Ao longo da vida na casa de meus pais eu criei diversos bichinhos. Tive um pombo chamado Carlitos, por causa dos seus pés na posição de 15-...

A evolução dos bichos (II)

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Ao longo da vida na casa de meus pais eu criei diversos bichinhos. Tive um pombo chamado Carlitos, por causa dos seus pés na posição de 15-pras-3. Ele era muito romântico. Desenvolveu um amor platônico pela sua imagem numa cristaleira velha, onde ele morava. Como mamãe não queria bichos dentro de casa, deu fim à cristaleira e Carlitos foi morar no galinheiro: apaixonou-se por uma galinha!

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Adão foi um rato branco que Zé Arnaldo Tavares me deu. Os seus olhos pareciam dois rubis, de tão vermelhos. Lindo ratinho. Mas as minhas irmãs e as garotas da época não gostavam muito, num sei por quê.

Ele era muito inteligente. Morava no alto do meu guarda-roupas. Quando chegava da aula, eu o chamava e ele descia do guarda-roupas e vinha brincar comigo, igual a um cachorrinho: corria, pegava alguma coisa e voltava, se mostrando.

Papai costumava ler até tarde em sua poltrona, no quarto. Nas noites frias Adão subia pela sua calça, entrava no bolso do pijama e adormecia. Quando papai ia se deitar, delicadamente depositava Adão sobre o guarda-roupas.

Outro bicho inesquecível foi Gal Costa, uma sagui que Francisca Luiza ganhou, e que também passou a habitar o meu quarto. Ela tinha esse nome devido ao penteado igual aos Novos Baianos. Rodava pela casa toda me procurando. Para escapulir do cachorro, subia na goiabeira e fazia caretas para ele. Ou mostrava-lhe o fundo, o que irritava mais ainda o Lobo.

Às vezes ao almoçarmos, para horror de mamãe Gal Costa subia pelas pernas de papai e aparecia sobre a mesa. Escândalo! Papai achava muito engraçado, e tranquilamente levava Gal Costa para a pitombeira.

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Após o científico eu me dediquei ao curso médico. Com isso passava mais tempo fora de casa. Nesse ínterim meu irmão Francisco Júnior ganhou Galileu do nosso cunhado, Apolônio, e o criou.

Anos depois, já de volta a João Pessoa, com filhos e morando em casas, veio a vontade de tornar a criar cachorros e gatos. Mas como Ilma não gostasse, anos a fio evitei. Até que a sua prima Fátima Pires, e Saulo Nóbrega, deram para meu filho Henrique um fila enorme, que foi batizado por Bano.

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Por ser grande demais, foi criado mais como cão de guarda do que como cachorro. Quando o soltávamos, à noite, ele urinava nos pilares dos dois portões e nos quatro pneus de cada carro, marcando território.

Até que um dia o bichinho adoeceu e morreu. Ilma disse que não queria mais bicho dentro de casa. Eu acho que ela afeiçoou-se muito, e sofreu com a morte de Bano, pois ela o tratava muito bem. E não queria mais passar por essa má experiência.

Mas o mundo dá as suas voltas: pois não é que meu amigo Leonardo Marconi deu uma cachorrinha preta para Ana Laura? Ilma teve de aceitar Laika Maria.

E, a pedidos dos outros dois filhos, comprei uma cadela boxer marrom-avermelhada, que batizei Chimba de Fátima. Foi uma homenagem a um grande amigo da família, Alberto Teixeira, cujos filhos eram (e até hoje são) todos nossos amigos.

Pois Seu Alberto Português, como era chamado, criava uma boxer lendária, Chimba, idêntica à nossa futura cadela. Ela era fidelíssima a ele, ora se comportava como sua sombra, ora como se fosse o seu tapete. Chimba brincava com a gente, desde que não chegássemos perto dele.

Chimba! Se você morder o padre você vai para o inferno de cabeça pra baixo!
Nas memoráveis festas de São João dos Teixeira a fogueira tinha a altura da casa. Mabel marcava a quadrilha na sanfona. Fernando e Beto soltavam fogos que eu acho que compravam no quartel, de tão pesados: morteiros e bombas que mais pareciam dinamites, eu acho. E os buscapés pareciam jatos. Pois Chimba não tinha medo de bomba, e corria atrás do buscapé até pegar, queimando-se.

A minha Chimba também fez história na nossa casa. Foi a grande companhia da infância dos meus filhos, junto com Laika e Tom. Chimba era muito dócil, mas fingia ser braba. Só tinha zoada e cara feia.

Certa vez, quando Padre Juarez Benício nos visitou, Chimba disparou para cima dele, latindo. Só parou quando eu gritei:
“Chimba! Se você morder o padre você vai para o inferno de cabeça pra baixo.” E ela parou.

Henrique era quem fazia os partos dela. A primeira ninhada foram 12 cachorrinhos. E a segunda foram 10. Haja peito!

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Nós criamos gatos, também. O destaque foi Tom, um belo e inteligente gato que Ricardo adotou. Ele era boa praça, chegou lá em casa ainda adolescente se deu muito bem com Chimba e Laika.

Tom também era mulherengo, farrista, galã das gatinhas do Manaíra, onde moramos por 15 anos. Às vezes Tom sumia por 3, 4 dias. Quando pensávamos que não voltaria mais, ouvíamos dos telhados em torno, longe ainda, o seu miado característico, anunciando a chegada.

Mas ele fazia charminho e não descia logo. Deitava-se sobre o telhado de Chico e Chiquita, e ficava se lambendo, olhando para as cachorras ansiosas, cá embaixo. E nós também, ansiosos para saber em qual estado ele se encontrava. Até que ele descia. Chegava imundo, o paletó todo amarrotado, marcas das últimas conquistas.

Um dia ele partiu para outra farra. Esperamos três, quatro dias. Uma semana. Nunca mais voltamos a vê-lo. Tom deixou muitas saudades.

Observando os gatos da minha vida, eu acho que na outra encarnação eles devem ter sido cientistas, pois são extremamente curiosos. Da Vinci, por exemplo, deve ter voltado na forma de gato. Já os cachorros têm um ar professoral.


José Mário Espínola é médico e escritor

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