Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e gr...

O mês de junho

thomas bruno oliveira campina grande maior sao joao do mundo ambiente de leitura carlos romero pandemia confinamento cariri acudes sertao

Com o mês de junho, toda aquela força revigorante que toca sensivelmente nossos corações, a singela centelha das tradições, traz novos e grandes significados no romper dessa página de calendário. O mês da colheita, que dois mil e vinte já prometera fartura a partir de março (no dia de São José), vinha sendo esperado desde as chuvas que garantiram o bom desenvolvimento das culturas agrícolas; milho e feijão abundam nos tabuleiros e várzeas, planuras que se viram enfeitadas com o abonecar das plantações.
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Açudes sangram; no sertão, Coremas e São Gonçalo recebem o líquido precioso desde janeiro; Camalaú e Cordeiro, no Cariri, também se enchem de água e vigor e o Epitácio Pessoa, nosso Boqueirão, se destaca: saiu de 15% em janeiro para 70% em primeiro de junho. Porém, não entramos o mês da maneira que sonhávamos.

Um inimigo oculto se espalhou pelo mundo inteiro feito rastilho de pólvora, fechando os olhos de gente aos montes, sem distinguir exatamente nenhum povo, nação ou etnia. Desde meados de março que vivemos sob o signo do medo e readaptando nossos costumes tolhidos pelos necessários cuidados com a saúde, protocolos higiênicos nos mantém reféns da lavagem corriqueira de mãos e objetos, álcool gel (70%!), uso de máscaras, cuidados extremamente necessários para o não contágio, embora não seja a garantia. A pandemia causada pelo novo corona vírus deixou o mundo inteiro atônito e de joelhos, impondo consequências sem precedentes, como no sonho de Raul Seixas: “Foi assim, no dia em que todas as pessoas do planeta inteiro, resolveram que ninguém ia sair de casa, como que se fosse combinado em todo o planeta” e curiosamente, a terra parou. Nosso cotidiano foi rapinado. E o que pensávamos durar duas ou três semanas, virou meses e, a exemplo de pandemias passadas, poderá durar muito mais que isso.

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O convívio com os nossos foi arrebatado, sem escolha, sem questionamento, e nos vemos em casa, assustados é bem verdade, mas no núcleo familiar. A prioridade é sim a saúde, a vida. Tudo que vem a frente pode ser recuperado. Sem vida não há mais o que fazer, não é verdade?

A história nos mostra que em momentos terríveis como esse, causado por pandemia ou guerra, o processo histórico é acelerado. Debates e mais debates discutiam sobre ensino remoto, por exemplo, e de uma hora para outra, todo mundo está impedido de sair de casa e obrigado a interagir por ferramentas digitais, esse é só um exemplo de como os costumes estão sendo moldados nesses tempos difíceis. E em consideração a encontros virtuais além dos bate-papos da vida, isso irá se tornar cada vez mais realidade de agora em diante. Sem falar nos estrangeirismos “home-office” e “delivery”, palavras do momento que significam o trabalho em casa e a entrega em domicílio.

Teremos uma festa de São João diferente das realizadas nas últimas quatro décadas
Os ensinamentos serão inúmeros, não só neste momento, como no pós pandemia e, refletindo muito sobre o São João e as festas juninas, presumo que essa será uma grande oportunidade de retomarmos algo genuíno que ao longo dos anos perdíamos, a aura mágica e simbólica da festa junina no seio familiar. Campina Grande tem uma tradição de festejar sua maior festa desde pelo menos o século XIX. Cronistas nos legaram informações de festanças ao redor de fogueiras na companhia de rojões e busca-pés que iluminavam o céu da povoação. Na zona urbana de Campina se acreditava na superstição de que o diabo vinha dançar no terreiro das casas onde as fogueiras não ardiam na noite de São João. Minha infância, no início dos anos 1990, era repleta delas.

E não houve a noite da grande abertura da 38º d’O Maior São João do Mundo, reunindo milhares de pessoas no Parque do Povo. Com seu adiamento, que a princípio será levado para os trinta dias entre outubro e novembro (se até lá a pandemia estiver contida) teremos uma festa de São João (agora em junho) diferente das realizadas nas últimas quatro décadas, pois nessa, não havendo a mão da municipalidade e sem as festas privadas dos clubes e casas de show, a festança voltará a ser exclusivamente espontânea e capitaneada pelas famílias. Entretanto, teremos o ‘São João de Campina em sua casa’ que será o primeiro programa “live” junino do país com shows transmitidos pela internet. Campina inovando como sempre.

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Com todas as medidas sanitárias, mesmo recônditas, a parentela fará sua festinha particular, rememorando a tradição junina. As fogueiras, que vinham ano a ano diminuindo, poderão ter seu o auge das últimas duas décadas, mesmo que a Prefeitura sabiamente as proíba, pois, a fumaça pode agravar os problemas respiratórios de quem se encontra em quarentena devido o contágio do Covid-19, mas o que dizer de uma população transgressora que, em parte, tem subestimado o risco do vírus e ocupado as ruas em detrimento do confinamento?

Certo mesmo é que essa será uma grande oportunidade de retomar a tradição, elevando os costumes gastronômicos e musicais que vinham sendo deixados de lado.

Feliz São João para você!


Thomas Bruno Oliveira é mestre em história e jornalista

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