, criar tempo para mim, me cuidar, e ler Mulheres que Correm com os Lobos. Sim! e tenho a alegria como norte, mesmo quando a valsa triste toca.