Quando apareceram onze esqueletos, infantis na maioria, em pequena caverna da Serra da Raposa, a palavra de León Clerot foi a primeira a ser requisitada. Era o homem do museu das Trincheiras, cheio de queixas do governo de José Américo, a quem acusava de não lhe dar apoio. Fui destacado por Octacílio de Queiroz, de A União, para escalar o penhasco onde já começava, mesmo inacessível, uma espécie de romaria. “Osso não tem idade, mas isso ou sobrou do cólera ou da guerra de tribos” – alvitrou o coronel Elias Fernandes, delegado de Campina, chefe da expedição a que fui me incorporar antes da chegada do antropólogo. Foi minha única reportagem de repercussão fora da Paraíba, reescrita pelo O Cruzeiro, sem menção ao autor e à fonte originais.
Mas voltando à Serra da Raposa, vista de longe por quem passa para o Sertão, onde conheci Zé Elias Borges, que surgiu não sei de onde para conhecer o velho Clerot. Por estranho que pareça, é lembrança que me acode agora diante de entrevista na tevê com a gente da periferia paulistana a sair atrás de cavaco, restos de tábua e papelão para a lenha dos fogões improvisados que a alta do gás trouxe de volta. O fogão das brenhas remotas da Serra da Raposa, as trempes de pedra reconstituídas ao pé dos vitrais mais exuberantes do nosso capitalismo.
E devo ser, certamente, pois senti qualquer coisa de reencontro ao ver a tribo que o capitalismo vem aumentando em busca de lenha para ferver a boia generosa distribuída, liberalmente, sob os focos mundiais da televisão. A panela fervendo na brasa fofa do graveto, do cavaco, do lixo como se a carta de Getúlio voltasse a seu tempo: “Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras...”