Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, — a inspiração, — a pátria. O porvir do teu pai. Fagunde...

Meu 9 de Setembro

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Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, — a inspiração, — a pátria. O porvir do teu pai.
Fagundes Varela

Se meu dileto leitor e a minha cara leitora fizerem uma pesquisa apurada, verão que o 9 de setembro é um dia absolutamente sem importância em nosso calendário. Por aqui nada relevante. Consta-me que lá na Turquia, na localidade de Esmirna, celebra-se a reconquista da cidade que estava sob o domínio dos gregos e que marca o fim da guerra Grego-Turca que matou muita gente entre 1919 e 1922.

Descobri que lá no distante 1828, nasceu Leon Tolstoi, quem eu, numa visão muito particular, coloco entre os cinco maiores escritores de todos os tempos. Se alguém gosta de efemérides não custa lembrar que em 1543, Mary Stuart, aos nove meses de idade, é oficialmente coroada Rainha da Escócia na cidade de Stirling; isso também, é claro num 9 de setembro. Nesse dia, em 1976, Mao Tsé Tung, o “Grande Timoneiro”, perverso ditador chinês, foi falar com Deus em Quem ele não acreditava nem um pouquinho.

Há outras celebrações nesse dia; fazem aniversário o cantor romântico-sertanejo, Daniel, nascido lá em Brotas no interior de São Paulo (1968), a cantora Ana Carolina (1974) e o ex-jogador Neto, que hoje é um espevitado comentarista esportivo, nascido em ano que desconheço. Parece que o cowboy-empresário Beto Carreiro, já falecido, é do mesmo dia.

Por aqui se comemora o dia do médico veterinário e do administrador. Fui descobrir que nesta data foi inventado cachorro quente. Há outras coisinhas de pouca monta que ocorreram num 9 de setembro, já dois dias antes, no 7, celebramos nossa independência, e três mais para trás, no 6, é o dia do sexo. Aliás, em nosso país temos dias para quase tudo, até dia do cotonete, 26 de junho.

Voltando ao 9 de setembro...

Para mim é um dia diferente, dia de saudade. Recolho-me. Tenho pouco ânimo para trabalhar ou escrever. Ocupo-me apenas das plantas e dos bichos que possuo porque dos meus cuidados dependem suas vidas. Nem uma leitura furtiva para meus olhos ou uma música para meus ouvidos. Quero mesmo é ficar só e tentar buscar em algum cantinho da alma um lampejo de encantamento.

Amanhã, quinta-feira, para nada contem comigo. No dia seguinte retorno à vida e tento dar um colorido a tudo que faço. Vou explicar essa minha conduta quase monástica no dia 9. Lá no não muito distante 82, quase quatro décadas atrás, estava eu casado e com duas maricotas, uma 6 anos, outra de 4 e a mulher com uma barriga daquelas dando entrada na maternidade para trazer à luz a mais um bacuri, dos sete que a vida me deu de presente. Levei muito a sério aquela premissa do texto sagrado: “Crescei-vos e multiplicai-vos”. Fiz a minha parte, ou não fiz?

Naqueles tempos não havia essas modernidades de ultrassom para se saber antecipadamente o sexo da criança,. Sempre a expectativa na hora do parto. Eu ali. Viria outra cabritinha ou daquela vez iria aparecer o tão esperado bodezinho? Findo o parto, Maitê, a enfermeira e conhecida da família, me chamou à janela envidraçada do berçário com um pacotinho à mão enrolado por cueiros e fraldas. Foi desenrolando aquela trouxinha para me mostrar
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o sexo da criança. Era um menino!

Demos a ele o nome de Cauê.

Cresceu e gostava de ser amigo dos meus amigos, sentíamos orgulho e admiração um pelo outro. Tínhamos uma paixão em comum: a Paraíba. Quando retornei uns tempos para São Paulo, Cauê quis continuar aqui e foi cursar engenharia na universidade. Tínhamos muitos planos para os amanhãs que não aconteceram.

Foi então, numa manhã azul de um dia de Natal, diante dos meus olhos que o mar da Paraíba o roubou de mim. Por que? Por que logo aqui, no chão que ele tanto amava? Há muitos porquês sem resposta.

Mesmo essa saudade lancinante não consegue descolorir as vinte e uma primaveras que passamos juntos. Então, meu filho, o 9 de setembro é dedicado às nossas lembranças. Nada quero que interfira nessas doces recordações. Quem me vê casmurro, recolhido nesse dia não imagina quão longe minha alma viaja... Quão perto de você estou.

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