Isolamento é fogo. Tem efeito agravado no transcurso dos dias. Com o corpo preso, a mente ganha asas. Ando a sonhar na brevidade de qualquer cochilo. Sonho com todos e com tudo.
Na véspera do São João, íamos à casa de minha avó paterna. Morava na rua Índio Piragibe. Uma casa de frontão, duas janelas e uma porta, acasalada a outras do mesmo estilo, erguida sobre uma barreira. O rádio no mais alto volume: gente dançando baião, ao som do aparelho ABC. A criançada soltando fogos. A rua embandeirada em papel de seda.
Encantam-me muito os artigos escritos por Germano Romero sobre Música. Germano é pianista, virtuoso, e ensinou música a várias gerações. Sou aficionado por tal propriedade do espírito que, através da combinação de sons, transcende os limites físicos e limitados da condição humana.
Adorava, e ainda adoro, esta época de São João! Amo pamonha, milho e bolo. E a música? O vozeirão de Luiz Gonzaga e de tantos mestres do forró (especialmente dos músicos de pé-de-serra), me deixam louquinha, com vontade de rodar muito no salão.
Quando Gonzaga Rodrigues recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” da UFPB foi, sem dúvida, o grande acontecimento do ano. Por motivo superior à minha vontade, não pude estar presente à solenidade da entrega do valoroso título ao estimado conterrâneo.
O estudo contínuo da obra de Augusto dos Anjos dá-me a certeza para dizer que, contrariamente ao que muitos pensam e apregoam, o autor de Eu não é o poeta da morte, mas do renascimento. A morte – “a alfândega, onde toda a vida orgânica/há de pagar um dia o último imposto” (Os Doentes) – é apenas um processo de transição a que matéria se submete e, tendo passado pelas agruras da degradação e do sofrimento, liberta o espírito para, enfim, buscar o renascimento, através de uma nova vida, em que os erros da anterior devem ser deixados para trás.
Era uma mesa de cozinha. Sempre forrada com uma toalha de plástico com desenhos de frutas bem coloridas. A luz da janela acentuava aquelas cores tão quentes quanto os móveis dos filmes de Almodóvar.
Saiu na mídia a informação de que os generais do governo Bolsonaro passaram a sugerir a recomposição da equipe com um ministério de notáveis. Será que resolve?
Ao longo da vida na casa de meus pais eu criei diversos bichinhos. Tive um pombo chamado Carlitos, por causa dos seus pés na posição de 15-pras-3. Ele era muito romântico. Desenvolveu um amor platônico pela sua imagem numa cristaleira velha, onde ele morava. Como mamãe não queria bichos dentro de casa, deu fim à cristaleira e Carlitos foi morar no galinheiro: apaixonou-se por uma galinha!
Saía de casa de mãos dadas com Carlos para a nossa caminhada antes das 7 horas da noite, ainda com o parque aberto, porque o sol batia a montanha pelas costas, mas ainda estava longe de chegar ao seu poente pacífico.
O politicamente correto chegou às cantigas infantis. A partir de agora devemos ter muito cuidado com o que cantamos para as crianças. Uma simples canção de ninar pode embutir um significado nocivo, capaz não só de amedrontá-las como também de marcar-lhes negativamente a personalidade.
Os plátanos vivem séculos. E há séculos embelezam o mundo. Solenes, ornamentais, margeiam memoráveis boulevards, bordejam praças e parques monumentais, marcam e simbolizam paisagens que definem com singularidade a beleza de cada estação.
Essa indagação está na letra de uma canção composta por Vinicius de Moraes e Carlinhos Lyra. O fato é que a humanidade nunca se preocupou em responde-la com objetividade. Há pouco mais de dois mil anos, esteve entre nós quem buscou colocar na cabeça dos humanos o verdadeiro sentido do que seja a palavra amor: o filho de Deus feito homem, Jesus Cristo.
Nhô Augusto Matraga, depois de levar uma surra de largar o choco, apanhando mais do que mala velha para tirar o mofo, tendo sido ferrado, pulado de um barranco, dado como morto e cuidado por um casal estranho, recobra a consciência e decide que deve mudar de vida. O seu intuito com a mudança? Entrar no céu, nem que seja a porrete.
Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e grandes significados no romper dessa página de calendário. O mês da colheita, que dois mil e vinte já prometera fartura a partir de março (no dia de São José), vinha sendo esperado desde as chuvas que garantiram o bom desenvolvimento das culturas agrícolas; milho e feijão abundam nos tabuleiros e várzeas, planuras que se viram enfeitadas com o abonecar das plantações.
Açudes sangram; no sertão, Coremas e São Gonçalo recebem o líquido precioso desde janeiro; Camalaú e Cordeiro, no Cariri, também se enchem de água e vigor e o Epitácio Pessoa, nosso Boqueirão, se destaca: saiu de 15% em janeiro para 70% em primeiro de junho. Porém, não entramos o mês da maneira que sonhávamos.
Ao longo da história nossa civilização desenvolveu uma multiplicidade de correntes religiosas bem diferentes entre si. As três religiões majoritárias do Ocidente, isto é, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo, possuem uma concepção da divindade bem diversa da que é aceita pelas religiões orientais, tais como o Budismo e o Hinduísmo. Além disso, a chamada “verdade revelada” tem uma importância muito maior no Ocidente do que no Oriente. Mas, mesmo dentro da mesma religião existem diferenças enormes entre algumas vertentes.
O tal do eu, primeira pessoa do singular, é tão complicado na vida como na escrita. Salvo os vaidosos exacerbados ou os megalomaníacos patológicos, normalmente as pessoas têm um certo pudor, uma certa parcimônia no uso do pronome eu. É comum um certo temor de parecermos, aos olhos dos outros, alguém autocentrado, que só enxerga o próprio umbigo. E, pensando bem, é bom que seja assim, já que costumamos, nós próprios, rejeitar os que se comportam dessa maneira reprovável. Os europeus educados são muito bons nessa arte civilizada de ocultação do eu, principalmente, creio, os ingleses, talvez a gente mais discreta do planeta. Um inglês de verdade jamais demonstra em público suas emoções, ou seja, jamais escancara o eu profundo publicamente. Isso fará bem ao corpo e à alma? Não sei. Mas que parece polido, parece, pelo menos nos livros e nos filmes.
Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamando a atenção como adentrava na redação de O Norte, pela elegância corporal e inegável cultura. Lembro-me dele como o cronista da emoção e poeta da paixão que a professora Ângela Bezerra de Castro tão bem descreve.
Não será numa homenagem de formato multi-seccionado, contemplando vários temas e referências numa mesma agenda, que se faria, a contento, uma abordagem mais ajustada ao perfil de intelectual e de mestra escritora de nossa Ângela Bezerra de Castro.