A  poetisa Cecília Meireles, no seu poema “Leilão de Jardim”, pôs à venda o seu rico jardim, fonte permanente de suas inspirações. ...

Cena num jardim


poetisa Cecília Meireles, no seu poema “Leilão de Jardim”, pôs à venda o seu rico jardim, fonte permanente de suas inspirações. Não sei se alguém chegou a comprar o pequeno paraíso da poetiza. Poetiza, sim, e jamais “poeta”, como costumam chamar determinados críticos.
Mas vamos ao poema, que começa assim: “Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos?” E me vem a interrogação, por que diabo ela colocou à venda o seu jardim? Aqui, no edifício onde moro, há um jardim que, além de ser aguado, todos os dias, também recebe dos que passam pela calçada, um olhar de admiração, a começar pelas crianças, que chegam a puxar o braço das mães, chamando-as para a contemplação daquele recanto poético. Ah, leitor, como faz bem à alma dedicar alguns minutos a um jardim, a um bosque, a um mar, a um céu estrelado, a uma noite de luar! E nesse contemplar, muitos problemas são suavizados. Não esqueçamos que Jesus nos deu aquela lição para “olhar os lírios do campo”...
Nos poucos instantes que demoro o olhar no jardim de meu prédio, quantas coisas me maravilham. Ora vejam só aquela fila de formigas caminhando em direção de seu buraco residencial... Quanta ordem. Nenhuma se atreve a passar na frente da outra. As formigas, numa disciplina admirável, vão carregando, em silêncio, folhas que arrancaram de algum lugar. E fazem muito bem. Retiro o olhar daquelas admiráveis trabalhadoras, pois quem acaba de chegar ao cenário é a senhora lagartixa, que, vez por outra, balança a cabeça como a dizer na sua mudez: “Que beleza de espetáculo!” Mas o que encanta mesmo são estas borboletas no seu balé mudo. Como sabem beijar as flores e delas extrair o precioso suco. Os pássaros também participam daquele paraíso.
Mas o sol está esquentando muito, querendo também participar daquele momento poético e terapêutico. E as crianças que passam na calçada, puxando as mães pela saia, a dizer: “espie mãe. que beleza”. Mas a velha está com a cabeça tão cheia de problemas que só faz dizer ao filho curioso: ”Vem, menino, que já estou atrasada”.
Esquece que a pressa é inimiga da reflexão, da contemplação...

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