Sem formar ostensivamente no bloco dos saudosistas e, seja como for, respeitando-os, Cícero Lucena, o piranhense que pela quarta vez administra a terceira mais antiga capital do Brasil, não parece estranho a esta (para nós riquíssima) peculiaridade histórica de João Pessoa.
“Eu sou Ishtar, deusa do entardecer. Eu sou Ishtar, deusa das manhãs! Sou Ishtar, que abre e fecha as portas dos céus, o brilho dos céus reflete a minha glória; eu apaziguo os céus, acalmo a terra, para minha glória; sou a que brilha nos céus resplandecentes, cujo nome é brilhante no mundo habitado, para minha glória. Para minha glória, sou proclamada Rainha dos céus tanto acima como abaixo. Para minha glória subjugo as montanhas, eu sou o cume das montanhas.”
O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado.
PandoraO. Redon, S.XIX
A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar.
Pandora era uma princesa da Grécia antiga que recebeu de deuses ciumentos de sua beleza um presente, uma caixa misteriosa. Disseram-lhe que jamais a abrisse. Mas um dia, vencida pela curiosidade e tentação, ela ergueu a tampa para dar uma espiada, liberando no mundo os grandes males: a doença, a inquietação e a loucura. Um deus compadecido permitiu-lhe, porém, fechar a caixa a tempo de prender o único antídoto que torna suportável a infelicidade da vida: a esperança.
Diz o ditado popular que a esperança é a última que morre. Mas poucos de nós recordamos que ela é também a primeira que sempre renasce...
No fundo, a esperança nunca morre, ou, pelo menos, jamais deveria morrer. Para o espírita, a crença na vida futura e na imortalidade da alma facilitam o entendimento sobre as dificuldades cotidianamente enfrentadas pelo Espírito em seu processo evolutivo, por meio das vidas sucessivas.
A Túnica AzulO. Redon, 1892
O princípio fundamental da reencarnação permite ao homem entender que a existência física não é única. Ao longo de sua trajetória evolutiva, o espírito é submetido a inúmeras existências corporais, tantas quantas forem necessárias ao seu completo desprendimento da materialidade, até que alcance o estado de puro Espírito, a que todos estamos destinados.
Submetida à lei de causa e efeito que rege o seu destino, a criatura humana compreende, ao longo das experiências reencarnatórias, que é responsável pelos seus atos e que, por meio da lei de liberdade,
FloresO. Redon, 1903
é livre na hora da semeadura, mas “escrava” no momento da colheita.
Aos poucos compreende que as dores e sofrimentos são decorrentes de suas próprias ações, presentes ou passadas, constituindo-se em valiosas oportunidades de aprendizado, seja pela prova redentora ou pela expiação libertadora.
Não obstante reconhecer-se limitada e imperfeita, já vislumbra, em visão prospectiva, que o porvir pode ser melhor, a depender de suas próprias escolhas, da capacidade de superação de seus limites e do entendimento de que, acima de tudo, reina na natureza a imponente lei de evolução. E esta, mais cedo ou mais tarde, a todos arrebata, despertando o ser humano para a necessidade da prática de ações eficazes que o conduzirão ao seu inevitável destino futuro de paz e felicidade.
Os gramáticos falam em 1ª, 2ª, 3ª pessoas, para os pronomes pessoais eu, tu, ele, respectivamente. De preferência, deveriam falar em pronome elocutivo (o falante), alocutivo (o interlocutor) e delocutivo (a pessoa de quem se fala). Não se trata apenas de nomenclatura, mas de clareza de sentido. Um pronome elocutivo pode ser equivalente a ele/ela; ou pode designar tu ou você; um pronome alocutivo pode equivaler a ele/ela ou eu. O pronome nós, originalmente elocutivo, pode ser pronome de tratamento equivalente a você (excluindo o falante). É o que vamos tentar mostrar neste artigo.
Cem anos de solidão é um romance complexo, dando oportunidade a inúmeras possibilidades de leitura. Não há nenhuma novidade nessa afirmação. Embora seja um dos maiores símbolos do Realismo mágico latino-americano, dele se desgarrou, indo muito além de qualquer classificação que tenha tido a pretensão de prendê-lo. Tentar enquadrá-lo em um movimento estético qualquer é diminuir a magia, sem trocadilhos,
Acordo às 3 da matina e desço para encontrar os amigos da caminhada que se concentram na esquina da Drogasil com a padaria Bonfim. Alguns deles chegam muito mais cedo. Manoel e Hugo costumam estar lá antes das 2 da manhã. Como a farmácia funciona 24 horas é comum acompanhar o movimento dosdesesperados que chegam em regime de
Celyn Kang
urgência à procura de medicamentos. Dói no coração quando descem de seus automóveis carregando crianças nos braços. Memórias de sofrimentos pelos quais passamos outrora.
Encostei os pés na água do mar. Deixei que a espuma encontrasse os meus dedos, entrasse por entre eles, subisse até os calcanhares, acariciasse as raízes do corpo. A leve onda foi e regressou num passeio sobre a terra onde repousa a imensidão do oceano. Os olhos fechados estavam ali e, ao mesmo tempo, corriam alhures. Eu sentia a paz molhar a vida.
Como eu gostava das conversas daqueles três. Pareciam dominar à perfeição temas que dissessem respeito à ciência, à tecnologia, ou à história. Os assuntos mudavam continuamente e, de uma hora para outra, podiam pular dos olhos azuis da dona Amélia, com todo respeito, à energia escura, essa coisa da qual são feitos 95% do universo observável com os recursos tecnológicos modernos. Sim, modernos mesmo, posto que me refiro aos hoje existentes e não apenas aos do tempo dos meus 14 anos, quando eu me fazia ouvinte cativo daquele trio.
POEMAS DO LIVRO “Manual de Estilhaçar Vidraças” (Editora COUSA – 2022)
MANUAL PARA LOUVAR A POESIA
Abençoado o terror dos dedos
entregues à poesia madrugadora.
Abençoado o menestrel
das insurgências absurdas,
das desculpas, do torvelinho,
que late solto pelas cordilheiras.
Abençoado o nascido sonolento,
um passo atrás das urgências.
Abençoado o talo da imensidão
e o machado do corte,
o soletrar dos vícios
na paz dos escombros.
Quando a alegria chega
Faz cara de tempo bom
Aurora boreal
Caleidoscópio
Quando a alegria chega
Cristais de luz
Amanhecer
A alma se dilata
A generosidade
Habita
Não é à toa que chamamos a nossa Era de moderna. A evolução dos tempos pode ser notada em todas as áreas; na medicina, na informática, na astronomia e, principalmente, nas áreas tecnológicas. Este avanço pode ser percebido nas menores coisas. As pessoas que vivem o Século XXI, sem sombra de dúvida, se surpreendem a todo o momento. O fato que vou contar agora se enquadra num destes momentos de surpresa.
De repente, o mundo virtual se tornou excessivamente ruidoso. Ou talvez eu tenha envelhecido demais no último ano.
Mas o certo mesmo é que meus dias andam cada vez mais curtos, assim como a minha paciência com o turbilhão incessante de informações que, em sua maioria, pouco me acrescentam.
Respeito. Essa palavra que muitos desejam, mas poucos a praticam. Esse vocábulo utilizado até por um banco. E precisamos mesmo, de todos os lados. Não como uma mera admiração, que é efêmera, frágil. Tem que ser sólido. E, antes que digam hoje há muito mimimi, é preciso compreender que as pessoas estão é cansadas.