A vida é mesmo um quebra-cabeça, como aqueles da infância. Cheio de pedacinhos que a gente vai montando com o tempo, com as lembranças, co...

Tudo isso passará

A vida é mesmo um quebra-cabeça, como aqueles da infância. Cheio de pedacinhos que a gente vai montando com o tempo, com as lembranças, com os fatos. Mas não é um quebra-cabeça estático, que quando se completa, a gente exclama satisfeito: “consegui!”

No joguinho da vida, à medida que a gente vai juntando as peças, outras escapam da vista, vão sumindo. As pessoas queridas, as crianças que nascem, novos amigos, companheiros, inserem-se no rol dos amores, como pedaços que se somam ao panorama a prosseguir sendo montado.
Zhu Jia Bin
Outras vão partindo, desaparecem da paisagem, e, súbita ou vagarosamente, afastam-se sem deixar que as peguemos de volta. Com certa angústia, nos vemos incapazes de poder resgatá-las, sobretudo as que desaparecem, lentamente, sob nossas vistas.

Há as que partem inesperadamente. Causando-nos surpresa impiedosa, fazendo-nos entender que da vida pouco se entende. São perdas dolorosas pelo impacto da imprevisibilidade, que nos deixam sem ar, sem chão, quase sem fé...

Mas aquela alegria experimentada quando nós, crianças, terminamos de armar o colorido quebra-cabeça, no jogo da vida é bem diferente, é quase impossível. Afinal, seguimos bailando em eterna espiral. Não há ilusão no tempo, nem como supô-lo finito...

O segredo é manter-se atento, vigilante, prestando atenção ao desenrolar dos fatos e das coisas, ao entender de outras gentes, de outras vidas, de outras eras, da nossa própria história, até onde a memória e o conhecimento humano já conseguiram alcançar.

O conhecimento não deve ser apenas lido, degustado pela emoção, somente por prazer. O saber adquirido precisa brotar das reflexões, florescer com a serenidade, com a expansão progressiva da consciência. Então começamos a perceber a versatilidade, a efemeridade, a fluidez etérea que molda o quebra-cabeça da existência. E então aprender a melhor maneira de apreciar a paisagem que está montada à nossa frente, deliciando-nos com o instante presente, e dele tirar o melhor proveito.

Sem esquecer, claro, que, logo mais, algumas peças sairão de cena e outras surgirão pedindo um lugarzinho em nosso espaço. Cabe a nós saber encaixá-las nos seus devidos lugares, para que a harmonia do cenário não se perca.

Ross Sneddon
Isso faz lembrar um ensinamento de um sábio, que nosso amado pai costumava mencionar entre as boas conversas sobre filosofia: Um discípulo chega ao velho monge e lhe pergunta qual o segredo da felicidade? O sábio lhe pede um lápis e um pedacinho de papel. Baixa a cabeça, escreve algo, dobra-o serenamente e entrega ao discípulo, recomendando: "Não leia agora, guarde-o consigo e preste atenção. Toda vez que você se sentir extremamente feliz, por qualquer que seja o motivo, abra e leia o que aqui está escrito. Da mesma forma, quando a tristeza, a angústia ou o desespero baterem à sua porta, lembre-se do papelzinho e leia-o novamente.

O monge se recolheu e o discípulo partiu. Contudo, não conteve a curiosidade. Mais adiante, resolveu ler o que havia sido escrito pelo sábio. Ao abrir, estava lá apenas a curta frase: “Tudo isso passará”.

Concluiu verdadeiramente que ali estava o segredo da felicidade: conquistar a permanente consciência de que vivemos um filme sem pausas, um fluir constante e mutante. Na dor, devemos lembrar – Isso passa! No auge do contentamento, a mesma coisa: Isso também passará. Só assim aprenderemos que a vida é um jogo de quebra-cabeça, impossível de concluir, tão belo que não tem fim...

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  1. Excelente, Mano ! Em tudo na vida , essa frase é esperança , fé e sabedoria

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  2. Muito obrigado por sua leitura, minha prima-irmã querida. Aprendamos sempre com a vida!

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