A qui para nós, eu nunca vi em minha longa vida, uma amizade tão profunda, tão reverencial, da parte do neto. Mas qual o neto que tem a feli...

O avô e o neto

Aqui para nós, eu nunca vi em minha longa vida, uma amizade tão profunda, tão reverencial, da parte do neto. Mas qual o neto que tem a felicidade de ter um avô como aquele? Um mestre por excelência, integro até demais, incapaz de um deslize, que, como Secretário do Interior de nosso Estado, me impressionou pelo zelo com a coisa pública. E eu fui seu assessor. Assessor e aluno ao mesmo tempo. Ele, vez por outra, me chamava para ouvir um de seus eruditos arrazoados. Tinha grande confiança em mim, e isto fazia aumentar ainda mais minha responsabilidade.
E sabe de uma coisa? Foi ele quem arrumou o meu primeiro emprego, depois de formado. Nomeou-me Juiz Substituto de Santa Rita. E para quem estava necessitado de prática forense, aquela nomeação foi um maná do céu.
Mas já é tempo de revelar o mestre e amigo, não esquecendo o talentoso neto: Osias Gomes e Cleanto Gomes Pereira, hoje advogado de nota e cronista.
Osias muito me impressionou, não só pela cultura, como pela ética. Profundamente religioso, conhecia a Bíblia palavra por palavra. Escreveu uma excelente biografia, sob o pseudônimo Baruque. Fez parte de nossa Academia de Letras, aumentando ainda mais o conceito daquela magna instituição.
Osias Gomes foi um exemplo de conduta e cultura. Escrevia com uma invejável presteza, enchendo laudas e mais laudas de papel.
Mas cometeria uma injustiça se esquecesse de mencionar, aqui, o belo trabalho biográfico, de autoria do neto Cleanto, e que me chegou às mãos como uma dádiva. Um trabalho que vale por uma enciclopédia sobre o ilustre e querido avô. Presente do neto privilegiado. Trata-se de “Permanência de Osias Gomes”, que nenhum paraibano pode deixar de ler.
Osias era todo dinamismo, nunca estava parado. Perspicaz, às vezes irônico. Lembro de um fato que dá a medida de seu humor. Fomos a Pilar, numa homenagem a José Lins do Rego. Uma comitiva ilustre, a maioria de membros de nossa Academia. No alpendre da casa, onde nos hospedamos, podia faltar tudo, menos amendoim, já torradinho sobre uma larga mesa. Porém, ninguém quis prová-lo. Mas, Osias, observador, cochichou-me aos ouvidos, sorrindo: “o padre foi a exceção”. Sim, um sacerdote, que não me lembro quem, fazia parte da comitiva, e comeu muito amendoim.

 Assim era Osias, culto, cheio de idéias, sincero e com grande apetite para a vida.

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