Dispomos de uma padaria do outro lado, no fim da avenida Santa Catarina, que vende revista. Com a morte de Régis, o Ponto de Cem Réis fec...

Corrente do bem

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Dispomos de uma padaria do outro lado, no fim da avenida Santa Catarina, que vende revista. Com a morte de Régis, o Ponto de Cem Réis fechou uma banca, encerrou um comércio que nem a História da Imprensa de José Leal diz quando começou. Antes de perder Régis, o item jornal já não tinha o que fazer no seu ponto tradicional. A outra banca vizinha ao Viña del Mar, olhando a Lagoa, é que ainda mantinha a sobrevivência de alguns títulos. Depois, com a pandemia, adeus jornal ou folha do gênero, daqui ou de fora. Não deixaram apenas a banca, aposentaram os prelos.

E fiquei forçando a vista na telinha cintilante que me empasta a leitura. Felizmente, as mãos que fundaram A União parecem unidas às que levantaram o templário sagrado da colina. Não será por outra que o sobrado de Gama e Melo ainda se mantém no que resta das rachadas paredes destelhadas.

Um parêntesis: a história desse homem do fim do Império e começo da República não me deixa passar imune a esse nome ou pelas ruínas do seu sobrado. Nada com o governante de mais de um mandato, nem mesmo com o latinista maior ou pelo jurisconsulto da biografia escrita por Joacil de Brito. Mas por um gesto sem estátua, sem foto, apenas um para não falar de outros que o caracterizaram: era catedrático do Liceu e veio a hora em que ficou debaixo na política e no tratamento do diretor de então. Afastou-se. A roda gira e doutor Gama e Mello assume a presidência, escolhe os auxiliares, mas sem tocar no Liceu. Seu desafeto, da mesma têmpera, pede audiência e lhe entrega o cargo. E ouve, sem qualquer menção ao incidente: "Faça-me o favor de voltar para o lugar de onde nunca poderia sair; não devo ter outro mais competente e honrado."

Havia disso e de outras atitudes estranhas aos leitores de hoje, as quais, não sei a que propósito entra nesse meu reencontro com a Veja. Da revista antiga parece só manter o nome e a logomarca. Também as coisas e os autores são inteiramente outros.
Por onde anda o último dos grandes estilistas das páginas de opinião, Roberto Pompeu de Toledo? Das minhas leituras resta Dora Kramer.

Tudo me parece estranho. O ministro da Justiça que aparece nas páginas amarelas eu não sabia que é esse. Delegado federal, senta e me encara como se eu fosse algum acusado.

"Se o presidente está sem máscara e se expõe, cabe a quem está perto dele se cuidar." - é o que leio.

A carta ao leitor é dedicada à filantropia de R$ 7 bilhões surgida com os 400 mil mortos do Covid-19. O "andar de cima" se comoveu e sacrificou R$ 7 bilhões dos R$ 21,6 bilhões de lucro líquido (só dos quatro primeiros bancos), no primeiro trimestre deste ano, nada menos que 46% em comparação com igual período do ano passado.

Conclui a revista: "Tomara que a pandemia, tão nefasta ao ceifar a vida de milhares de brasileiros, deixe ao menos esse legado positivo por aqui." É a "corrente do bem" da matéria de capa.

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