É um dia normal de abril, o céu está com algumas nuvens, mas a temperatura segue abafada e qualquer rasgo de vento que bate vindo do leste é como mãos macias acariciando cabelos, rosto, o corpo pensativo e caminhante. A música suave ecoa na mente como em ondas que se aproximam e se afastam ao ritmo da maré dos pensamentos.
As imagens surgem em sequências e significados. As águas da Lagoa, as manchinhas brancas das garças, as palhas das palmeiras seqüenciadas como uma grande ciranda verde, minúsculos veículos em movimento de várias cores. E as fachadas, os desenhos dos rostos das pessoas, a vida que acorda enquanto outra a vida noturna adormece.
Os passos avançam as pernas mais por rotina do que um comando específico. E cada metro adiante uma revelação do já visto. As torres das velhas igrejas emanando “fés”, pecados, salvações e ritos e belezas. Mil perdões. Pois, surgem ruas como nomes de padres, generais, duques e princesas, praça denominada de ponto, palácios em alicerces de histórias. Por ali, também há pessoas de joelhos pelos recantos, olhando de canto.
A cidade passeia pelas pessoas, captura o indivíduo. O caminhante encurta as distâncias ao longo da vida e sempre reencontra com os lugares. Bica, praias, ruas, praças, prédios, como o grande ancoradouro do saber que é o Lyceu Paraibano, o Paraíba Palace Hotel, as igrejas.
E tudo flui como um rio que se renova ou mesmo envelhece. A corrente passa e não há como aprisionar a vontade do seguir em frente. E as coisas comuns são traduções de mundos complexos. Pois, há um mundo em cada cabeça, em todo rio que é uma pessoa.
As ruas em fluidez constante trafegam e cortam as vidas. Em suas janelas são espelhadas coisas comuns do mundo, que passam na corrente célere inversa. São reflexos invertidos da realidade que distorce a cena e criam até poeticidades, muitos estranhamentos. E até a água empoçada da chuva dá contornos e pinceladas de uma tela maior, de uma pintura graciosa.
As pernas, firmes, nadam pelo asfalto, pelas calçadas, fazem seguir o rio da vida. Levam e trazem, obedecem e desobedecem a comandos imaginativos ou imaginários. Trilham por terrenos vastos da urbanidade de cada um. Pavimentam, ou melhor, plantam as pegadas do pertencimento aos espaços.